21/09/2025, 00:41
Autor: Laura Mendes
A crescente popularidade de certos podcasts que promovem uma narrativa de machismo tem gerado um debate em torno da participação feminina nesses espaços. Os programas, que atraem uma demografia predominantemente masculina, têm se destacado não apenas pela temática controversa, mas também pelo tipo de interação que proporcionam entre os seus convidados e o público. A indagação que permeia essas discussões é: por que as mulheres escolhem participar de podcasts conhecidos por suas posturas misóginas e frequentemente hostis?
Diversas opiniões surgiram sobre os motivos que levam mulheres a aceitarem convites para esses programas. Algumas participantes acreditam que a visibilidade gerada por suas aparições pode resultar em significativas oportunidades financeiras. Um comentário relevante aponta que, em um caso específico, uma mulher que apareceu em um desses podcasts conseguiu aumentar o número de inscritos em sua conta no OnlyFans em 20 mil em apenas um mês. Essa realidade faz com que muitas vejam a participação nesses programas não apenas como um debate de ideias, mas também como um forte impulso para suas carreiras digitais.
A dinâmica dos podcasts é muitas vezes marcada por uma interação hostil, em que os apresentadores, que geralmente estão alinhados a ideais conservadores, podem ridicularizar ou atacar suas convidadas. Um aspecto frequentemente mencionado é a forma como as mulheres são tratadas, em alguns casos, como meros objetos de consumo, em vez de interlocutoras. De acordo com observações feitas, muitas vezes as convidadas são tratadas com desdém e são alvo de comentários depreciativos, o que levanta questões éticas sobre o ambiente e a finalidade dessas interações.
Entretanto, há também quem argumente que algumas dessas mulheres possam simplesmente estar em busca de uma forma de expor preconceitos e desafiar os apresentadores. Essa perspectiva sugere que a participação em tais programas pode ser uma estratégia para "reverter" o discurso preconceituoso ou, ao menos, tentar então expor a irracionalidade das afirmações feitas por homens que se consideram superiores. Contudo, essa visão é frequentemente desencorajada pelas experiências coletivas que mostram que, geralmente, o resultado é uma humilhação pública.
Além do interesse financeiro, um fator que também pode influenciar essa dinâmica é a busca por clout ou reconhecimento nas redes sociais. A fama adquirida ao aparecer em um podcast com um grande número de ouvintes pode levar a novas oportunidades de negócios e parcerias. Nesse cenário, o crescimento na presença online pode compensar os efeitos nefastos das interações hostis e do ambiente tóxico que permeiam esses espaços.
É fascinante notar que muitas convidadas que aceitam ir a esses programas, muitas vezes sem um entendimento claro completo do tom e do conteúdo que será abordado, podem ser atraídas por promessas de repercussão e notoriedade. Isso destaca um fenômeno mais amplo na cultura digital, onde a busca por atenção se tornou um produto valioso. As interações desenhadas para provocar reações extremas estão se tornando comuns, e o que se observa é, em certas situações, um alinhamento entre a miséria social e a necessidade de entretenimento que, por sua vez, sustenta a leviatanização desses programas.
Além disso, enquanto algumas mulheres encontram nessa estratégia uma oportunidade de impulsionar seus perfis e, consequentemente, suas finanças, outras ficam presas em um ciclo de exploração e misoginia. Um subgrupo que se forma nesse caminho é o das mulheres que abraçam uma postura misógina, pensando que podem usufruir da mesma maneira. A complexidade da contemporaneidade obriga a refletir sobre como esses fenômenos não apenas construem discursos, mas influenciam gerações inteiras, especialmente no que diz respeito à percepção das mulheres e seus papéis na sociedade.
Em última análise, a questão que se coloca é se a participação feminina em podcasts focados na masculinidade deve ser um ato de resistência ou uma ferramenta de perpetuação de um discurso retrógrado. Embora cada mulher tenha sua própria razão para aceitar ou rejeitar um convite, a luta contra a misoginia na mídia e a busca por espaços respeitáveis e equitativos continua sendo uma batalha pertinente e necessária no cenário contemporâneo.
Fontes: Folha de São Paulo, UOL, O Globo, BBC Brasil
Resumo
A crescente popularidade de podcasts com narrativas machistas gerou um debate sobre a participação feminina nesses espaços. Apesar da predominância masculina entre os ouvintes, algumas mulheres aceitam convites para esses programas, acreditando que a visibilidade pode trazer oportunidades financeiras. Um exemplo notável é uma mulher que, após participar de um desses podcasts, aumentou em 20 mil o número de inscritos em sua conta no OnlyFans em um mês. No entanto, a dinâmica desses programas frequentemente envolve interações hostis, onde as convidadas são tratadas com desdém, levantando questões éticas sobre o ambiente. Algumas mulheres podem buscar expor preconceitos ou desafiar os apresentadores, mas muitas vezes enfrentam humilhação pública. Além do interesse financeiro, a busca por reconhecimento nas redes sociais também motiva a participação. Enquanto algumas mulheres conseguem impulsionar suas carreiras, outras caem em um ciclo de exploração e misoginia. A participação feminina em podcasts machistas levanta a questão se deve ser vista como resistência ou como uma perpetuação de discursos retrógrados, destacando a luta contínua contra a misoginia na mídia.
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