17/12/2025, 12:34
Autor: Felipe Rocha

A guerra em curso na Ucrânia, que teve início em fevereiro de 2022, vem provocando uma série de mudanças geopolíticas que impactam diretamente a relação entre China e Rússia. Em meio a essas transformações, a China se estabelece como uma das grandes beneficiárias do atual cenário, ao ampliar sua influência econômica sobre o território russo. Ao mesmo tempo, a ruptura das relações da Rússia com o Ocidente está gerando uma nova dependência econômica de Moscou em relação a Pequim, posicionando a China como um ator ainda mais relevante na geopolítica regional.
Pela primeira vez em sua história, a China atingiu um superávit comercial recorde, sinalizando uma resiliência nas exportações apesar das crescente tarifas impostas pela União Europeia e pelos Estados Unidos. Analistas comentam que essa situação, embora tenha suas desvantagens, pode ser vista sob uma nova luz à medida que Pequim se integra ainda mais ao mercado russo. Com a Rússia tornando-se uma parceira júnior diante da dependência do fulcro energético e comercial, os preços das commodities energéticas se tornam favoráveis a Pequim. Isso se traduz em uma posição estratégica vantajosa para a China, que obtém agora recursos energéticos a preços reduzidos, além de fortalecer sua presença no mercado russo com produtos e marcas próprias.
A dinâmica entre China e Rússia se complica ainda mais ao considerarmos que, enquanto a Rússia busca alternativas para contornar as sanções ocidentais, a fundamental necessidade do país de energia e investimentos gira cada vez mais em direção à China. Essa situação gerou um fenômeno interessante: a China foca em fortalecer sua posição econômica, ao mesmo tempo em que mantém uma ambiguidade em relação ao apoio declarado à guerra. Ao não tomar uma posição clara, a China preserva sua flexibilidade política e amplia seus laços com Moscou, o que lhe permite explorar os benefícios dessa nova realidade.
Porém, a questão econômica não é a única que necessita de atenção. A interdependência crescente entre Rússia e China levanta preocupações, não apenas sobre os desequilíbrios de poder, mas também sobre os rumos da política externa de ambos os países. Observadores apontam que a Rússia, ao ser "prisioneira" da necessidade de apoio econômico chinês, pode ver sua autonomia estratégica comprometida. Isso se traduz em um cenário onde as decisões russas em ambientes internacionais podem ser fortemente influenciadas pela China, levando a uma diminuição do capital político russa no âmbito global.
Ao mesmo tempo, a guerra não tem apresentando urgência para a China pressionar Moscou a interromper as operações militares. A razão para isso é clara: enquanto o conflito perdura, a China continua desfrutando de um cenário que lhe oferece acesso a recursos e oportunidades no mercado russo, mantendo uma postura neutra que maximiza seus benefícios, sem se expor diretamente. Essa posição revela uma estratégia bem pensada por parte dos líderes chineses, que evitam se envolver no conflito, mas ao mesmo tempo se mostram capazes de alavancar sua influência nas arestas da guerra.
É importante ressaltar que a discussão sobre essa dinâmica é complexa. Uma visão simplista da questão sugere que a guerra na Ucrânia é apenas um ponto de contenção para a China, mas, na realidade, ela pode se desdobrar em outras dimensões que vão além do comércio. Na verdade, os eventos em andamento estão criando um novo padrão na geopolítica contemporânea, levando a uma reavaliação constante das alianças tradicionais de poder e a formação de novas colaborações inesperadas. Além disso, a região da Ásia e suas múltiplas interações, considerando a presença norte-americana e europeia, também se veem desafiadas.
Por fim, as consequências da guerra na Ucrânia se estendem até os confins da Ásia, onde a presença de potências emergentes como a China torna-se cada vez mais evidente. À medida que a guerra continua, a fragilidade da posição russa e a crescente influência chinesa devem ser observadas atentamente. O desfecho dessa nova dinâmica poderá moldar a política internacional na próxima década, e entender esses desdobramentos é fundamental para uma análise mais ampla das relações internacionais contemporâneas.
Fontes: Folha de São Paulo, The Economist, Financial Times
Resumo
A guerra na Ucrânia, iniciada em fevereiro de 2022, está provocando mudanças significativas nas relações geopolíticas entre China e Rússia. A China se destaca como uma beneficiária do cenário atual, aumentando sua influência econômica na Rússia, que se torna cada vez mais dependente de Pequim devido à ruptura com o Ocidente. A China alcançou um superávit comercial recorde, reforçando sua posição no mercado russo e obtendo recursos energéticos a preços reduzidos. Essa interdependência levanta preocupações sobre a autonomia estratégica da Rússia, que pode ver suas decisões internacionais influenciadas pela China. Enquanto isso, a China mantém uma postura neutra em relação ao conflito, aproveitando as oportunidades econômicas que surgem com a guerra. A situação é complexa, pois a guerra não é apenas um ponto de contenção, mas também um fator que redefine alianças e colaborações na geopolítica contemporânea. As consequências desse conflito se estendem até a Ásia, onde a influência chinesa se torna cada vez mais evidente, moldando a política internacional para a próxima década.
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