11/12/2025, 12:12
Autor: Laura Mendes

A diversidade da culinária espanhola e portuguesa é marcada por uma rica história de migrações, encontros e trocas culturais. Enquanto muitos pratos desses países conseguiram alcançar popularidade em diversas nações da América Latina, outros permanecem menos conhecidos ou adaptados às tradições locais, gerando um intercâmbio fascinante que reflete tanto as semelhanças quanto as diferenças entre as culturas. Este fenômeno alimentício é, em grande medida, resultado das trocas gastronômicas ocorridas ao longo dos séculos, especialmente durante a colonização. Embora a América Latina tenha abraçado muitos elementos culinários da Península Ibérica, a geografia, os produtos locais disponíveis e as preferências de sabor têm moldado o que se tornou popular e o que não teve sucesso.
Um exemplo notável é o gazpacho, uma deliciosa sopa fria composta por tomate, pepino, pimentão e alho, que é destaque na culinária espanhola, especialmente na região da Andaluzia. No entanto, suas variantes, como o "tabule" brasileiro, mostram como a adaptação se dá nos sabores e nos ingredientes usados, refletindo as preferências locais. Enquanto os brasileiros preferem uma combinação de cebola, trigo para quibe e azeite, o gazpacho se mantém muito distinto de sua origem, com cada cultura adaptando-o ao seu próprio paladar.
Outro aspecto interessante é a preferência por carne de porco na Espanha em comparação com países latino-americanos, onde esse tipo de carne não é consumido com a mesma frequência. Comidas como cochinillo, um leitão assado, são celebradas em festividades espanholas, enquanto a variedade de pratos com porco não é tão extensa em grande parte da América Latina. Além disso, pratos como a paella, tradicional da região de Valência, foram adaptados na América Latina, mas se estabeleceram mais como inspiração do que como cópias.
A questão das angulas, pequenas enguias que são um prato de luxo em algumas regiões da Espanha, é um exemplo de como ingredientes raros podem não encontrar um espaço no mercado latino-americano. Mesmo em algumas partes da Espanha, as angulas são conhecidas como uma iguaria muito cara, com um quilo podendo custar mais de mil euros. Essa característica as torna muito menos acessíveis para a maioria da população, e a falta de um mercado robusto para angulas na América Latina reflete as preferências por outros mariscos mais comuns e econômicos.
O uso de especiarias e temperos também ilustra as diferenças na culinária. Os espanhóis têm uma forte tradição no uso de páprica, especialmente em pratos de arroz, sendo os frutos do mar frequentadores regulares do cardápio. Em contrapartida, muitas culturas na América Latina utilizam especiarias do novo mundo como pimenta, com uma variedade impressionante de molhos e preparações. O impacto da troca colombiana permanece aqui, onde ingredientes como batatas, tomates e milho foram incorporados e trouxeram uma nova dinâmica aos pratos.
Além disso, alguns pratos de frutos do mar, como as sopas tradicionais que usam ingredientes do mar, são comuns na Espanha, mas se tornam mais raros na América Latina, onde a diversidade dos produtos locais pode resultar em variações culinárias. No entanto, é possível encontrar sopas que retratam a cultura local, como as que combinam frutos do mar com outros ingredientes locais.
Finalmente, um prato que gera curiosidade é o bacalhau, muito celebrado em Portugal, mas que pode não ter a mesma incidência em alguns contextos latino-americanos. Apesar de algumas adaptações, muitos brasileiros conhecem o bolinho de bacalhau, mostrando uma conexão cultural entre as tradições portuguesas e brasileiras, embora a forma e os ingredientes possam variar.
Enquanto a culinária espanhola e portuguesa continuam a influenciar as tradições alimentares na América Latina, as adaptações são inevitáveis e refletem tanto as riquezas dessas culturas quanto as características únicas de cada país. Essa intersecção de sabores é um exemplo de como a comida pode contar histórias de migrações, laços familiares e celebrações, unindo diferentes influências em uma experiência única e saborosa. A culinária, em última análise, é uma expressão viva dessa história compartilhada, convidando todos a experimentar e apreciar a diversidade que se apresenta nos pratos que chegam à mesa.
Fontes: El País, BBC, Gastronomía Española, Folha de São Paulo
Resumo
A culinária espanhola e portuguesa é rica em diversidade, influenciada por uma história de migrações e trocas culturais. Muitos pratos desses países se tornaram populares na América Latina, enquanto outros foram adaptados às tradições locais, refletindo semelhanças e diferenças culturais. O gazpacho, por exemplo, é uma sopa fria típica da Espanha, mas o "tabule" brasileiro mostra como os ingredientes e sabores podem ser modificados conforme as preferências locais. A carne de porco é amplamente consumida na Espanha, com pratos como cochinillo, enquanto sua popularidade é menor na América Latina. A paella, originária da Valência, também foi adaptada, mas se tornou mais uma inspiração. Ingredientes raros, como angulas, são considerados luxuosos na Espanha e não têm espaço no mercado latino-americano. O uso de especiarias também varia, com a páprica sendo comum na Espanha e pimentas do Novo Mundo predominando na América Latina. Pratos de frutos do mar e o bacalhau, celebrado em Portugal, mostram adaptações culturais, como o bolinho de bacalhau no Brasil. Essas trocas culinárias revelam histórias de migrações e conexões culturais.
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