Argentina e Uruguai acolhem imigrantes enquanto Chile e Peru enfrentam crises

Argentina e Uruguai, com suas longas tradições de imigração, contrastam com Chile e Peru, que lidam com crises de aceitação de imigrantes.

Pular para o resumo

17/12/2025, 21:39

Autor: Laura Mendes

Uma imagem vibrante de um mercado multicultural em Buenos Aires, repleto de pessoas de diferentes origens étnicas interagindo alegremente, vendedores de variadas nacionalidades oferecendo suas mercadorias, bandeiras de diferentes países e cartazes que celebram a diversidade cultural.

A imigração na América do Sul tem gerado um debate acirrado sobre como diferentes países recebem estrangeiros, especialmente em tempos de crise. Recentemente, a situação de imigrantes venezuelanos que fogem da instabilidade de seu país natal tem chamado atenção. Enquanto Argentina e Uruguai se destacam por suas políticas mais acolhedoras, países como Chile, Peru e Equador apresentaram uma postura diferente, muitas vezes enfrentando desafios em relação à aceitação e integração de imigrantes.

Historicamente, Argentina e Uruguai são conhecidos por serem países de imigrantes. Desde o século 19, esses territórios têm visto uma onda contínua de pessoas em busca de novas oportunidades, o que moldou uma sociedade plural e diversa. Cidades como Buenos Aires e Montevidéu foram fundadas por fluxos migratórios, criando um ambiente onde a diversidade é parte da identidade cultural. Na Argentina, estima-se que cerca de 40% da população seja descendente de imigrantes, a maioria oriunda da Europa.

Por outro lado, a história do Chile, Peru e Equador é marcada por períodos de isolamento, o que levou a uma menor integração de imigrantes em suas sociedades. Embora esses países tenham recebido um controle significativo do influxo de imigrantes venezuelanos desde 2015, a evolução e o impacto desse fenômeno foram mais complexos. A aceitação inicial se deu de maneira favorável; no entanto, à medida que o número de venezuelanos aumentou, surgiram tensões sociais que refletiram nas audiências públicas e nas discussões políticas.

No Chile, especialmente, a eleição recente de um candidato considerado de direita, José Antonio Kast, traz à tona a crescente rejeição a políticas de imigração liberal. Kast se posicionou como um defensor da segurança e do controle de fronteiras, debatendo frequentemente os impactos que a imigração tem sobre os serviços públicos e a segurança. O aumento no crime associado a imigrantes, exacerbado pela crise socioeconômica, gerou um sentimento de insegurança e preocupação entre os cidadãos, alimentando a narrativa anti-imigração.

O contraste entre Argentina e Uruguai e seus vizinhos andinos pode ser explicado não apenas pelas diferenças históricas, mas também pela maneira como os imigrantes foram assimilados e integrados nas sociedades locais. A maioria dos imigrantes que chegaram à Argentina e ao Uruguai, em especial os venezuelanos, é bem-educada e trouxe consigo recursos financeiros, o que facilitou sua inserção no mercado de trabalho e, consequentemente, sua aceitação nas comunidades. É comum ver imigrantes configurando empresas, estabelecendo-se como parte integral da economia local.

Apesar das dificuldades enfrentadas em alguns relatos de acolhimento, como mencionado por alguns usuários em comentários sobre a situação, é inegável que a narrativa dominante na mídia sobre Argentina e Uruguai tende a ser mais positiva em comparação com a de Chile e Peru. A diferenciação de experiências mostra que a aceitação não é apenas uma questão de política, mas também de preparação cultural e história social. A forma como as sociedades percebem os imigrantes, e como os imigrantes se inserem na narrativa social, influencia diretamente a maneira como são tratados.

Entretanto, o debate sobre a rejeição ou acolhimento se torna mais complexo quando se considera a situação econômica desfavorável que o continente está enfrentando. A crise econômica que assola a América Latina, agravada pela pandemia e por crises políticas internas, criou um cenário onde a competição por recursos se intensifica. Em países que já enfrentam dificuldades significativas, como aço e empregos escassos, a chegada de novas populações pode ser vista como um risco, uma percepção que pode ser facilmente explorada por grupos políticos.

Enquanto isso, a aceitação de imigrantes é uma questão que requer um trabalho conjunto entre governo e sociedade civil, onde é necessário o desenvolvimento de políticas que considerem tanto as preocupações locais quanto as necessidades humanitárias. É preciso um alinhamento entre as expectativas da população local e a realidade enfrentada pelos imigrantes, criando um espaço de diálogo construtivo que permita uma convivência harmônica.

No cenário atual, o desafio dos países andinos em gerenciar a afluência de imigrantes pode funcionar como um receituário de advertência sobre os efeitos da nativismo exacerbado e do fechamento de fronteiras. Ter um olhar mais acolhedor, imbuído de compreensão histórica e cultural, pode não apenas beneficiar os imigrantes, mas enriquecer a própria sociedade.

O distante histórico de imigração e a maneira como os países sul-americanos lidam com seus vizinhos apresentam lições cruciais em tempos de globalização e crises transitórias. Ao olhar para a situação do Chile, Peru e Equador à luz da experiência argentina e uruguaia, fica claro que a abordagem a ser adotada em questões de migração pode impactar substancialmente o futuro dessas nações em um mundo cada vez mais globalizado.

Fontes: Folha de São Paulo, BBC Brasil, El País, La Nación

Resumo

A imigração na América do Sul tem gerado intensos debates sobre a recepção de estrangeiros, especialmente os venezuelanos que fogem da instabilidade em seu país. Argentina e Uruguai se destacam por suas políticas acolhedoras, enquanto Chile, Peru e Equador enfrentam desafios na aceitação e integração de imigrantes. Historicamente, Argentina e Uruguai são países de imigrantes, com uma sociedade plural que se formou a partir de fluxos migratórios. Em contrapartida, Chile, Peru e Equador têm uma história de isolamento que dificultou a integração. A recente eleição do candidato de direita José Antonio Kast no Chile reflete uma crescente rejeição a políticas de imigração liberal, exacerbada pela crise socioeconômica e aumento do crime. A aceitação de imigrantes é complexa, especialmente em tempos de crise econômica, onde a competição por recursos se intensifica. A colaboração entre governo e sociedade civil é essencial para desenvolver políticas que equilibrem preocupações locais e necessidades humanitárias, promovendo um diálogo construtivo e uma convivência harmônica.

Notícias relacionadas

Uma imagem dramática de Julian Assange em um tribunal, cercado por jornalistas e câmeras, enfatizando a tensão no ambiente judicial. Em um lado da sala, uma bandeira da Suécia e, do outro, um símbolo do Prêmio Nobel da Paz, representando o contraste entre justiça e paz.
Sociedade
Julian Assange processa Fundação Nobel por prêmio da paz controverso
Julian Assange apresenta queixa-crime contra a Fundação Nobel, questionando a entrega do prêmio de paz a defensores de intervenções militares em países como a Venezuela.
18/12/2025, 12:57
Uma imagem que ilustra uma cidade japonesa futurista em contraste com áreas rurais decadentes, mostrando a arquitetura moderna ao lado de casas antigas em ruínas, simbolizando desafios econômicos e sociais. Ao fundo, figuras representando imigrantes e cidadãos locais interagindo, refletindo as tensões culturais e sociais.
Sociedade
Japão impõe novas regras de imigração em meio à crise populacional
O governo japonês apresenta regras de imigração mais rígidas, desafiando a necessidade urgente de revitalização populacional e aprofundando tensões sociais.
18/12/2025, 12:55
Uma imagem poderosa de protestos intensos, com manifestantes levantando cartazes e bandeiras, cercados por forças de segurança. No fundo, nuvens escuras e fumaça emanando de confrontos, simbolizando a tensão e o conflito. O cenário transmite uma sensação de urgência e indignação, capturando a essência de uma luta popular intensa e marcada pela resistência.
Sociedade
BBC recebe críticas por descrição da Primeira Intifada como revolta
A BBC enfrenta críticas por classificar a Primeira Intifada como uma revolta pacífica, levantando debates sobre a violência do conflito e a cobertura da mídia.
18/12/2025, 12:45
Uma sala de tribunal com um juiz em pé, olhando para uma mulher acusada de envolvimento em um esquema de tráfico sexual, enquanto uma multidão atenta observa. Em destaque, um painel mostra o nome "GirlsDoPorn", com arquétipos da luta contra o tráfico sexual, representando tanto vítimas quanto autoridades. A atmosfera é tensa, com expressões de preocupação e determinação.
Sociedade
Valorie Moser é sentenciada a prisão por envolvimento em tráfico sexual
Valorie Moser, ex-contadora da polêmica empresa GirlsDoPorn, foi sentenciada a dois anos de prisão por sua participação em esquema de tráfico sexual.
18/12/2025, 11:44
Uma cena que mostra um professor preocupado em meio a pilhas de artigos acadêmicos, com uma tela de computador ao fundo exibindo mensagens de erro sobre referências inexistentes. A imagem captura a expressão de frustração do docente, simbolizando a confusão causada pela inteligência artificial nos estudos acadêmicos.
Sociedade
Inteligência artificial gera artigos acadêmicos falsos que são citados
O uso crescente da inteligência artificial na pesquisa acadêmica levanta preocupações sobre a veracidade das referências em artigos científicos, num fenômeno alarmante.
18/12/2025, 11:34
Uma visão panorâmica de Saline Township, Michigan, mostrando campos abertos e pequenas comunidades, perturbados por projetos de construção de um mega data center, com torres de energia ao fundo e visualizações de protestos locais, retratando a luta entre tradição rural e modernização tecnológica.
Sociedade
Moradores de Saline Township expressam preocupações sobre mega data center
A construção de um mega data center de $7 bilhões preocupa moradores de Saline Township, que temem impactos ambientais e altos custos de energia.
18/12/2025, 11:31
logo
Avenida Paulista, 214, 9º andar - São Paulo, SP, 13251-055, Brasil
contato@jornalo.com.br
+55 (11) 3167-9746
© 2025 Jornalo. Todos os direitos reservados.
Todas as ilustrações presentes no site foram criadas a partir de Inteligência Artificial