17/12/2025, 12:00
Autor: Laura Mendes

O Programa Educacional de Resistência às Drogas (Proerd), uma iniciativa do governo brasileiro voltada para o combate ao uso de drogas entre crianças e adolescentes, tem gerado uma série de discussões sobre sua eficácia e impactos na formação da juventude. Inspirado no programa americano DARE, o Proerd se propõe a educar os alunos sobre os riscos das drogas, promovendo uma cultura de resistência ao uso de substâncias. Contudo, muitos especialistas e integrantes da comunidade escolar questionam se a metodologia utilizada realmente contribui para a redução do consumo de drogas entre os jovens.
Historicamente, o Proerd foi instituído no Brasil em 1999 e, ao longo de sua implementação, promoveu diversas atividades em escolas públicas e privadas, incluindo aulas teóricas, dinâmica de grupo e cerimoniais de "formatura". A proposta é que policiais militares se tornem agentes de educação, compartilhando conhecimentos sobre os efeitos das drogas e incentivando a não utilização. Entretanto, críticas sobre a eficácia do programa têm surgido constantemente, com muitos afirmando que a abordagem é simplista e não considera o contexto social e familiar que contribui para a escolha do uso de drogas entre jovens.
Um dos pontos mais debatidos na crítica ao Proerd é a comparação com seu antecessor, o programa DARE nos Estados Unidos, que também enfrentou severas críticas por promover uma familiarização com as drogas, ao invés de evitar o seu uso. Essa preocupação é expressa em comentários de participantes que vivenciaram o Proerd em suas escolas. A falta de resultados evidentes na redução do uso de drogas tem alimentado a percepção de que o programa não é eficaz na prevenção e que a educação deve ter uma abordagem mais profunda e contextualizada.
Muitos ex-alunos relataram lembranças de aulas que foram mais performáticas do que educativas. Em diversas ocasiões, as turmas eram recebidas com festividades e apresentações cheias de pompa, mas sem a necessária substância que propusesse uma reflexão crítica sobre a realidade das drogas no Brasil. Essa banalização do tema parece falhar em atingir seu objetivo primordial: criar consciência e resistência efetiva entre os estudantes.
A realidade das escolas públicas brasileiras também é uma questão crítica a ser considerada. Enquanto muitas instituições enfrentam dificuldades materiais e infraestrutura precária, o Proerd se propõe a ser um recurso educativo, mas a ausência de suporte adicional e políticas abrangentes para a desarticulação do tráfico de drogas e políticas sociais complementares faz com que o impacto do programa seja, em muitos casos, nulo. Além disso, o acesso à informação sobre drogas se torna mais dependente da realidade e contexto social dos jovens, que muitas vezes já estão em contato com o ambiente das drogas de maneiras nebulosas.
Falar sobre drogas não é apenas discutir a proibição, mas proporcionar um espaço seguro para que as crianças possam entender e abordar suas inquietações e curiosidades em relação ao tema. A consciência crítica deve ser fomentada desde cedo, e isso vai além de aulas pontuais e informativas. O envolvimento da família, da comunidade e de profissionais de saúde são essenciais para uma abordagem holística que vise a efetiva proteção e educação dos jovens.
Estudos realizados por diversas instituições, incluindo o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), sugerem que programas educativos anti-drogas precisam se apropriar de metodologias que incluam a participação da comunidade e a compreensão das culturas locais. Essas ações se mostraram muito mais promissoras do que uma abordagem que se restringe a palestras e orientações pontuais e que frequentemente não conecta a experiência vivida pelos alunos às políticas de saúde pública.
O futuro do Proerd e iniciativas similares depende, portanto, de uma reavaliação crítica de suas práticas e objetivos. A mudança nas grades curriculares que abranjam temas como saúde mental, empoderamento e cultura de paz pode proporcionar um caminho mais consistente para a formação de cidadãos resilientes, capazes de fazer escolhas informadas e saudáveis em relação ao uso de drogas. Assim, ao invés de meramente educar sobre o que são as drogas, é preciso do comprometimento para criar um espaço de aprendizado e suporte que promova a autonomia e a consciência crítica dos jovens brasileiros.
Fontes: Folha de São Paulo, Agência Brasil, Ipea, entrevistas com educadores especializados
Detalhes
O Programa Educacional de Resistência às Drogas (Proerd) é uma iniciativa do governo brasileiro voltada para a prevenção do uso de drogas entre crianças e adolescentes. Inspirado no programa DARE dos Estados Unidos, foi instituído em 1999 e busca educar os jovens sobre os riscos associados ao uso de substâncias. O programa envolve policiais militares como educadores, promovendo aulas e atividades em escolas. No entanto, sua eficácia tem sido alvo de críticas, com muitos especialistas questionando a abordagem simplista e a falta de resultados concretos na redução do consumo de drogas.
Resumo
O Programa Educacional de Resistência às Drogas (Proerd), criado em 1999 no Brasil, visa combater o uso de drogas entre crianças e adolescentes, inspirado no programa americano DARE. Embora tenha promovido atividades educativas em escolas, sua eficácia é frequentemente questionada por especialistas e membros da comunidade escolar. Críticas apontam que a metodologia é simplista e não aborda o contexto social que influencia o uso de drogas. Ex-alunos relatam que as aulas eram mais performáticas do que educativas, falhando em criar uma reflexão crítica sobre o tema. Além disso, a realidade das escolas públicas, com infraestrutura precária, limita o impacto do programa. A falta de suporte adicional e políticas sociais complementares contribui para a percepção de que o Proerd não é eficaz. Estudos sugerem que uma abordagem mais holística, envolvendo a comunidade e abordando temas como saúde mental e empoderamento, pode ser mais promissora na formação de cidadãos conscientes e resilientes. O futuro do Proerd depende de uma reavaliação crítica de suas práticas e objetivos.
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