Trump propõe eliminar imposto de renda com tarifas mas especialistas rebatem

Donald Trump sugere que a substituição do imposto de renda por tarifas pode ser a solução econômica ideal, mas especialistas divergem e indicam fantasias nesse plano.

06/12/2025, 17:04

Autor: Ricardo Vasconcelos

Em uma recente declaração que levantou polêmica entre economistas e analistas políticos, o ex-presidente Donald Trump afirmou que a eliminação do imposto de renda pode se tornar uma realidade, caso as tarifas de importação sejam aumentadas. Durante um discurso, ele declarou que os recursos oriundos destas tarifas seriam suficientes para zerar a arrecadação desse tributo, uma ideia que, segundo especialistas, é considerada uma "pura fantasia". O comentário de Trump se insere no contexto da sua proposta de reformas econômicas que visam atrair investimentos e simplificar o sistema tributário dos Estados Unidos.

Entre os comentários sobre as alegações de Trump, muitos especialistas destacaram que a proposta ignora a complexidade do sistema econômico e os desafios da desigualdade existente no país. As tarifas de importação são, por definição, um imposto sobre o consumo, o que significa que uma faixa da população mais baixa – que já enfrenta dificuldades financeiras – pode ser desproporcionalmente afetada por aumentos nos preços dos produtos. A troca de um imposto sobre a renda, que é mais progressivo e baseado na capacidade de pagamento, por tarifas, que são inclusivas e afetam todos de maneira geral, é questionável.

Economistas anotaram que, enquanto a tributação do consumo é considerada por alguns como uma alternativa moderna e eficiente, a escala necessária para substituir as receitas geradas pelo imposto de renda não se sustenta. A desigualdade de riqueza nos Estados Unidos possui níveis alarmantes, com os 10% mais ricos controlando quase 90% da riqueza nacional. Isso levanta a questão de como um imposto de consumo poderia ser uma solução viável, especialmente considerando que pode-se tornar cada vez mais impossível aumentar essas tarifas sem causar impactos severos na economia local e em pequenos negócios. Assim, a narrativa de uma solução milagrosa baseada em tarifas pode precipitar mais desvantagens do que vantagens.

Uma análise mais detalhada do contexto global também levanta questões pertinentes sobre a viabilidade dessa proposta. A dependência dos consumidores americanos em relação a produtos importados indica que um aumento nas tarifas terá o efeito de elevar os preços para os consumidores, potencialmente desincentivando o consumo e afetando negativamente o crescimento econômico. Adicionalmente, se a intenção de Trump é estimular a produção local, as tarifas podem, a longo prazo, resultar em uma retração no mercado interno, já que muitas empresas começam a repassar os encargos aos consumidores.

Além disso, o modelo sugerido por Trump ignora a dinâmica complexa entre produção e importação. À medida que as tarifas aumentam, os produtores locais podem aproveitar-se da situação, aumentando também seus próprios preços, o que pode agravar a situação econômica da população. O cerne da economia moderna reside na interdependência global, e a implementação de políticas tarifárias sem um planejamento sólido poderia resultar em um ciclo vicioso de preços e agravamento de desigualdades.

Alguns comentaristas sugeriram alternativas mais eficazes para lidar com a arrecadação tributária e a desigualdade econômica, defendendo que uma abordagem mais equilibrada poderia garantir que os mais bem remunerados assumam uma parte maior do ônus fiscal, em vez de tentar equilibrar as contas às custas dos setores mais vulneráveis. Esse tipo de proposta, segundo economistas, não apenas ajudaria a combater a desigualdade, mas também garantiria uma arrecadação tributária mais estável e justa.

Muitas vozes críticas enfatizam que, nas condições atuais, o plano de Trump pode alimentar mais desilusão e divisão na sociedade, ao invés de criar um cenário de prosperidade compartilhada. A comunidade econômica espera cobrar a liderança política para que ela elabore propostas factíveis que beneficiem a todos, ao contrário das promessas que soam vazias e desconectadas da realidade.

Nesse contexto, a postura de Trump, que é frequentemente vista como um vendedor de ideias e conceitos, levanta questões sobre a responsabilidade nas promessas de políticas públicas. A crítica ao seu discurso destaca a importância de um diálogo honesto e transparente sobre as soluções para os problemas econômicos que o país enfrenta, principalmente com a proximidade das próximas eleições, onde propostas convenientes podem parecer muito atraentes, mas carecem da profundidade necessária para gerar mudanças sustentáveis.

Fontes: Folha de São Paulo, Estadão, BBC Brasil, O Globo, The New York Times