30/12/2025, 13:53
Autor: Laura Mendes

A partir de 1º de janeiro de 2024, os habitantes de Utah serão proibidos de utilizar o programa de assistência alimentar conhecido como Supplemental Nutrition Assistance Program (SNAP) para a compra de refrigerantes. A decisão, anunciada por legisladores estaduais, visa enfrentar questões crescentes relacionadas à saúde pública, especialmente a obesidade e outras doenças associadas ao consumo excessivo de bebidas açucaradas. A medida, embora cercada de polêmica, busca iniciar uma mudança nos hábitos alimentares e incentivar escolhas mais saudáveis entre os beneficiários do SNAP no estado.
Estatísticas alarmantes sobre o consumo de refrigerantes nos Estados Unidos indicam que aproximadamente 22% das calorias consumidas por adolescentes e adultos provêm de bebidas açucaradas. Utah, em especial, apresenta números que chamam a atenção, com um histórico de elevado consumo de refrigerantes. Segundo pesquisas, Utah é o segundo estado com o maior índice de consumo per capita de refrigerantes do país, o que tem gerado preocupações entre profissionais de saúde e legisladores sobre os impactos desse hábito na saúde da população.
As autoridades acreditam que a proibição dos refrigerantes no SNAP poderá ajudar a reduzir os índices de obesidade e diabetes tipo 2, especialmente entre as populações de baixa renda que dependem desse auxílio para a alimentação. No entanto, a medida suscita uma ampla gama de reações. Alguns defendem a iniciativa como uma importante ação em prol da saúde pública, enquanto outros afirmam que isso pode criar estigmas e restringir ainda mais a liberdade de escolha dos beneficiários do programa.
Entre os críticos da medida, muitos levantam questões sobre a equidade e a eficácia de restringir o acesso a um item específico, sem abordar a complexidade das dinâmicas sociais e econômicas que afetam os hábitos alimentares. Comentários de assistentes sociais e profissionais de saúde ressaltam como debates sobre o SNAP frequentemente se desviam do foco em soluções para os problemas sistêmicos que contribuem para a insegurança alimentar. “Isso pode ser apenas a ponta do iceberg. Se começamos a proibir refrigerantes, o que vem a seguir? Certos tipos de alimentos de conforto? No final, estamos aqui para ajudar as pessoas e essas soluções podem acabar dificultando mais do que ajudando”, afirma um assistente social que trabalha diretamente com beneficiários do SNAP.
Outro aspecto crítico da discussão é a situação dos pequenos mercados, especialmente em comunidades de baixa renda que frequentemente dependem do SNAP para sobreviver. Muitos desses lugares, conhecidos como bodegas, dependem de seus clientes que utilizam o SNAP para comprar uma variedade de produtos, incluindo refrigerantes. De acordo com estimativas, 25% do gasto total do SNAP ocorre em grandes redes de supermercados como o Walmart, mas uma proporção significativa também se reflete em mercados locais. Sem a inclusão dessa categoria, muitos desses estabelecimentos correm o risco de enfrentar dificuldades financeiras.
A polêmica não se restringe apenas aos refrigerantes. Comentários sugerem que, se os legisladores começarem a restringir categorias de alimentos, isso pode abrir as portas para um fluxo contínuo de proibições. Há um temor crescente de que a medida inicial se transforme em um movimento mais amplo que implica restrições adicionais sobre o que pode ou não ser comprado com o auxílio do SNAP. “Esse é um passo perigoso. Uma vez que você abre a caixa de Pandora, será muito difícil fechá-la”, dizem especialistas em políticas públicas, apontando que as proibições podem prejudicar mais os beneficiários do que realmente ajudar suas condições de vida.
A discussão também toca em questões mais amplas sobre a dignidade dos beneficiários do SNAP e a forma como a sociedade percebe quem depende de assistência. “Muitos se esquecem de que essas pessoas não têm escolha. Elas querem se alimentar com qualidade e não são preguiçosas ou desonestas. O governo deveria trabalhar para abrir portas, não para fechá-las”, observa um defensor da reforma do SNAP.
Os representantes do governo de Utah afirmam que a decisão foi baseada em evidências científicas e dados de saúde, mas muitos se questionam se a solução mais eficiente não seria uma educação alimentar e políticas que ajudem as famílias a fazer escolhas mais saudáveis. O futuro do SNAP e a forma como a assistência alimentar é gerida no estado continuam a ser temas de intenso debate e agora com uma nova camada de complexidade à medida que a proibição de refrigerantes se aproxima de sua implementação.
Essa decisão promete impactar não apenas as compras diárias dos beneficiários do SNAP, mas também a forma como a comunidade enxerga o auxílio estatal, as suas necessidades e como se definem as prioridades em saúde pública na sociedade contemporânea. A posição da administração em relação às futuras políticas do SNAP será um aspecto a ser observado de perto, à medida que os legisladores buscam um equilíbrio entre a promoção da saúde pública e o respeito pelas escolhas individuais.
Fontes: CNN, The Guardian, Departamento de Agricultura dos EUA
Resumo
A partir de 1º de janeiro de 2024, Utah proibirá o uso do Supplemental Nutrition Assistance Program (SNAP) para a compra de refrigerantes, uma medida proposta por legisladores estaduais para combater a obesidade e outras doenças relacionadas ao consumo de bebidas açucaradas. O estado apresenta altos índices de consumo de refrigerantes, com 22% das calorias consumidas por adolescentes e adultos provenientes dessas bebidas. A proibição visa reduzir a obesidade e diabetes tipo 2 entre beneficiários de baixa renda, mas gerou polêmica. Críticos argumentam que a medida pode criar estigmas e restringir a liberdade de escolha, além de não abordar as causas subjacentes da insegurança alimentar. Pequenos mercados, que dependem do SNAP, também podem ser afetados financeiramente. Especialistas alertam que a restrição pode abrir precedentes para futuras proibições, levantando questões sobre a dignidade dos beneficiários e a necessidade de soluções mais abrangentes. A decisão do governo, baseada em dados de saúde, continua a ser debatida, com a expectativa de que impacte a percepção pública sobre o auxílio estatal e as prioridades em saúde.
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