16/10/2025, 17:31
Autor: Ricardo Vasconcelos
A recente indicação de Jorge Messias para o Supremo Tribunal Federal (STF) pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva tem gerado intensos debates e revelado profundas divisões dentro da bancada evangélica. Essa escolha, amplamente discutida, reacende a questão sobre o papel da religião na política brasileira e levanta questionamentos sobre a ideologia do indicado, considerado por alguns como ligado à esquerda trabalhista. Parte dos críticos teme que a indicação represente uma alteração no status quo do STF, que poderia impactar as decisões da corte.
Comentários nas redes sociais e nas mídias têm mostrado que a principal preocupação acerca da indicação de Messias não é apenas sua vinculação religiosa, mas a sua percepção alinhada à esquerda, o que poderia causar um desequilíbrio nas decisões do tribunal. "Todo esse auê em cima da indicação do Messias é mais por ele ser fortemente alinhado à esquerda clássica", afirmou um usuário, ressaltando que a oposição se concentra em criticar não apenas sua religiosidade, mas seu posicionamento político. Essa é uma preocupação que reflete um receio maior sobre as diretrizes que Messias poderá seguir caso assuma o cargo.
Jorge Messias, que atualmente ocupa o cargo de advogado-geral da União (AGU), tem uma trajetória marcada por posicionamentos enérgicos em questões controversas, como a maternidade e o aborto. Não é raro vê-lo envolto em polêmicas, especialmente ao lidar com temas que frota a linha entre a fé e a ética pública. Um caso emblemático ocorreu quando a AGU, sob sua liderança, contestou uma resolução do Conselho Federal de Medicina que tentava restringir o aborto legal em casos de estupro. No parecer, Messias argumentou que a proibição teria um efeito prejudicial sobre grupos vulneráveis, como mulheres pobres e adolescentes, e insistiu que as políticas públicas devem respeitar as leis vigentes. Esse tipo de atuação acirra as tensões entre seus apoiadores e os que ainda mantêm uma visão crítica sobre sua nomeação.
Embora a questão religiosa tenha sido levantada em várias discussões, alguns especialistas e comentaristas se esforçam para separar a crença da capacidade profissional. "Religiões são perigosíssimas quando instrumentalizadas", comentou um internauta, lembrando que a competência e a ética de um jurista não necessariamente devem ser trilhas pela sua fé. Essa opinião sugere a ideia de que, independentemente de suas crenças pessoais, Messias deve ser avaliado pela sua aptidão e decisões políticas de forma objetiva.
A polarização também se intensifica quando se considera a relação histórica entre a bancada evangélica e o Partido dos Trabalhadores (PT). Muitos membros da bancada já foram aliados do partido, e alguns segmentos continuam a pressionar para que a escolha de Messias seja vista com cautela. Para alguns, sua indicações estão sendo vistas como um retrocesso, e já há quem categorize essa escolha como uma das piores que Lula poderia ter feito. Da parte da mídia, a resistência à sua nomeação se manifesta em criticismos sobre a competência e as implicações que a presença de um escolhido 'evangélico' pode ter na política do STF, gerando assim um clima de desconfiança.
Muitos se perguntam se a nomeação de um “terrivelmente evangélico” não servirá como um pilar para um retrocesso político no STF, especialmente quando lembram de figuras como Edir Macedo e Silas Malafaia, que tradicionalmente foram aliados do PT, mascu às críticas a favor da nomeação de Messias. O medo de que a ideologia religiosa interfira nas decisões da corte reflete um problema maior: a forma como as religiões são tratadas na esfera política, especialmente em um país que já com tantas disparidades e tensões sociais.
Conforme as agendas e os interesses se entrelaçam, a expectativa é que os próximos meses revelem mais detalhes sobre a proposta de Messias. A sua indicação terá um impacto significativo sobre a percepção pública do STF e as dinâmicas entre a bancada evangélica e os partidos que tradicionalmente lutam por causas progressistas. Assim, enquanto o assunto continua a ser um foco de debate, a esperança é que a escolha de um novo ministro não seja vista apenas pelo viés religioso, mas como uma chance de trazer um olhar mais abrangente sobre questões que envolvem justiça e direitos humanos no Brasil, áreas que muitos acreditam que precisam de maior atenção e proteção.
Nesse cenário, o trato sobre religião e Estado se torna um dos eixos centrais na análise das movimentações políticas, uma vez que as reações à posição de Messias farão ecoar nas cassações de petições e decisões que moldarão o futuro do Brasil no que diz respeito ao papel da fé dentro da esfera pública.
Fontes: Folha de São Paulo, O Estado de S. Paulo, Agência Brasil
Detalhes
Jorge Messias é um advogado brasileiro que atualmente ocupa o cargo de advogado-geral da União (AGU). Conhecido por suas posições firmes em questões controversas, como maternidade e aborto, ele frequentemente se envolve em polêmicas que cruzam a linha entre fé e ética pública. Sua atuação à frente da AGU inclui a contestação de resoluções que restringem direitos, refletindo uma abordagem que busca equilibrar a legislação vigente com as necessidades de grupos vulneráveis.
Resumo
A indicação de Jorge Messias para o Supremo Tribunal Federal (STF) pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva gerou debates acalorados e divisões na bancada evangélica. A escolha levanta questões sobre a influência da religião na política brasileira e a ideologia de Messias, visto por alguns como alinhado à esquerda trabalhista. Críticos expressam preocupação com a possibilidade de que sua nomeação altere o status quo do STF, temendo que suas decisões possam ser influenciadas por suas crenças religiosas. Messias, atual advogado-geral da União, é conhecido por suas posições polêmicas em temas como maternidade e aborto, tendo contestado uma resolução que restringia o aborto legal em casos de estupro. Especialistas sugerem que a competência profissional deve ser avaliada independentemente da fé pessoal. A relação histórica entre a bancada evangélica e o Partido dos Trabalhadores (PT) também intensifica a polarização, com alguns considerando a escolha de Messias um retrocesso. A expectativa é que sua indicação impacte a percepção pública do STF e a dinâmica entre grupos religiosos e partidos progressistas.
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