Crescimento do conservadorismo global reflete crise econômica e social

O aumento de governos conservadores no mundo se relaciona com crises econômicas e descontentamento social, com impactos significativos nas políticas públicas.

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20/09/2025, 17:53

Autor: Ricardo Vasconcelos

Uma multidão diversa em uma manifestação política, segurando cartazes com mensagens de apoio a ideologias conservadoras e críticas às desigualdades econômicas. O fundo exibe prédios modernos e tradicionais, simbolizando a tensão entre o novo e o antigo na sociedade contemporânea.

Nas últimas décadas, uma onda crescente de conservadorismo político tem se manifestado em diversas partes do mundo, com países se movendo em direções mais à direita em resposta a crises econômicas e descontentamento social. Esta mudança é profunda e multifacetada, avaliada por especialistas como um reflexo das crescentes desigualdades de riqueza e das tensões culturais decorrentes da migração. O fenômeno, observado em nações desenvolvidas, levanta questões sobre as causas subjacentes que impulsionam esse shift político e seu impacto em políticas públicas.

Estudos apontam que o crescimento econômico moderado e as crescentes disparidades na distribuição de renda têm contribuído para a insegurança entre a população. Desde os anos 1970, a maioria dos ganhos econômicos foi concentrada nas mãos de uma elite, enquanto a classe trabalhadora enfrenta estagnação salarial e precarização das condições de vida. O sentimento de que a economia opera como um “jogo de soma zero”, onde o ganho de um indivíduo é a perda de outro, é uma preocupação crescente, especialmente entre os jovens que se veem em desvantagem em relação à geração anterior.

Além disso, a falta de moradia acessível tem impossibilitado muitos jovens de alcançarem a propriedade de suas casas, um marco frequentemente associado à transição para a idade adulta e sucesso financeiro. As dificuldades enfrentadas pelas classes mais baixas, em combinação com as políticas de austeridade implementadas por governos neoliberais após crises financeiras, resultaram na degradação dos serviços públicos. A insatisfação com a qualidade dos serviços prestados pelo Estado gerou demandas por cortes de impostos que, paradoxalmente, levaram a mais degradação.

A ascensão das ideologias de direita populistas tem explorado essa incerteza econômica, colocando imigrantes e minorias como bodes expiatórios das frustrações sociais. A retórica anti-imigração tem ganhado força, impulsionada por narrativas de que a cultura nacional está ameaçada por fluxos migratórios. Esforços populistas, que muitas vezes se utilizam de desinformação e manipulação por meio de redes sociais, se aproveitam deste fenômeno, fomentando uma percepção negativa das consequências da imigração em contextos econômicos já frágeis.

Ademais, a globalização e os fluxos migratórios têm exacerbado as tensões culturais em diversas nações, especialmente nas mais desenvolvidas. A percepção de que países ricos não conseguem controlar a imigração, aliada ao aumento de viajantes e comunicadores das realidades de países mais pobres que buscam vidas melhores, contribui para a resistência a esse fenômeno. Em muitos casos, a democracia tem sido pressionada, com a elite econômica percebendo-a como uma ameaça à sua posição dominante. Noam Chomsky expressou essa visão ao destacar a dificuldade de coexistência entre democracia e desigualdade de riqueza, uma afirmação que ressoa com os sentimentos de muitos críticos do sistema atual.

Dentre os fatores estruturais que contribuem para essa tendência global em direção à direita, está a significativa concentração de riqueza nas mãos de poucos. Nos Estados Unidos, cortes fiscais promovidos por presidentes desde George W. Bush até Joe Biden favoreceram os ultrarricos, culminando em déficits críticos em serviços essenciais e na educação. O resultado é que uma parcela da população se sente empurrada a apoiar medidas extremas de direita, acreditando que isto trará soluções rápidas para desafios complexos.

A resposta à crise da qualidade de vida que muitos enfrentam após a pandemia de Covid-19 também merece destaque. Com a inflação crescente e o descontentamento em alta, a confiança nas instituições democráticas diminui. Sentimentos de insegurança e desamparo têm alimentado uma onda de antipatia contra os já marginalizados, enquanto blocos era econômicos buscam simplificar as raízes de uma crise complexa por meio do revanchismo cultural e social.

O significado de ser conservador também se transformou ao longo dos últimos anos; a antiga definição de um compromisso com a economia de mercado e governança mínima foi rapidamente substituída por uma postura primordialmente anti-imigração, refletindo uma mudança de paradigmas na forma como a política contemporânea é percebida. Este novo conservadorismo gosta de se apoiar em narrativas simplistas que ignoram as complexidades das questões sociais e econômicas, oferecendo soluções que muitas vezes envolvem a marginalização de minorias e a supressão de direitos.

Portanto, enquanto o mundo enfrenta desafios sem precedentes em termos de desigualdade e descontentamento político, o futuro dos sistemas democráticos à medida que enfrentam a ascensão do conservadorismo se torna incerto. É fundamental que se considere o papel das políticas públicas e o engajamento cívico na busca por soluções que tratem das desigualdades econômicas e sociais, em vez de permitir que medos e preconceitos definam o debate público. A resposta de uma nova governança que reintegre valores democráticos e busca a redistribuição justa de recursos pode ser uma alternativa vital para evitar um futuro distópico.

Fontes: Folha de São Paulo, The Guardian, Financial Times, BBC News

Resumo

Nas últimas décadas, o conservadorismo político tem crescido em várias partes do mundo, impulsionado por crises econômicas e descontentamento social. Especialistas apontam que as crescentes desigualdades de riqueza e tensões culturais, especialmente relacionadas à migração, são fatores centrais desse fenômeno. Desde os anos 1970, a maioria dos ganhos econômicos tem sido concentrada em uma elite, enquanto a classe trabalhadora enfrenta estagnação e precarização. A falta de moradia acessível e a degradação dos serviços públicos, exacerbadas por políticas de austeridade, aumentam a insatisfação popular. Ideologias de direita populistas têm explorado essa incerteza, utilizando a retórica anti-imigração para canalizar frustrações sociais. A globalização e a imigração intensificam tensões culturais, levando a uma resistência crescente em países desenvolvidos. A concentração de riqueza e cortes fiscais favorecendo os mais ricos têm contribuído para a radicalização política. A pandemia de Covid-19 e a inflação crescente também alimentam descontentamento, enquanto o conservadorismo contemporâneo se transforma, focando mais em narrativas anti-imigração. O futuro das democracias, diante do crescimento do conservadorismo, é incerto e demanda um engajamento cívico para abordar desigualdades.

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