16/09/2025, 12:28
Autor: Ricardo Vasconcelos
Nos últimos anos, uma crescente contradição tem tomado conta do mercado de trabalho no Brasil: o aumento da quantidade de vagas que exigem inglês fluente, mesmo em funções que, na prática, não demandam esse nível de conhecimento. Dados recentes mostram que o desemprego no Brasil recuou para 5,6%, o menor nível da série histórica, e o número de trabalhadores alcançou o recorde de 102,4 milhões. Entretanto, essa realidade não tem se refletido na forma como as empresas recrutam seus candidatos, gerando discussões sobre a necessidade e a eficácia de tais exigências.
Entre os candidatos, a angústia é palpável. Muitos profissionais se veem obrigados a adicionar "inglês fluente" em seus currículos, mesmo que não tenham a prática do idioma ou que a vaga não o exija de fato. Essa situação foi evidenciada recentemente em um comentário que circulou nas redes sociais, onde uma recrutadora afirmou que os candidatos que não falam inglês nem deveriam se candidatar a vagas que exigem o idioma. O descontentamento veio à tona, com muitos ressaltando que a realidade das contratações muitas vezes não condiz com as exigências listadas.
Assim, surge a necessidade de se questionar: será que as empresas estão, de fato, utilizando o inglês como critério fundamental para suas contratações? Diversos relatos indicam que, mesmo em entrevistas onde o inglês é testado, muitos profissionais nunca utilizam o idioma no cotidiano dentro da empresa. Em algumas situações, estagiários de engenharia de software, por exemplo, relatam ter sido contratados após entrevistas em inglês, mas sem nenhum uso prático da língua no trabalho.
A situação é ainda mais complicada quando consideramos o contexto atual do mercado de trabalho. Muitas vezes, as empresas impõem requisitos desnecessários que acabam gerando um ciclo vicioso de frustração tanto para candidatos quanto para recrutadores. Comentários de trabalhadores assinalam que a exigência de fluência em inglês, sem a necessidade real, acaba por alienar os profissionais que precisam de um emprego. Para eles, o retorno das aplicações se torna um labirinto de requisitos que não correspondem à realidade do cargo.
Adicionalmente, existe o fenômeno do que muitos chamam de "gourmetização" das exigências. Há uma percepção crescente de que as empresas, ao pedirem inglês fluente, estão tentando criar uma imagem de diversidade ou de atuação internacional, quando na verdade essas expectativas estão distantes do que é realmente necessário para o cargo. Muitos candidatos experimentam a frustração de participar de processos seletivos que se concentram em habilidades que não serão aproveitadas no dia a dia da função.
Outra crítica recorrente é sobre a condução das entrevistas e a dinâmica de avaliação imposta pelos recrutadores. Há uma forte demanda por um recrutamento mais humano, que considere não apenas as competências técnicas, mas também a capacidade de cada candidato de desempenhar a função. Muitas vezes, a situação do entrevistado é desconfortável, pois são expostos a condições que os fazem se sentir inadequados, levando a uma performance abaixo do que são realmente capazes.
A pressão se intensifica para aqueles que, por mais que tenham conhecimento do idioma, ainda sentem a insegurança de se expressar em inglês durante uma entrevista. A fluência não se trata apenas de dominar o vocabulário, mas de lidar com a ansiedade que a situação gera. Entrevistadores são igualmente humanos e, pelo que muitos reconhecem, muitos deles também carecem de apoio na condução de entrevistas, refletindo a cultura do pânico e a pressão oriunda das exigências corporativas e do mercado.
Os comentários deixam claro que enquanto houver bagunça na definição das competências exigidas nas vagas de emprego, os trabalhadores continuarão a pressionar por mudanças. A erguer um clamor pelo controle do mercado de trabalho, onde cada habilidade pedida deve corresponder às atividades diárias, a ideia de implementar um sistema de "downvote" nas redes como o LinkedIn surge como uma forma de controlar as expectativas exageradas.
Portanto, em meio às tensões entre candidatos e recrutadores, é essencial que as empresas reavaliem suas exigências. A busca por chapéus na contratação pode parecer lógica, mas sem um fundamento real nos cargos disponíveis, ela poderá apenas perpetuar as frustrações e as barreiras que separaram muitos trabalhadores de suas reais capacidades. Por fim, está cada vez mais claro que o mercado de trabalho precisa de uma abordagem mais equilibrada entre habilidades exigidas e funções oferecidas, um fator vital na equação de talentos e conteúdo produtivo nas empresas brasileiras.
Fontes: Globo, Valor Econômico, Folha de São Paulo
Resumo
Nos últimos anos, o mercado de trabalho brasileiro tem enfrentado uma contradição crescente: a demanda por inglês fluente em vagas que, na prática, não exigem tal habilidade. Apesar da taxa de desemprego ter caído para 5,6%, o que representa o menor nível histórico, muitos candidatos se sentem pressionados a incluir "inglês fluente" em seus currículos, mesmo sem domínio do idioma. Comentários nas redes sociais de recrutadores indicam que a fluência é considerada essencial, gerando descontentamento entre os profissionais. Relatos mostram que, em entrevistas, muitos não utilizam o inglês no dia a dia da empresa, levando a um ciclo de frustração. Além disso, a chamada "gourmetização" das exigências tem criado uma imagem distorcida de diversidade. A condução das entrevistas também é criticada, com a necessidade de um recrutamento mais humano. A insegurança dos candidatos em se expressar em inglês durante as entrevistas é um fator que contribui para a pressão. É fundamental que as empresas reavaliem suas exigências para alinhar as competências solicitadas com as funções reais, promovendo um ambiente de trabalho mais produtivo e menos frustrante.
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