11/12/2025, 11:15
Autor: Laura Mendes

No dia 9 de outubro de 2023, o Canadá se tornou o primeiro país do mundo a listar oficialmente a rede extremista conhecida como 764 como uma organização terrorista. A decisão levantou questões sobre as táticas de recrutamento e a influência que grupos radicais exercem sobre jovens, especialmente nas plataformas de mídia social. Os efeitos dessa classe recém-formada de grupos extremistas têm gerado preocupações sobre a segurança pública e a proteção de menores na internet.
Esse movimento do governo é uma resposta a diversos incidentes que têm sido associados a essa rede. O grupo, que supostamente usa plataformas populares entre jovens, como Discord e outras redes sociais, tem sido acusado de manipular e extorquir adolescentes, levando-os a cometer atos de violência, automutilação e até pornografia infantil. A polícia canadense prendeu recentemente um adolescente de 14 anos em Lethbridge, Alberta, por supostamente fazer parte do 764 e estar envolvido na produção e distribuição de conteúdo sexual ilegal. Mais alarmante, outro caso em Halifax revelou um jovem acusado de utilizar as mesmas táticas para se comunicar com centenas de outros jovens globalmente, configurando uma rede de exploração e abuso.
As raízes desse fenômeno podem ser ampliadas quando se considera que, segundo relatos, membros do 764 não se limitam apenas às interações digitais, buscando também influência e embasamento ideológico em comunidades de ataque e em outras entidades mais radicais. Há indícios de que essas redes são mais do que simples associações online, sendo, na verdade, uma ferramenta de “guerra híbrida” utilizada por indivíduos ou grupos com agendas extremistas, inclusive em sua interação com dispositivos e tecnologias da informação. Adicionalmente, a possibilidade de envolvimento de elementos criminosos mais amplos, como gangues e organizações paramilitares, aponta para um cenário ainda mais complexo.
Uma pesquisa mais aprofundada revela que o aumento da radicalização e do extremismo juvenil nas plataformas digitais não é um fenômeno exclusivo do Canadá. Várias nações têm enfrentado desafios semelhantes, uma vez que a internet atua como um catalisador para a disseminação de ideologias violentas. O acesso ilimitado a conteúdo prejudicial tem levantado a questão da responsabilidade das empresas que gerenciam essas plataformas e da necessidade urgente de uma regulamentação mais firme sobre os conteúdos que permitem ser veiculados.
O governo canadense também está contando com a colaboração das forças de segurança para reforçar a vigilância sobre essas interações online, a fim de garantir a proteção dos jovens. Recentemente, houve um aumento da pressão sobre as autoridades policiais, especialmente após incidentes onde jovens agressores foram acusados de crimes de ódio e assédio, enquanto as vítimas frequentemente enfrentam desafios em relatar os abusos devido a uma falta de confiança nas instituições ou uma sensação de impotência diante da complexidade da situação.
Entretanto, há críticas sobre a atuação da polícia em alguns casos. A cidade de Red Deer, por exemplo, viu uma controvérsia relacionada à suposta manipulação de provas em um caso envolvendo um membro do 764. A RCMP (Real Canadian Mounted Police) foi acusada de proteger membros dessa rede enquanto ignorava diretamente as queixas das vítimas. Essa percepção de um sistema de justiça ineficaz contribui para um clima de desconfiança e piora da situação em geral, e aumenta o chamado por um escrutínio mais rigoroso sobre a atuação policial.
Além disso, as comunidades online onde o extremismo prospera estão se expandindo rapidamente. A facilidade de acesso à tecnologia moderna, como smartphones e jogos online, tem se tornado um terreno fértil para a manipulação de jovens. Muitos deles enxergam tais interações como “só uma brincadeira”, sem reconhecer a gravidade do que está acontecendo. Essa banalização do comportamento criminoso, aliada ao acesso irrestrito ao conteúdo, faz com que ações prejudiciais se tornem cada vez mais comuns entre as gerações mais novas.
Em um momento em que o Canadá toma atitudes drásticas para lidar com esses desafios, a expectativa é que outras nações sigam o exemplo em um esforço conjunto para mitigar os danos causados pelo extremismo online. Especialistas afirmam que solidificar a noção de responsabilidade social em torno do uso da tecnologia e promover a educação para a mídia são essenciais para ajudar a prevenir que mais jovens sejam arrastados para o abismo da radicalização e da autopiedade, além de encorajar um diálogo mais aberto durante uma fase crítica do desenvolvimento dessas novas gerações.
A resposta do governo e da sociedade ao fenômeno do extremismo online será crucial para moldar o futuro da segurança pública, e a classificação do 764 como grupo terrorista representa somente o início de uma longa luta contra um fenômeno que desafia tanto as estruturas tradicionais de segurança quanto a moralidade da sociedade contemporânea.
Fontes: CBC News, The Guardian, VICE News, The Globe and Mail
Resumo
No dia 9 de outubro de 2023, o Canadá se tornou o primeiro país a classificar oficialmente a rede extremista conhecida como 764 como uma organização terrorista. Essa decisão surge em meio a preocupações sobre as táticas de recrutamento do grupo, que utiliza plataformas de mídia social para manipular e extorquir jovens, levando-os a atos de violência e automutilação. Recentemente, um adolescente de 14 anos foi preso por envolvimento com o 764, e outro caso em Halifax revelou um jovem que se comunicava com centenas de outros jovens globalmente. A radicalização juvenil nas plataformas digitais não é um problema exclusivo do Canadá, e muitos países enfrentam desafios semelhantes. A pressão sobre as autoridades policiais aumentou após incidentes de crimes de ódio e assédio, com críticas à atuação da polícia em certos casos. As comunidades online que promovem o extremismo estão se expandindo, e a banalização do comportamento criminoso entre os jovens é uma preocupação crescente. A resposta do governo canadense pode influenciar outras nações a agir contra o extremismo online, enfatizando a necessidade de responsabilidade social e educação para a mídia.
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