12/12/2025, 11:59
Autor: Laura Mendes

Em um movimento considerado crucial para a indústria de gado nos Estados Unidos, a Administração de Alimentos e Medicamentos (FDA) aprovou um novo medicamento da Merck destinado a tratar infecções causadas pela mosca-da-bicheira, uma das pragas mais devastadoras que afetam o gado. Com uma economia anual estimada em 900 milhões de dólares desde a erradicação da mosca-da-bicheira na década de 1960, a reaparição dessa praga representa um desafio significativo para pecuaristas e autoridades de saúde animal. Esse medicamento surge após um aumento alarmante de casos da infestação, que estava, em grande parte, sob controle devido a programas de biocontrole implementados nos últimos 50 anos.
A mosca-da-bicheira, que coloca ovos em feridas abertas de animais, leva à formação de larvas que consomem tecido vivo, resultando em feridas enormes que podem provocar infecções graves e até a morte do animal se não tratadas. O impacto econômico e a dor infligida a esses animais foram atenuados por esforços anteriores que envolviam a libertação de moscas machos estéreis, impedindo a reprodução da praga. No entanto, questões como o financiamento reduzido de programas de prevenção e a crescente preocupação com o comércio ilegal de gado, principalmente da América do Sul, têm reaberto as portas para o retorno dessa ameaça.
Embora o novo tratamento da Merck ofereça uma solução imediata em um cenário de emergência, especialistas estão preocupados com os efeitos colaterais potenciais e a eficácia de um tratamento farmacológico em um setor que tradicionalmente depende de métodos biológicos e preventivos. O debate acirrado em torno dessa nova abordagem é fundamentado por histórias passadas, como o escândalo envolvendo o Vioxx, medicamento que participou de um caso de responsabilidade civil devido a efeitos adversos graves que impactaram a saúde pública.
A luta contra a mosca-da-bicheira não é apenas uma questão de saúde animal, mas também reflete o estado da agricultura americana e suas políticas. Em meio a cortes de financiamento por parte de administrações recentes, a efetividade das estratégias de controle de pragas começa a ser questionada. Soros, críticos notaram que a paralisação do financiamento necessário para o combate ao parasita foi um fator facilitador para o surto atual. A dissolução de agências como a USAID e a interrupção de programas de ajuda internacional principalmente sob o governo Trump levantam preocupações sobre a capacidade do setor público de proteger os rebanhos e a economia agrícola.
Além disso, o sucesso do tratamento em questão será muito dependente da rápida adesão pelos pecuaristas e da disposição em adotar novas práticas de saúde animal. As preocupações sobre a saúde a longo prazo do rebanho, associadas a possíveis efeitos adversos dos medicamentos, geraram um nível de desconfiança que poderá atrasar a aceitação geral. Alguns produtores expressaram a necessidade de mais dados e estudos sobre a segurança do remédio antes de comprometê-lo a uma população já vulnerável.
Historicamente, o combate à mosca-da-bicheira teve um forte componente de colaboração transnacional e dependia de iniciativas de ajuda externa para garantir que a praga não se disseminasse para o norte das fronteiras americanas. Os novos casos instigam um debate mais amplo sobre a abordagem que os Estados Unidos devem adotar em relação à segurança alimentar e saúde animal, especialmente em um clima político polarizado.
Vale notar que as alegações em torno do novo medicamento variam, e enquanto algumas mensagens indicam um retorno temporário à eficácia no controle de surtos, outras levantam questões sobre o retorno a uma prática aceitável de manejo agropecuário sustentável e à segurança alimentar de longo prazo. Para uma abordagem centrada na saúde, é primordial um compromisso contínuo não só com os tratamentos, mas com a educação e a conscientização dos bovinocultores sobre novos desafios, desde práticas de manejo inovadoras até o fortalecimento de sistemas de monitoramento para prevenir a reintrodução de pragas.
Enquanto o FDA se prepara para supervisionar a implementação do medicamento aprovado, a indústria agropecuária no país aguarda com expectativa e uma dose de ceticismo para ver como essa nova ferramenta irá mudar o cenário da saúde animal e a economia rural. O futuro do gado e sua produção no país poderão depender de uma combinação de inovação científica e métodos tradicionais que historicamente já se provaram eficazes. O retorno da mosca-da-bicheira não é apenas uma luta contra um parasita, mas um teste para as políticas de saúde animal e a capacidade de resposta em tempos de crise.
Fontes: Folha de São Paulo, The Guardian, USDA, Merck
Detalhes
A Merck & Co., Inc., conhecida simplesmente como Merck, é uma das principais empresas farmacêuticas do mundo, com sede em Kenilworth, Nova Jersey. Fundada em 1891, a empresa é reconhecida por suas inovações em medicamentos e vacinas para diversas áreas da saúde, incluindo oncologia, cardiologia e saúde animal. A Merck tem um compromisso com a pesquisa e desenvolvimento, buscando soluções que melhorem a qualidade de vida e a saúde pública global.
Resumo
A Administração de Alimentos e Medicamentos (FDA) dos Estados Unidos aprovou um novo medicamento da Merck para tratar infecções causadas pela mosca-da-bicheira, uma praga que representa um desafio significativo para a indústria de gado. A reaparição dessa praga, que havia sido controlada desde a década de 1960, é atribuída a cortes de financiamento em programas de prevenção e ao comércio ilegal de gado. O novo tratamento, embora promissor, levanta preocupações sobre efeitos colaterais e a eficácia em um setor que historicamente depende de métodos biológicos. A aceitação do medicamento pelos pecuaristas pode ser lenta, dada a desconfiança em relação a soluções farmacológicas. Além disso, o combate à mosca-da-bicheira reflete questões mais amplas sobre a saúde animal e a segurança alimentar nos Estados Unidos, especialmente em um contexto político polarizado. A implementação do medicamento será supervisionada pelo FDA, e a indústria agropecuária observa com expectativa e ceticismo a eficácia dessa nova ferramenta.
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