17/12/2025, 18:19
Autor: Laura Mendes

O Programa Educacional de Resistência às Drogas e à Violência, mais conhecido como Proerd, tem causado debates acalorados sobre sua eficácia no combate ao uso de drogas entre adolescentes no Brasil. Desde sua criação, o programa teve como objetivo fornecer uma abordagem preventiva por meio de palestras ministradas por policiais em ambientes escolares. No entanto, a conexão entre o Proerd e seu equivalente americano DARE tem levantado questões sobre a pertinência do método e sua real efetividade.
O Proerd foi instaurado no Brasil na década de 1990, inspirado no programa DARE (Drug Abuse Resistance Education), desenvolvido nos Estados Unidos na década de 1980. O ponto central do DARE era ensinar às crianças sobre os perigos das drogas e da violência. Contudo, com o passar do tempo, pesquisas começaram a questionar a eficácia desses programas. Estudiosos apontam que os métodos de abordagem, focados em informações sobre os efeitos das drogas, podem, na verdade, incitar a curiosidade e o consumo entre os jovens.
Uma série de comentários disponíveis em plataformas de discussão online revela que muitos ex-participantes do Proerd têm lembranças mistas da experiência. Enquanto alguns recordam com carinho as lições sobre prevenção, outros afirmam que as palestras acabaram gerando mais perguntas do que respostas. “Era estranho ver um policial na sala de aula. Acredito que a maioria das pessoas que participou do Proerd acabou experimentando drogas de alguma forma”, comentou um usuário, refletindo a percepção de que a abordagem pode ter produzido o efeito contrário ao esperado.
A relação da cultura jovem brasileira com o Proerd também não passa despercebida. O leão, mascote do programa, frequentemente aparece em camisetas e memes nas redes sociais, especialmente entre aqueles que, de maneira irônica, brincam sobre a conexão do programa com o uso de drogas. Esse uso do leão como símbolo tem uma conotação que pode ser vista como uma crítica à seriedade do programa. “Eu acho engraçado como os maconheiros brasileiros adotaram o leão do Proerd”, disse um comentarista, evidenciando uma subcultura que se apropria da imagem de maneira um tanto provocativa.
Enquanto isso, a proposta inicial do Proerd de envolver policiais como educadores e autoridades tem suas raízes em uma tentativa de trazer uma visão de segurança e responsabilidade. Entretanto, essa abordagem não é unânime. “Um policial falando sobre drogas pode parecer enviesado para os adolescentes. Acredito que histórias reais de ex-usuários sobre como as drogas arruinaram suas vidas teriam um impacto mais significativo”, sugeriu outro comentarista, apontando para um caminho que poderia levar a uma discussão mais genuína entre jovens e educadores.
Dito isso, muitos ex-alunos se lembram do Proerd com nostalgia, destacando o fato de ter participado de uma experiência acadêmica que faz parte da sua formação. O impacto do programa em seus modos de pensar sobre drogas e segurança ainda reverbera. “Foi uma das coisas que mais me marcou no ensino fundamental. Tenho a medalha até hoje”, lembra um ex-participante, que destaca como essa iniciativa, apesar de suas controvérsias, teve um papel que ficou gravado em sua infância.
Contudo, a necessidade de revisar programas como o Proerd é evidente. As novas gerações de jovens enfrentam de forma bem diferente a realidade das drogas e da violência, e muitos defendem que uma abordagem educacional mais fundamentada, inclusiva e que explore as experiências pessoais pode ser mais benéfica do que aquelas centradas apenas em estatísticas. Há um consenso, ainda que velado, sobre a importância de repensar as estratégias de prevenção, utilizando conhecimentos atualizados sobre comportamento humano e eficácia de programas de educação vigiada.
As críticas ao Proerd revelam um campo fértil para a discussão sobre como os jovens devem ser educados acerca dos perigos do uso de drogas e da violência. À medida que novas pesquisas e métodos emergem, a responsabilidade recai sobre educadores e responsáveis para adotar práticas que, mais do que informar, eduquem de maneira crítica e reflexiva. O legado do Proerd ainda pode ser repensado, adaptado e transformado, com o objetivo de melhor atender às necessidades das novas gerações. Portanto, ao invés de simplesmente replicar programas do passado, é imprescindível olhar para frente, atentos às complexidades e nuances do mundo contemporâneo e suas relações com o uso de substâncias.
O avanço dessa discussão é crucial, não apenas para a efetividade dos programas de prevenção, mas também para a construção de um futuro em que a educação sobre drogas se transforme em uma ferramenta poderosa de empoderamento e proteção dos jovens.
Fontes: Folha de São Paulo, UOL, O Globo
Resumo
O Programa Educacional de Resistência às Drogas e à Violência (Proerd) tem gerado debates sobre sua eficácia no combate ao uso de drogas entre adolescentes no Brasil. Criado na década de 1990, inspirado no programa americano DARE, o Proerd visa educar crianças sobre os perigos das drogas e da violência. No entanto, pesquisas questionam a efetividade desse modelo, sugerindo que a abordagem informativa pode aumentar a curiosidade e o consumo entre os jovens. Comentários de ex-participantes refletem memórias mistas, com alguns lembrando com carinho, enquanto outros sentem que as palestras levantaram mais perguntas do que respostas. O mascote do programa, um leão, tornou-se uma figura irônica nas redes sociais, sendo associado a críticas sobre a seriedade do Proerd. Há um consenso sobre a necessidade de revisar o programa, propondo uma abordagem mais fundamentada e inclusiva que considere as experiências pessoais e a realidade contemporânea dos jovens. A discussão sobre a educação em relação ao uso de drogas e à violência é vital para o futuro dos programas de prevenção.
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