Ceará autoriza TikTok a aumentar uso de água em data center

O estado do Ceará autorizou o data center do TikTok a consumir sete vezes mais água do que era previsto, trazendo à tona preocupações sobre a gestão dos recursos hídricos em uma região com histórico de seca.

Pular para o resumo

04/12/2025, 00:23

Autor: Laura Mendes

Uma imagem impressionante mostrando um vasto data center em uma região árida, rodeado por painéis solares e cercas altas. Ao fundo, um céu nublado sugere uma possível seca. Vários canos de água se destacam, simbolizando o alto consumo hídrico, enquanto em primeiro plano um gráfico de crescimento do uso de tecnologia se sobrepõe de forma sutil, ressaltando os desafios ambientais. A imagem é chamativa e provoca reflexão sobre a relação entre tecnologia e recursos naturais.

Em uma recente decisão que pode ter repercussões significativas em um estado que frequentemente enfrenta crises hídricas, o Ceará autorizou um data center da gigante das redes sociais, TikTok, a utilizar sete vezes mais água do que o inicialmente previsto em seu licenciamento. A medida, que tem gerado controvérsia e preocupação entre ambientalistas e especialistas, ocorre em um contexto em que 16 dos últimos 21 anos no estado foram marcados por declarações de emergência hídrica.

Os comentários a respeito dessa autorização revelam uma ampla gama de preocupações, principalmente relacionadas ao uso intensivo de água em um ambiente que já enfrenta estresse hídrico. Especialistas apontam que, ao contrário do que muitos poderiam imaginar, a tecnologia utilizada nos data centers, com sistemas de resfriamento que consomem grandes quantidades de água, não contribui para a preservação dos recursos hídricos. Em muitos casos, estima-se que entre 60% a 80% da água captada por data centers é consumida por evaporação, reduzindo a disponibilidade local de água e potencializando os problemas já existentes.

Um estudo realizado por profissionais de licenciamento ambiental enfatiza que o impacto hídrico causado por esses centros de dados vai muito além da quantidade de água captada. A fração que permanece no meio ambiente após o processo de resfriamento é muitas vezes insignificante, já que a maior parte é perdida por evaporação ao dissipar o calor gerado pelos equipamentos. Por exemplo, um data center que capta 2 milhões de litros de água por dia pode consumir até 1,6 milhão de litros a cada 24 horas, o que prejudica ainda mais a recuperação hídrica da região.

A escolha do Ceará como um polo atrativo para a instalação de data centers, especialmente pelas grandes empresas de tecnologia, levanta sérias questões sobre os benefícios reais que esses investimentos trazem para a economia local. Muitos especialistas estimam que a quantidade de empregos gerados por essas instalações não compensa o alto custo de recursos hídricos e energéticos que são exigidos para sua operação. A ironia da situação é que, embora as comunidades locais aguardem promessas de emprego e desenvolvimento, os data centers são conhecidos por serem altamente automatizados e por oferecerem uma quantidade limitada de postos de trabalho.

Adicionalmente, críticos lembram que a rápida busca por inovação e instalação de tecnologia muitas vezes oculta os reais impactos ambientais e sociais dessas iniciativas. Há relatos de que decisores políticos da área ambiental não têm formação específica para conduzir questões de licenciamento, o que levanta a preocupação sobre a qualidade das decisões que estão sendo tomadas. Um superintendente de um órgão ambiental, por exemplo, sem formação na área, pode não estar adequadamente preparado para avaliar as repercussões do alto consumo hídrico de um data center.

Os impactos da instalação desses centros de dados não se restringem apenas ao uso de água. Também há uma preocupação crescente com a energia elétrica consumida. Com o aumento da demanda por processamento e armazenamento de dados, as necessidades energéticas desses empreendimentos podem ultrapassar a capacidade de geração de energia da região, contribuindo para uma crise energética. A pressão por energia adicional para suprir as demandas dos data centers pode, a longo prazo, resultar em aumentos nos preços de energia para a população, além de danos ambientais relacionados à produção dessa energia.

A situação é ainda mais alarmante considerando que, na última década, o Brasil tem sido visto como um dos locais mais atrativos para a instalação de data centers na América Latina. Entretanto, essa atração vem acompanhada de questões sobre a sustentabilidade e a ética de tais investimentos. O apelo por tecnologia moderna não deve vir à custa do nosso capital natural, particularmente em uma contexto em que as mudanças climáticas e a gestão responsável dos recursos hídricos estão se tornando cada vez mais urgentes.

Os consumidores e as comunidades locais têm agora a responsabilidade de pressionar por uma gestão mais consciente e responsável dos recursos naturais, levando em conta a preservação do meio ambiente e o bem-estar das gerações futuras. A recente decisão do Ceará deve servir de alerta sobre a necessidade de um equilíbrio saudável entre o avanço tecnológico e a sustentabilidade ambiental, e que políticas públicas eficazes são essenciais para proteger recursos hídricos em áreas vulneráveis.

Fontes: ClimaInfo, Folha de São Paulo, O Globo

Detalhes

TikTok

O TikTok é uma plataforma de mídia social que permite a criação e compartilhamento de vídeos curtos, popular entre jovens e adolescentes. Lançado em 2016 pela empresa chinesa ByteDance, o aplicativo ganhou notoriedade global, oferecendo uma variedade de ferramentas de edição e efeitos visuais. O TikTok se destacou por seu algoritmo de recomendação, que personaliza o conteúdo para os usuários, tornando-se um fenômeno cultural e uma ferramenta de marketing poderosa para marcas.

Resumo

O Ceará autorizou um data center do TikTok a utilizar sete vezes mais água do que o previsto, gerando preocupações entre ambientalistas em um estado que já enfrenta crises hídricas. Especialistas alertam que a tecnologia dos data centers consome grandes quantidades de água, com até 80% evaporando, o que agrava a escassez de recursos hídricos. Apesar das promessas de emprego e desenvolvimento econômico, muitos questionam se os benefícios superam os altos custos de água e energia. Além disso, a crescente demanda por energia elétrica pode ultrapassar a capacidade local, resultando em aumentos de preços e impactos ambientais. A situação destaca a necessidade de um equilíbrio entre inovação tecnológica e sustentabilidade, especialmente em um cenário de mudanças climáticas.

Notícias relacionadas

Uma imagem impactante mostrando uma paisagem devastada pela exploração de recursos naturais, com fumaça e poluição ao fundo, contrastando com uma imagem de florestas exuberantes e campos férteis, simbolizando o que está em jogo pela degradação ambiental. O céu em um tom acinzentado, refletindo a crise climática, complementa a cena.
Meio Ambiente
Produção de alimentos e combustíveis fósseis gera danos ambientais alarmantes
A produção de alimentos e combustíveis fósseis causa danos ambientais que custam US$5 bilhões por hora, evidenciando a urgência de ações eficazes.
10/12/2025, 13:56
Uma imagem panorâmica da cidade de São Paulo sob um céu nublado, com nuvens escuras e sinais de chuvas escassas, em contraste com os arranha-céus urbanos. A imagem deve transmitir uma sensação de preocupação em relação à escassez de água, com algumas pessoas usando garrafas de água nas mãos ou olhando para o céu, como se estivessem aguardando pela chuva que não vem.
Meio Ambiente
São Paulo enfrenta déficit histórico de chuvas em dezembro de 2023
Estudo aponta que a capital paulista estará sob anomalia negativa de chuvas este mês, impactando o abastecimento de água na região.
28/11/2025, 13:57
Uma vista vibrante do Jardim Vertical em São Paulo, destacando suas plantas exuberantes e a interação com o ambiente urbano, contrastando com grises estruturas de concreto ao fundo. Ao lado, grafites artísticos estão visivelmente apagados, simbolizando um embate entre beleza vegetal e expressão artística urbana. A imagem deve transmitir a ideia de sua importância estética, mas também incluir elementos que evidenciem os desafios de sua manutenção, como o desgaste em algumas áreas verdes.
Meio Ambiente
Jardim Vertical de São Paulo gera polêmica e expõe desafios ambientais
O Jardim Vertical da 23 de Maio, inaugurado como uma solução estética e de bem-estar para a cidade, suscita discussões sobre seu custo e impacto ambiental.
28/11/2025, 11:45
Uma manifestação ambiental em Brasília, com pessoas segurando cartazes, vestidos de verde e com expressões de determinação. Ao fundo, um cartaz gigante diz "Fora PL da Devastação". A imagem retrata a urgência e a tensão do momento, destacando um mar de faixas protestando contra o retrocesso ambiental.
Meio Ambiente
PL da Devastação aprofunda crise ambiental e provoca reações no Brasil
A recente aprovação do PL da Devastação pelo Congresso brasileiro acendeu um alerta entre ambientalistas e a sociedade, que clamam por ações contra o retrocesso nas políticas ambientais.
28/11/2025, 11:33
Uma vasta área do oceano com pequenas partículas de plástico flutuando, enquanto várias espécies marinhas, como cardumes de peixes e tartarugas, nadam entre os detritos em uma representação colorida e detalhada do impacto da poluição marinha.
Meio Ambiente
Grande Mancha de Lixo do Pacífico se torna lar de espécies marinhas
A poluição marinha que compõe a Grande Mancha de Lixo do Pacífico está criando um novo ecossistema marinho, levando a um aumento de espécies na região.
27/11/2025, 23:35
Uma ararinha-azul majestosa em meio à floresta, evidenciando sua beleza, enquanto ao fundo se observa uma equipe de biólogos dedicados a proteger essa espécie ameaçada, equilibrando-se entre a esperança e a tragédia da extinção. A imagem captura tanto a essência da ararinha quanto a intervenção humana em sua preservação.
Meio Ambiente
Ararinha-azul enfrenta crise de extinção devido a vírus mortal
A ararinha-azul, considerada uma das espécies mais ameaçadas do Brasil, está lutando contra um vírus letal sem cura, intensificando a urgência da conservação.
27/11/2025, 13:10
logo
Avenida Paulista, 214, 9º andar - São Paulo, SP, 13251-055, Brasil
contato@jornalo.com.br
+55 (11) 3167-9746
© 2025 Jornalo. Todos os direitos reservados.
Todas as ilustrações presentes no site foram criadas a partir de Inteligência Artificial