31/12/2025, 14:30
Autor: Ricardo Vasconcelos

Na última terça-feira, 24 de outubro de 2023, o governo da Polônia fez um apelo à União Europeia para que tome medidas enérgicas contra uma série de vídeos que estão circulando na plataforma TikTok, os quais foram gerados por inteligência artificial e estão incitando o chamado "Polexit", termo que se refere à possível saída da Polônia da União Europeia. O apelo segue um crescente número de evidências que sugerem que esses vídeos são parte de uma campanha coordenada de desinformação, possivelmente orquestrada por grupos com vínculos à Rússia.
Dariusz Standerski, o ministro adjunto de assuntos digitais da Polônia, trouxe à tona a questão em uma declaração oficial, observando que a quantidade e a natureza dos vídeos apresentavam características que indicavam uma operação organizada. "Nos últimos dias, o TikTok teve um aumento de vídeos gerados por IA, espalhando desinformação sobre a adesão da Polônia à União Europeia. A escala dessa prática pode sugerir que estamos lidando com uma campanha organizada", disse Standerski.
As alegações de desinformação são graves, especialmente em um contexto político onde a integridade da União Europeia e a coesão dos Estados-Membros estão sendo constantemente testadas por influências externas e internas. O Res Futura Data House, um grupo polonês de análise de segurança da informação, destacou exemplos específicos de vídeos em que jovens mulheres, vestindo símbolos nacionais poloneses, fazem apelos diretos às suas contrapartes polonesas, alguns dos quais defendem a saída da Polônia da UE, enquanto outros criticam a administração atual do Primeiro-Ministro Donald Tusk, que é visto como um defensor do fortalecimento dos laços europeus.
Além disso, a descrição do perfil da conta que abriga esses vídeos incluía um slogan associado ao líder da extrema direita Grzegorz Braun, que é um conhecido defensor do Polexit. A presença de tal narração em uma plataforma popular entre os jovens suscita preocupações sobre a capacidade de influências externas de moldar a opinião pública em um país membro da UE. O porta-voz do governo, Adam Szłaka, caracterizou a sequência de vídeos como uma "propaganda russa", enfatizando que alguns textos apresentados nos vídeos continham construções linguísticas típicas do russo.
A iniciativa da Polônia é um reflexo de preocupações mais amplas no continente europeu sobre a influência das plataformas digitais e a capacidade de manipulação da opinião pública através de ferramentas complexas, como a inteligência artificial. Os críticos dessas práticas alertam para os perigos da censura motivada por ações governamentais que, na tentativa de proteger a soberania digital e a integridade informacional de um Estado, poderiam acabar restringindo o discurso público e reprimindo vozes dissidentes.
Em sua correspondência para Henna Virkkunen, comissária europeia para soberania tecnológica, segurança e democracia, Standerski pedia que a Comissão Europeia iniciasse um processo formal contra o TikTok sob a Lei de Serviços Digitais (DSA) da UE, que visa regular as plataformas digitais e responsabilizá-las por conteúdos nocivos ou enganosos. A DSA é um marco regulatório que busca garantir que as plataformas digitais operem de maneira justa e responsável, assegurando a segurança e a transparência na gestão de conteúdos.
As críticas não se limitam apenas às práticas do TikTok. Muitos observadores notaram uma tendência crescente de governos ao redor do mundo tentarem controlar as narrativas das plataformas digitais, um movimento que levanta questões sobre a liberdade de expressão na era digital. Embora a preocupação com a desinformação seja legítima, há um temor subjacente de que tais ações possam ser utilizadas como pretexto para silenciar vozes e opiniões que não se alinham às agendas dos governos, uma dinâmica que já foi observada em várias democracias ocidentais.
O contexto da demanda polonesa também é influenciado pelo clima político atual na Europa, onde a polarização e o extremismo estão em ascensão. Problemas de interferência externa, especialmente da Rússia, têm alimentado debates em torno da segurança e integridade das democracias no continente. A maneira como as plataformas digitais administram o conteúdo e como os governos reagem a essa gestão será, sem dúvida, um tema central nas discussões políticas na próxima década.
Os próximos passos da União Europeia em resposta ao pedido da Polônia poderão definir não apenas a postura da região em relação à desinformação, mas também o futuro do discurso digital na Europa. A situação representa um desafio multifacetado que envolve proteger a soberania política, a segurança nacional e a liberdade de expressão em uma era marcada pela digitalização e pela rápida evolução das tecnologias de comunicação.
Fontes: Folha de São Paulo, The Guardian
Detalhes
Dariusz Standerski é um político polonês, atualmente atuando como ministro adjunto de assuntos digitais. Ele é responsável por questões relacionadas à tecnologia e à digitalização na Polônia, e tem se destacado por abordar temas como desinformação e a regulamentação de plataformas digitais, especialmente em um contexto de crescente influência externa sobre a política polonesa.
Donald Tusk é um político polonês, ex-primeiro-ministro da Polônia e ex-presidente do Conselho Europeu. Ele é conhecido por seu papel na promoção da integração europeia e na defesa dos interesses da Polônia dentro da União Europeia. Tusk tem sido uma figura central na política polonesa, especialmente em tempos de crescente polarização e desafios à democracia.
Grzegorz Braun é um político polonês e líder do partido de extrema direita, conhecido por suas opiniões controversas e por defender a saída da Polônia da União Europeia. Ele é uma figura polarizadora na política polonesa, frequentemente associado a discursos nacionalistas e conservadores, e tem atraído atenção por suas posições em relação à soberania polonesa e à crítica à União Europeia.
TikTok é uma plataforma de mídia social de compartilhamento de vídeos curtos, que se tornou extremamente popular entre os jovens. A plataforma permite que os usuários criem e compartilhem vídeos com música, danças e desafios, mas também tem enfrentado críticas e preocupações sobre privacidade, segurança de dados e a disseminação de desinformação. A controvérsia em torno do TikTok tem levado a discussões sobre regulamentação e responsabilidade das plataformas digitais.
A Lei de Serviços Digitais (DSA) é uma legislação da União Europeia que visa regular plataformas digitais e garantir a segurança e a transparência na gestão de conteúdos online. A DSA estabelece diretrizes para a responsabilidade das plataformas em relação a conteúdos prejudiciais ou enganosos, buscando proteger os usuários e promover um ambiente digital mais seguro e justo.
Resumo
Na terça-feira, 24 de outubro de 2023, o governo polonês solicitou à União Europeia ações contra vídeos gerados por inteligência artificial no TikTok, que promovem o "Polexit", a possível saída da Polônia da UE. Dariusz Standerski, ministro adjunto de assuntos digitais, destacou que a quantidade e a natureza dos vídeos indicam uma campanha de desinformação organizada, possivelmente ligada a grupos russos. O Res Futura Data House identificou vídeos que usam símbolos nacionais e fazem apelos políticos, criticando o Primeiro-Ministro Donald Tusk, defensor da integração europeia. A presença de um slogan associado ao político de extrema direita Grzegorz Braun levanta preocupações sobre a influência externa na opinião pública. Standerski pediu à comissária europeia Henna Virkkunen que iniciasse um processo contra o TikTok, citando a Lei de Serviços Digitais da UE. A situação reflete uma preocupação maior sobre a manipulação da informação nas plataformas digitais e o equilíbrio entre segurança e liberdade de expressão na Europa, especialmente em um contexto de crescente polarização política.
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