13/09/2025, 15:01
Autor: Laura Mendes
O bolsonarismo, fenômeno político que dominou o cenário brasileiro nos últimos anos, é frequentemente entendido como um reflexo de profundas falhas na educação e nas escolhas sociais do país. Diversas opiniões e análises recentes discutem como a crise educacional brasileira, combinada com um contexto social de desigualdade e desinformação, contribuiu para a ascensão de um conservadorismo exacerbado que se manifestou sob a figura do ex-presidente Jair Bolsonaro. Ao longo das últimas décadas, o sistema educacional brasileiro enfrentou um contínuo processo de sucateamento, desde a educação básica até o ensino superior, resultando em índices que se assemelham a uma "creepypasta numérica" em termos de qualidade e acessibilidade. A falta de nenhumas discussões críticas, assim como de conteúdos que desafiem a formação de uma mentalidade crítica, propaga a cultura da ignorância, tornando-se um terreno fértil para ideais extremistas.
A educação que deveria ser libertadora e crítica, segundo o pensamento do educador Paulo Freire, tornou-se em muitos casos um meio de reprodução de desigualdades e conformismo. A proposta de incluir disciplinas que ensinem teoria do estado e direitos no ensino fundamental é uma ideia que muitos defendem como vital. Alunos que concluem anos de escolaridade sem uma compreensão básica da Constituição e dos direitos civis estão se tornando comuns, refletindo uma falha sistemática em preparar os indivíduos para participar de maneira crítica na sociedade. O cenário se torna ainda mais angustiante quando se considera que uma significativa parcela da população, no auge do que poderia ser sua formação cívica e política, está disposta a aceitar a ideia de que um golpe de Estado seria aceitável. A carência de formação em ciências humanas é um fator que se revela crucial para entender o contexto em que o bolsonarismo prosperou.
O Brasil, mesmo apresentando um gasto educacional que se equipara a países com desenvolvimentos sociais avançados, encontra seu ensino superior dominado por uma elite que se beneficia de um sistema desigual que marginaliza os menos favorecidos. Há também um aspecto cultural que permeia essa discussão: o desejo de ascensão social. Para muitos, ser parte de uma classe privilegiada traz uma sensação de poder e exclusão dos que ficaram para trás, perpetuando um ciclo de opressão. Vários comentários destacam que a educação sozinha não é capaz de transformar a mentalidade de indivíduos que vêm de famílias cujo ambiente é conservador e que compartilham valores seguidos por bolsonaristas.
Uma crítica recorrente à educação no Brasil está ligada à ideia de "aprovação automática", o que gera uma massa de estudantes que, ao invés de serem preparados para análises críticas da sociedade, são promovidos sem o devido cumprimento de metas educacionais. Essa estratégia de evitar o fracasso educacional tem se mostrado contraproducente, levando muitos a se tornarem "zumbis" nas armadilhas das redes sociais e das ideologias simplistas. A urgência em reverter esse movimento torna-se evidente: restaurar bibliotecas, implementar laboratórios de ciências e fomentar feiras de ciências são algumas das sugestões para revitalizar a educação.
Os comentários sobre as deficiências da formação educacional se estendem às áreas mais avançadas, como a medicina e as ciências sociais, onde muitos profissionais defendem ideologias que vão de encontro ao que se ensinou nas disciplinas de ética e direitos humanos. Inclusive, a tentação do “médico inteligente” foi desmistificada durante a pandemia, quando se pôde observar que mesmo profissionais altamente qualificados podiam cair na armadilha do pensamento simplista e coletivista.
A polarização política no Brasil, impulsionada pelo bolsonarismo, mais do que um simples fenômeno de rejeição ao controle ideológico anterior, reflete uma luta histórica que envolve as bases da forma como a sociedade brasileira se educa e se organiza. O contexto é complexo, e enquanto algumas vozes clamam pela necessidade de expandir o ensino das ciências humanas, outras apontam para o papel das injustiças sociais que fomentam o autoritarismo e a desigualdade.
Deste modo, o Brasil se vê diante de um paradoxo: a sociedade sempre foi capaz de transformar seu ambiente e gerar líderes que têm o potencial de mudar o curso da história. No entanto, a falta de uma formação adequada e de discussão sobre direitos, política e história, tem se mostrado um entrave significativo. O futuro da educação brasileira poderá determinar não somente a formação de novas mentes críticas e informadas, mas também os rumos que a democracia brasileira poderá tomar. A dor ou a alegria do futuro pode estar nas mãos de uma nova estrutura educacional que desafie, amplie e conecte a juventude a uma visão plural, inclusiva e efetivamente libertadora.
Fontes: Estadão, Folha de São Paulo, O Globo, UOL
Resumo
O bolsonarismo, fenômeno político que dominou o Brasil, é frequentemente visto como resultado de falhas na educação e nas escolhas sociais do país. A crise educacional, aliada à desigualdade e desinformação, facilitou a ascensão de um conservadorismo radical, representado pelo ex-presidente Jair Bolsonaro. O sistema educacional brasileiro tem enfrentado um processo de sucateamento, resultando em uma formação que reproduz desigualdades e conformismo, em vez de promover uma mentalidade crítica. A falta de discussões sobre direitos e cidadania nas escolas contribui para a aceitação de ideias extremistas. Apesar do investimento em educação, o ensino superior é dominado por uma elite, marginalizando os menos favorecidos. A crítica à "aprovação automática" revela a promoção de estudantes sem a devida preparação, criando indivíduos vulneráveis a ideologias simplistas. A polarização política reflete uma luta histórica sobre a educação e a organização social no Brasil. O futuro da educação poderá determinar a formação de novas mentes críticas e o destino da democracia no país.
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