27/12/2025, 09:19
Autor: Laura Mendes

Nos últimos meses, tem-se observado um fenômeno notável no Brasil, onde a transformação de bolsonaristas em ex-bolsonaristas tem se tornado cada vez mais evidente, especialmente entre aqueles que, durante a pandemia de COVID-19, foram forçados a reavaliar suas opiniões políticas e sociais. O relato de pessoas que, tradicionalmente, apoiavam a extrema direita e agora se distanciam dessas ideias, revela um processo de reflexão profunda sobre a política nacional e suas consequências diretas na vida cotidiana.
Durante as festividades de Natal, muitos brasileiros encontraram-se em situações inesperadas, trocando opiniões e experiências sobre suas inclinações políticas. Um dos relatos mais impactantes surge a partir da conversa entre irmãos, cujo vínculo foi testado por divergências ideológicas. O irmão, um "isentão" que permanecia em cima do muro, expressou sua indignação em uma revelação sobre o uso da religião para fins políticos: “Ele [Jair Bolsonaro] se coloca no lugar de Deus”. Essa mudança de percepção não é um caso isolado, mas reflete uma maior disposição de indivíduos a questionar suas crenças em um clima de crescente descontentamento.
Outro relato ilustra como a pandemia serviu de catalisador para uma reavaliação mais ampla das políticas extremistas. Uma mãe, que inicialmente apoiou Bolsonaro, se viu confrontada pelas realidades da crise de saúde pública que devastou o país. Com os filhos atuando na linha de frente como profissionais de saúde, ela começou a perceber a gravidade das decisões políticas que estavam sendo tomadas — ou a falta delas. Esse processo, frequentemente repleto de dor e desilusão, mostra como a vivência da pandemia pode levar a uma tomada de consciência fundamental e à rejeição de ideologias que antes pareciam inquestionáveis.
Esse sentimento não se limita a relatos individuais. De maneira mais abrangente, muitos ressaltam que a abertamente crítica figura do bolsonarismo está sendo desmistificada, e há uma crescente expectativa de que a queda dessa ideologia deva ser mais rápida. O questionamento sobre como o "antibolsinarismo" se tornará tão massivo quanto o lulismo nos anos 2000 levanta questões sobre a dinâmica da política brasileira, ao mesmo tempo que ecoa a história recente de polarização. A sensação que se espalha entre os ex-bolsonaristas é uma mistura de alívio e indignação por ter sido, muitas vezes, manipulada por mentiras e promessas não cumpridas.
Por outro lado, há também aqueles que ainda lutam para se desvincular desse passado político. Relatos indicam que muitos se mantêm como bolsonaristas por vergonha de admitir seus erros, apesar de perceberem a necessidade de mudança. Isso expõe não apenas uma resistência à autocrítica, mas também como a cultura política no Brasil tem dificultado esse tipo de enfrentamento. A polarização exacerba a timidez emocional dos indivíduos, impedindo um confronto autêntico com suas crenças.
Um caso peculiar foi relatado em um ambiente de trabalho, onde um colega bolsonarista questionou outro sobre sua fidelidade política, que levou a uma explosão de sinceridade e críticas sobre os escândalos de corrupção envolvendo figuras do governo. A troca de palavras trouxe à tona o descontentamento com a manipulação política e não se limitou a discursos vazios. Para muitos, este momento de ruptura simboliza uma possível evolução política, onde a desilusão pode gerar não apenas arrependimento, mas também um desejo de mudança genuína.
Porém, o processo de transformação não é simples. Muitos dos ex-bolsonaristas relataram um sentimento de humilhação ao perceberem que foram levados a apoiar ideais que não apenas não atendiam às suas necessidades, mas que contribuíram para uma política de destruição e ineficiência. Para um brasileiro, a conscientização deve servir como um guia de aprendizado e despertar, não apenas uma maneira de lidar com a vergonha.
O movimento crescente de ex-bolsonaristas é um poderoso lembrete de que, mesmo em tempos de polarização extrema, a realidade pode ser confrontada e a mudança é possível. Essa transformação não só reflete a capacidade humana de adaptar-se e aprender com suas experiências, mas também um anseio por um Brasil mais justo e democrático, onde as ideologias extremistas perdem força e a convivência pacífica prevalece. Assim, emerge a esperança de que, enquanto houver vida, as pessoas continuarão a se questionar e a lutar por um futuro melhor.
Fontes: Estadão, Folha de São Paulo, Valor Econômico, G1
Resumo
Nos últimos meses, muitos brasileiros têm se distanciado do bolsonarismo, especialmente após a pandemia de COVID-19, que forçou uma reavaliação de suas crenças políticas. Relatos de conversas familiares e experiências pessoais revelam um processo de reflexão sobre as consequências das decisões políticas. Um exemplo impactante é o de uma mãe que, ao ver seus filhos atuando na linha de frente da saúde, começou a questionar o governo de Jair Bolsonaro e suas políticas. Esse fenômeno não é isolado; há uma crescente desilusão entre ex-bolsonaristas, que se sentem aliviados e indignados por terem sido manipulados. No entanto, muitos ainda lutam para se desvincular desse passado, enfrentando vergonha e resistência à autocrítica. Em ambientes de trabalho, discussões sobre lealdade política têm exposto descontentamentos com escândalos de corrupção. Apesar das dificuldades, o movimento de ex-bolsonaristas simboliza uma possível evolução política e um desejo de mudança genuína, refletindo a capacidade humana de aprender com experiências e anseios por um Brasil mais justo e democrático.
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