06/12/2025, 16:59
Autor: Ricardo Vasconcelos

A intensificação do conflito na Ucrânia e a necessidade de uma solução diplomática têm levado os líderes europeus a buscar uma nova abordagem, que inclui o envolvimento da China. Em uma recente visita a Pequim, o presidente francês Emmanuel Macron procurou pressionar as autoridades chinesas para que contribuíssem rumo a um cessar-fogo entre a Rússia e a Ucrânia. Contudo, o êxito dessa iniciativa é incerto, já que a China mantém uma relação estratégica com a Rússia que complica a posição europeia.
A Europa, que nas últimas décadas se acostumou com a estabilidade proporcionada por alianças como a Otan e o apoio dos Estados Unidos, enfrenta agora um novo dilema geopolítico. A Guerra da Ucrânia revelou fragilidades nas estruturas de segurança da União Europeia (UE), que historicamente pode ter se colocado em uma posição de dependência em relação a potências externas para garantir sua proteção e prosperidade. Muitos especialistas têm apontado que a situação atual não é meramente resultado de inações e indecisões, mas sim uma consequência de uma complexa teia de interdependências econômicas e políticas que evoluíram ao longo dos anos. A lembrança da Segunda Guerra Mundial, com suas implicações devastadoras, ainda ecoa nas decisões dos líderes europeus, que hesitam em rearmonizar suas forças militares em comparação ao que ocorreu no passado.
Os analistas ressaltam que as expectativas europeias em relação à China podem estar superestimadas. A China não tem um incentivo significativo para apoiar os interesses da Europa, considerando que o governo de Xi Jinping vê a Rússia como um parceiro vital na oposição ao ocidente. A cooperação econômica entre a China e a Rússia continua a florescer, enquanto a relação da China com a Europa é marcada por um grande déficit que pôs em evidência uma dependência mutua, mas com vantagens desiguais. As trocas comerciais, embora significativas, têm resultado em desindustrialização e aumento do desemprego em vários países europeus, o que desencadeia uma série de crises sociais e econômicas.
Ademais, a situação da energia na Europa, com a dependência de fontes russas, também trouxe à tona outro fator complicador. O dilema é claro: muitos países europeus ainda se veem em uma relação de necessidade em relação à Rússia para suprimento de energia, enquanto ao mesmo tempo, buscam limitar essa dependência. Essa dualidade tem dificultado a formulação de uma política externa coesa e baseada em ações que sintam os desdobramentos da situação ucraniana.
Na prática, as tentativas da Europa de envolver a China como mediador ou como força motivadora para um cessar-fogo são complexas. O comércio entre a Europa e a China é robusto, mas isso não se traduz em poder político significativo. Além disso, a política interna da China em relação a questões humanas e direitos civis se levanta como uma barreira adicional ao estabelecimento de colaborações verdadeiramente alinhadas em termos de princípios humanitários e de paz.
A visita de Macron a Pequim é um reflexo das frustrações europeias, que agora se veem em uma posição em que precisam buscar alternativas que vão além de suas fronteiras. Os líderes são confrontados pelo fato de que as potências mundiais, como Estados Unidos e China, muitas vezes possuem suas próprias agendas, que podem divergir substancialmente dos interesses europeus. A realidade é que a União Europeia não é uma potência em termos absolutos; ao contrário, ela é um ator econômico significativo que, ao longo do tempo, tem lutado com as consequências de se deixar roer por interesses externos. A história da Europa não pode ser reduzida a uma narrativa simplista de vulnerabilidade; em vez disso, é fundamental reconhecer as complexidades que definem os laços internacionais atuais e as realidades geopolíticas.
Enquanto isso, o tempo está correndo e a inação ou indecisão continuarão alimentando um ciclo vicioso de conflito e instabilidade. A Ucrânia permanece no foco da comunidade internacional, e se a Europa realmente desejar um futuro mais seguro e estável, será crucial que desenvolva uma estratégia coesa que não dependa exclusivamente de aliados externos, mas que seja capaz de se articular efetivamente dentro de sua própria realidade política e social. A questão que persiste é: até que ponto a Europa está disposta a se comprometer para forjar esses laços e garantir a resolução do conflito em curso?
Os cidadãos europeus, que, ao longo dos anos, desfrutaram de níveis de estabilidade que agora parecem estar em risco, esperam por respostas. É imperativo que as lideranças abracem uma visão que vá além de interesses imediatos e compreendam que a segurança e a paz são prerrogativas que exigem investimento e compromisso a longu prazo.
Fontes: Folha de São Paulo, Estadão, BBC News
Resumo
A intensificação do conflito na Ucrânia tem levado líderes europeus a buscar novas abordagens diplomáticas, incluindo a participação da China. O presidente francês Emmanuel Macron visitou Pequim, tentando persuadir o governo chinês a interceder por um cessar-fogo entre Rússia e Ucrânia. No entanto, a relação estratégica da China com a Rússia complica essa iniciativa. A Europa, acostumada à estabilidade proporcionada por alianças como a Otan, enfrenta um dilema geopolítico, revelando fragilidades em sua segurança. Especialistas apontam que a dependência econômica mútua entre Europa e China, marcada por desvantagens, pode estar superestimando as expectativas europeias. A dependência energética da Europa em relação à Rússia também complica a situação, dificultando a formulação de uma política externa coesa. A visita de Macron reflete frustrações europeias em um cenário onde potências como EUA e China têm suas próprias agendas. Para garantir um futuro seguro, a Europa precisa desenvolver uma estratégia que não dependa exclusivamente de aliados externos, mas que se articule dentro de sua própria realidade política e social.
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