12/12/2025, 14:06
Autor: Laura Mendes

Nos últimos dias, o papel dos bibliotecários tem se tornado cada vez mais complexo, principalmente devido a uma nova onda de desinformação que envolve livros e autores inexistentes gerados por inteligência artificial. A situação começou a chamar atenção globalmente, à medida que mais pessoas se deparavam com informações fictícias sobre obras que supostamente deveriam ser acessíveis nas bibliotecas, mas que, na verdade, eram invenções de chatbots de IA.
Esses bots, alimentados por algoritmos avançados, têm a capacidade de criar literatura que, embora pareça convincente à primeira vista, não tem nenhuma base na realidade. Isso tem gerado um ciclo interminável de frustrações, tanto para os bibliotecários, que devem lidar com os pedidos irregulares de títulos inexistentes, quanto para os usuários, que saem decepcionados ao descobrir que o livro que procuravam não passa de um produto da alucinação da IA.
Comentários de internautas indicam que muitos leitores não estão preparados para o que vem sendo chamado de "era do desengano digital", onde fontes confiáveis são cada vez mais difíceis de distinguir de informações enganosas. Um certo internauta sugere a criação de um livro que eles chamam de "o livro de todo título", que serviria como um recurso didático para ensinar ao público como checar a veracidade das informações antes de aceitá-las como verdade. Essa ideia destaca a ansiedade crescente em torno da inteligência artificial e da sua capacidade de propagar desinformação de forma convincente.
Um aspecto preocupante dessa nova era é a maneira como ferramentas de IA são utilizadas de forma irresponsável, com internautas expressando suas indignações sobre como alguns acreditam que simples modificações nos prompts dos chatbots garantirão um resultado mais confiável. Esse raciocínio revela a falta de compreensão sobre as limitações intrínsecas da tecnologia e os riscos associados à sua má utilização.
O crescimento de “livros” inteiramente gerados por IA tem criado um ambiente não apenas de desespero, mas também de ironia. Universidades e editoras se veem em meio a uma crise em que obras que nunca existiram estão sendo vendidas e promovidas, enquanto seus "autores" desfrutam das benesses de uma fama fabricada que confunde a linha entre a realidade e a ficção. Relatos de um freelancer do Chicago Sun-Times evidenciam essa questão quando ele elaborou uma lista de leitura, a qual continha títulos completamente fictícios, mas que foram apresentados como se fossem obras reais.
O problema se alastra para os meios de comunicação tradicionais, onde uma série de relatórios e artigos, incluindo um por Robert F. Kennedy Jr., contém citações inacessíveis ou inventadas, reforçando a ideia de que a IA não só pode gerar conteúdo, mas também distorcer a verdade de forma prolífica. A responsabilidade de verificar informações parece estar se perdendo em um mar de dados acessíveis, levando a uma desconfiança não apenas em relação aos recursos digitais, mas também em instituições centrais como bibliotecas.
Os bibliotecários, portanto, estão em uma posição crítica; além de manterem a ordem nas bibliotecas, eles também se tornaram defensores da alfabetização informacional, desafiando os usuários a questionar e verificar as informações que encontram. O desafio se agrava pela sensação de que, mesmo quando as pessoas são alertadas sobre a possibilidade de desinformação, muitos optam por ignorar os sinais de alerta – comportamento amplificado pela natureza descomplicada e acessível da tecnologia atual.
Uma sugestão feita por um comentarista aponta para a necessidade de avisos no uso de IA, semelhante a rótulos de produtos que alertam para riscos à saúde. Essa ideia poderia ajudar a reduzir a disseminação de desinformação, fazendo com que os usuários se tornem mais conscientes das limitações dessas ferramentas. Contudo, a realidade é que a desconfiança já se estabeleceu, e as bibliotecas se tornaram o primeiro ponto de contato onde essa crise se manifesta fisicamente.
O que está em jogo não é apenas a confiança em bibliotecas e seus profissionais, mas toda a estrutura da informação em nossa sociedade. À medida que a IA se torna mais comum e integrada em nossas vidas diárias, torna-se imperativo que haja uma reflexão crítica sobre a forma como interagimos com essas tecnologias e quais são suas implicações para o futuro.
Portanto, a situação atual das bibliotecas e a necessidade urgente de alfabetização informacional não são somente questões de ambiente acadêmico ou profissional. Elas refletem um fenômeno cultural mais amplo, em que a interface entre a tecnologia e a verdade está em constante questionamento, e os bibliotecários, munidos de conhecimento e resiliência, desempenham um papel fundamental nessa nova realidade.
Fontes: Folha de São Paulo, New York Times, BBC News
Resumo
Nos últimos dias, o papel dos bibliotecários se tornou mais complexo devido à desinformação gerada por inteligência artificial, que cria livros e autores fictícios. Esse fenômeno tem causado frustrações tanto para bibliotecários, que lidam com pedidos de títulos inexistentes, quanto para usuários que se decepcionam ao descobrir que as obras buscadas não são reais. A situação é exacerbada pela dificuldade em distinguir fontes confiáveis de informações enganosas, levando a sugestões como a criação de um "livro de todo título" para educar o público sobre a verificação de informações. Além disso, o uso irresponsável de ferramentas de IA tem gerado preocupações sobre a distorção da verdade. Relatos indicam que até meios de comunicação tradicionais estão sendo afetados, com citações inventadas em artigos. Os bibliotecários, portanto, estão se tornando defensores da alfabetização informacional, desafiando os usuários a questionar o que encontram. A crise atual reflete uma necessidade cultural mais ampla de reflexão sobre a interação com tecnologias e suas implicações para a verdade e a confiança nas bibliotecas.
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