28/11/2025, 11:45
Autor: Laura Mendes

Inaugurado em um esforço para revitalizar o centro de São Paulo, o Jardim Vertical da Avenida 23 de Maio rapidamente se tornou um símbolo de um urbanismo que parece mais uma tentativa de embelezamento superficial do que uma solução sustentável a longo prazo. Desde sua criação, a estrutura verde reedita a polêmica sobre a gestão do espaço público, especialmente em um contexto onde questões de ecologia urbana precisam ser tratadas com seriedade e planejamento.
Os conflitos em torno do Jardim Vertical são palpáveis. No passado, a iniciativa não foi isenta de controvérsias, especialmente quando o então prefeito João Doria decidiu cobrir os grafites que adornavam a manifestação artística urbana da via com uma camada de tinta cinza. Assim que as cores vibrantes foram apagadas, os artistas protestaram, reinstalando suas obras efêmeras temporariamente, que logo foram novamente encobertas. A medida, vista por muitos como um desperdício de recursos públicos, bem como uma afronta à cultura urbana, culminou na criação do jardim vertical, que, embora tenha embelezado a área, trouxe à tona uma série de discussões sobre o seu custo e a eficiência ambiental da proposta.
Os custos de manutenção desse tipo de paisagismo são altos. Os especialistas apontam que os jardins verticais exigem cuidados constantes, o que, além de onerar os cofres públicos, levanta a questionamento sobre se este investimento é realmente rentável para a cidade. Comentários recentes apontam que em vez da instalação desses jardins dispendiosos, o financiamento deve ser destinado a iniciativas que promovam a plantação de árvores, que têm um impacto ambiental muito mais significativo na qualidade de ar e na biodiversidade da região. A simples instalação de painéis verdes não substitui os serviços ecossistêmicos prestados por árvores verdadeiras, como a captura de carbono e a redução da poluição sonoro e atmosférica.
Além de discutir a eficácia do Jardim Vertical como uma solução ambiental, os moradores parecem ansiosos por discutir a real intenção das mudanças realizadas, apontando um desvio de foco do bem-estar público em favor de interesses políticos e imobiliários. A nova gestão tem sido acusada de priorizar conchavos políticos com grandes construtoras, desviando atenção e recursos de ações mais urgentes relacionadas à arborização urbana e ao combate ao desmatamento. Essa crítica reitera a importância de incluir a população nas decisões sobre o uso do espaço público e a real necessidade de integrar áreas verdes no planejamento urbano de modo sustentável.
Com a crescente preocupação acerca dos efeitos das mudanças climáticas e da urbanização desenfreada, o debate sobre o Jardim Vertical também lança luz sobre a responsabilidade das autoridades em promover um desenvolvimento que priorize o bem-estar ambiental e a expressão cultural da cidade. Moradores que se manifestaram a favor do jardim ressaltam que, apesar de sua manutenção custosa, ele traz uma sensação de alívio em meio ao concreto e à poluição que dominaram o espaço urbano. Para muitos, o muro verde é uma melhoria estética em uma cidade que luta contra a esquizofrenia urbanística.
Reivindicações sobre a necessidade de mais verde nas ruas de São Paulo têm sido um chamado contínuo. Embora o Jardim Vertical tenha seus defensores, a conclusão parece ser a de que o desenvolvimento de ações sustentáveis, que realmente reverterão o impacto ambiental da urbanização, deve ser abordado de maneira abrangente. A criação de mais espaços verdes nas formas de parques, canteiros arborizados, e áreas de reflorestamento torna-se, portanto, uma prioridade clara numa cidade que já conta com um legado de desmatamento.
A sociedade São Paulo permanece atenta às movimentações em torno do Jardim Vertical e à promessas da nova gestão, buscando equilibrar a necessidade de embelezamento urbano com a urgente demanda por soluções que revertam a degradação ambiental e busquem uma convivência harmoniosa entre natureza e urbanidade. A cidade, em sua essência, deve se lembrar que um espaço urbano valorizado deve contar não apenas com flores e folhas, mas também com a vida pulsante de suas árvores e a expressão artística vibrante de seu povo, ambos indissociáveis na construção de uma capital inclusiva e verde.
Assim, enquanto o Jardim Vertical continua a sua jornada com suscetíveis críticas e questões não resolvidas, o desafio de tornar São Paulo mais verde e saudável permanece na mesa das discussões sobre o futuro da cidade. A esperança é que, nas próximas gestões, essa estatística não se ressoe apenas em números, mas sim em raízes profundas na terra que sustenta a todos.
Fontes: Gazeta de São Paulo, Veja São Paulo
Detalhes
João Doria é um político e empresário brasileiro, conhecido por ter sido prefeito de São Paulo de 2017 a 2018 e governador do estado de São Paulo de 2019 a 2022. Doria ganhou notoriedade por suas iniciativas de urbanismo e revitalização de áreas públicas, mas também enfrentou críticas por suas políticas de gestão urbana e por decisões controversas, como a remoção de grafites na cidade.
Resumo
O Jardim Vertical da Avenida 23 de Maio, inaugurado para revitalizar o centro de São Paulo, gerou polêmica sobre sua eficácia como solução sustentável. Desde sua criação, o espaço tem sido alvo de críticas, especialmente após o então prefeito João Doria cobrir grafites que representavam a arte urbana local. Embora o jardim tenha embelezado a área, especialistas questionam os altos custos de manutenção e sugerem que o investimento seria melhor direcionado para a plantação de árvores, que oferecem benefícios ambientais mais significativos. Moradores expressam preocupação com a real intenção das mudanças, acusando a nova gestão de favorecer interesses políticos e imobiliários em detrimento do bem-estar público. O debate sobre o Jardim Vertical reflete a necessidade de integrar áreas verdes ao planejamento urbano de forma sustentável, destacando a importância de um desenvolvimento que priorize tanto a estética quanto a saúde ambiental da cidade. Enquanto isso, a busca por mais espaços verdes continua a ser uma prioridade em São Paulo.
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