13/12/2025, 03:11
Autor: Laura Mendes

Nas últimas semanas, o Panamá tem se destacado na discussão sobre a adoção de energia solar, refletindo uma tendência crescente nas fontes de energia renováveis no país. A transição energética vem acompanhada de desafios e oportunidades que levantam debates sobre a eficiência do sistema elétrico nacional e a dependência histórica de fontes hidrelétricas. Nos últimos anos, conforme a demanda por alternativas sustentáveis se intensifica, o setor solar no Panamá experimentou um crescimento considerável. Dados recentes indicam que há mais de 300 MW em projetos solares aguardando autorização, com uma variedade de iniciativas tanto em pequena quanto em grande escala. Embora a energia solar tenha ganhado relevância, o país ainda depende fortemente das hidrelétricas, que respondem por cerca de 90% do consumo de eletricidade.
A Costa Rica é frequentemente citada como um exemplo de sucesso em energias renováveis, com um histórico impressionante de produção elétrica 100% renovável. Em comparação, o Panamá enfrenta um cenário mais complexo, onde mesmo com a crescente adoção da energia solar, uma parte significativa de sua capacidade elétrica ainda provém de fontes tradicionais, como a energia hídrica. A maior parte da geração solar vem em sistemas instalados em telhados e projetos de autonomias individuais, principalmente em áreas urbanas, com uma predominância de iniciativas de autoconsumo no nível comercial e industrial.
A configuração da rede elétrica também é uma preocupação pertinente à evolução do setor solar. O uso de painéis solares é acompanhado por um debate sobre a integração energética em diferentes regiões do país. Existe a necessidade de uma infraestrutura de conexão mais robusta que permita otimizar a distribuição da energia gerada, particularmente da oeste do país, onde estão concentradas as principais usinas hidrelétricas, para as áreas urbanas mais povoadas. Atualmente, as linhas de transmissão enfrentam limitações que dificultam a transferência eficiente da energia renovável entre diferentes pontos. Essa questão leva a um impasse em que a surplus de energia solar frequentemente não é aproveitado na medida em que poderia, fazendo com que as empresas e consumidores enfrentem um dilema em relação à adoção de tecnologias de energia renovável.
Além disso, esse crescimento no setor solar está em grande parte controlado por um único conglomerado, a AES, que possui mais da metade das usinas solares no país. Esse cenário gera preocupações sobre a concentração de mercado e o controle que uma única empresa pode exercer sobre um segmento essencial da infraestrutura elétrica panamenha. Essa complexidade do setor não se limita apenas à capacidade de geração, mas também envolve como os preços da energia se comportam em diferentes períodos do dia, considerando a variabilidade inerente a cada fonte energética. Durante os períodos em que há um aumento na geração solar, por exemplo, os preços não têm apresentado grandes flutuações, permanecendo estáveis em torno dos níveis de mercado.
O governo panamenho tem incentivado iniciativas de energia solar, com políticas que incluem isenções fiscais desde os anos 2000, promovendo o investimento na transição para fontes de energia mais sustentáveis. No entanto, a pressão política e as preocupações sobre a segurança energética e a receita nacional destacam a necessidade de um planejamento mais estratégico e diversificado para o futuro energético do Panamá. À medida que as discussões avançam, a ideia de consolidar os esforços em aumentar a capacidade solar e a colaboração com outros países vizinhos da América Central para a exportação da energia gerada ganha força. O Panamá já possui interconexões com a Costa Rica, permitindo a troca de energia entre os dois países, mas a viabilidade dessa troca pode se mostrar desafiadora, considerando as dinâmicas de mercado e as preferências por fontes de energia mais baratas por outros países, como o El Salvador e o México.
A acumulação de energia solar, por sua vez, pode ser um divisor de águas, não apenas em termos de produção elétrica, mas também em relação à conquista da independência energética do Panamá, que historicamente tem estado sujeita a nuvens de incerteza sobre os preços dos combustíveis fósseis. No entanto, especialistas defendem que para se alcançar uma capacidade significativa e continuidade na oferta de energia solar, será necessária a implementação de um planejamento renovado que não comprometa a estabilidade do fornecimento à medida que se buscam fontes de energia mais limpas.
As perspectivas futuras apontam para um cenário em que a energia solar poderá não apenas complementar a geração hídrica, mas se tornar protagonista na matriz energética panamenha, dependendo das condições da política pública e do suporte ao crescimento sustentado. A interação entre a energia solar e as hidrelétricas abre espaço para discussões amplas sobre como tornar o sistema elétrico mais resiliente e em consonância com as metas globais de redução das emissões e de mudança climática. Com um contexto tão dinâmico, o Panamá está na rota de um futuro energético mais sustentável, mas sempre com desafios a serem superados no horizonte.
Fontes: El País, Reuters, Agência Internacional de Energia
Detalhes
A AES é uma empresa global de energia que opera em diversos países, oferecendo soluções em geração e distribuição de eletricidade. Com um foco em energias renováveis, a AES é uma das principais operadoras de usinas solares no Panamá, controlando mais da metade da capacidade solar do país. A companhia tem se empenhado em promover a transição energética, contribuindo para o aumento da participação de fontes renováveis na matriz elétrica.
Resumo
Nas últimas semanas, o Panamá tem se destacado na discussão sobre a adoção de energia solar, refletindo uma tendência crescente nas fontes de energia renováveis. Apesar do crescimento considerável do setor solar, com mais de 300 MW em projetos aguardando autorização, o país ainda depende fortemente das hidrelétricas, que representam cerca de 90% do consumo de eletricidade. A configuração da rede elétrica e a necessidade de uma infraestrutura de conexão mais robusta são preocupações pertinentes, já que a energia solar gerada frequentemente não é aproveitada de maneira eficiente. O conglomerado AES controla mais da metade das usinas solares, levantando preocupações sobre a concentração de mercado. O governo panamenho tem incentivado iniciativas de energia solar com políticas de isenção fiscal, mas a necessidade de um planejamento estratégico e diversificado é evidente. A energia solar pode se tornar protagonista na matriz energética do Panamá, dependendo das condições políticas e do suporte ao crescimento sustentado, enquanto o país busca uma maior independência energética e resiliência em seu sistema elétrico.
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