A inteligência artificial desafia a percepção do valor e do trabalho artístico

A crescente utilização da inteligência artificial na produção artística levanta questões sobre o valor da arte e o futuro dos artistas em um mercado em transformação.

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29/12/2025, 00:44

Autor: Laura Mendes

Uma ilustração vibrante representando uma batalha cultural moderna entre humanos e inteligência artificial, com um artista humano lutando contra máquinas, em um cenário de galeria de arte, com quadros abstratos e padrões de Arte moderna contrastando com obras clássicas. A cena deve transmitir uma atmosfera de tensão criativa e empoderamento, simbolizando a luta pela expressão artística em um mundo dominado por tecnologia.

Nos últimos anos, a evolução da inteligência artificial (IA) provocou mudanças significativas em diversas indústrias, com a arte não sendo uma exceção à regra. O fenômeno da IA gerando obras com rapidez e precisão tem suscitando um debate fervoroso sobre o desemprego e o desdém por artistas humanos. As redes sociais estão repletas de comentários de usuários que clamam pela obsolescência dos artistas em favor de obras criadas por máquinas, sinalizando uma divisão crescente na sociedade em relação ao significado da arte e ao valor do trabalho criativo.

Os críticos dessa nova onda tecnológica frequentemente se sentem desvalorizados e ameaçados. A argumentação que permeia esses comentários gira em torno de um pressuposto: a ideia de que a IA pode criar arte que não apenas rivaliza, mas ultrapassa obras feitas por humanos. Contudo, essa perspectiva ignora a essência da criação artística, que é, em última análise, uma expressão da experiência e da subjetividade humana. Alguns críticos argumentam que a IA não consegue transmitir a "alma" por trás da arte, uma característica que só os humanos podem aportar a suas criações.

Uma análise mais aprofundada sobre a percepção do trabalho artístico revela um abismo entre a visão de quem acredita que qualquer produção visual pode ser classificada como arte e aqueles que consideram a arte uma forma de expressão única e valiosa. Esse abismo se torna evidente quando se observa a reação de certos grupos que parecem ver a ascensão da IA como um tipo de vingança contra a "classe de artistas". Para muitos, essa é uma forma de retaliação contra o que consideram um elitismo cultural, onde artistas são vistos como uma classe privilegiada e afastada do "trabalho real". Essa visão distorcida ignora a complexidade do labor artístico, que exige dedicação, estudo e muita prática.

Por outro lado, há aqueles que argumentam que a inflação de produções artísticas geradas por IA não diminuem o valor da arte, mas transformam a maneira como se identifica e consome cultura. Esse novo panorama pode levar a uma nova valorização do que é considerado "artesanal", onde o toque humano e a história por trás da criação ganham um peso ainda maior. Como exemplo, a situação dos queijos artesanais é trazida à tona: a diferença de custo entre queijos industriais e artesanais está ligada ao que está em jogo na experiência de consumo e ao valor emocional que um produto produzido por um humano pode ter.

As comparações feitas em algumas declarações revelam uma ausência de respeito pela prática artística. Críticos alegam que artistas que se opõem ao uso da IA na arte estão apenas lutando para preservar suas próprias carreiras, enquanto a verdadeira questão em jogo é aquilo que significa ser um criador de arte. Um espectro de ressentimento e incompreensão permeia as discussões, com alguns indivíduos até mesmo usando a ascensão da IA como uma forma de desmerecer a habilidade e o valor do próprio ato criativo humano.

Outro aspecto relevante nesse debate diz respeito à "cultura da comodidade", onde a solução mais fácil e rápida é frequentemente favorecida, mesmo que isso minimize o peso emocional e a profundidade da expressão criativa. A procura por conveniências alimenta uma cultura crítica em relação a processos que levam tempo e exigem dedicação, fazendo parecer que todo o tempo investido em aprendizado e prática é desnecessário. Isso não só desmerece o trabalho dos artistas como também esvazia o que a arte tem de mais profundo.

Ademais, ao tratar a produção artística como mera mercadoria, há o risco de despojar a arte de sua "aura", como pontuou o filósofo Walter Benjamin. Nesse sentido, a arte torna-se algo frio e impessoal, algo que pode ser comprado como qualquer outro produto, sem a conexão emocional que tradicionalmente une o artista ao público. A falta de um "artista" no processo de criação da IA é uma questão debatida com fervor por muitos, que acreditam que a produção gerada por máquinas não deve ser considerada arte.

No entanto, a resistência à adoção da inteligência artificial na criação artística representa um desafio em si. À medida que a tecnologia avança e se torna mais integrada ao cotidiano, a necessidade de redefinir aquilo que consideramos arte se torna ainda mais premente. As futuras gerações de criadores terão que lidar com as complexidades e contradições que essa nova era traz, enquanto o público busca entender o que significa realmente valorizar a arte em um mundo saturado de opções geradas por algoritmos.

Impulsionados pela emoção e pela narrativa, é essencial que os artistas e os consumidores de arte enfrentem esse desafio juntos, buscando formas de coexistência entre a criação humana e a capacidade da inteligência artificial de gerar novas estéticas. Por fim, o debate sobre a relação entre arte e tecnologia é apenas o início de uma conversa mais ampla sobre o lugar da criatividade humana na sociedade contemporânea, que pode perfeitamente coexistir com as novas ferramentas criativas que a IA proporciona.

Fontes: Jornal de Cultura, Folha de São Paulo, Estadão, The New Yorker

Resumo

Nos últimos anos, a inteligência artificial (IA) tem transformado diversas indústrias, incluindo a arte, gerando debates sobre o futuro do trabalho criativo. Muitos artistas se sentem ameaçados pela capacidade da IA de produzir obras que rivalizam com as humanas, levantando questões sobre a essência da criação artística e a subjetividade que os humanos trazem a suas obras. Enquanto alguns veem a ascensão da IA como uma retaliação ao elitismo cultural dos artistas, outros argumentam que a proliferação de arte gerada por máquinas pode enriquecer a valorização do trabalho artesanal. Críticos apontam que a "cultura da comodidade" favorece soluções rápidas em detrimento da profundidade emocional da arte, desmerecendo o esforço dos criadores. A produção artística, tratada como mercadoria, corre o risco de perder sua "aura", conforme discutido pelo filósofo Walter Benjamin. À medida que a tecnologia avança, a necessidade de redefinir o que é arte se torna urgente, e a coexistência entre a criatividade humana e a IA é um desafio que artistas e consumidores devem enfrentar juntos.

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