18/12/2025, 16:24
Autor: Ricardo Vasconcelos

O peronismo, um dos movimentos políticos mais icônicos e complexos da Argentina, está passando por uma fase de intenso debate e reavaliação. Desde sua fundação na década de 1940 por Juan Domingo Perón, o peronismo tem se caracterizado por sua modelagem ideológica diversa, reunindo elementos tanto da esquerda quanto da direita. A configuração atual do peronismo, especialmente sob a liderança de figuras como Alberto Fernández e Cristina Kirchner, suscita muitas questões sobre seu futuro e sua relevância na política argentina contemporânea.
Recentes observações indicam que a associação do peronismo a ideais de esquerda e progresso social está se tornando um ponto de disputa. A popularidade de figuras de direita, como Javier Milei, aponta uma mudança significativa na opinião pública, especialmente entre os jovens, que se sentem mais inclinados para o liberalismo econômico e valores conservadores. A crítica à falta de renovação dentro do próprio movimento peronista tem sido uma constante, com muitos argumentando que as "mesmas caras de sempre" estão gerando descontentamento entre os eleitores, especialmente jovens que clamam por propostas mais modernizadas.
O kirchnerismo, uma das correntes mais influentes dentro do peronismo nas últimas duas décadas, começou a ser associado de maneira negativa às dificuldades econômicas e sociais enfrentadas pelo país. Apesar de sua tentativa de se reposicionar e se distanciar de uma imagem mais à esquerda, como a agenda progressista apresentanda por Cristina Kirchner, a percepção da população frequentemente ignora estas nuances. Para muitos, Kirchner representa a esquerda radical, um estigma que o peronismo luta para desfazer. Essa luta por uma nova identidade está sendo constantemente desafiada pela narrativa de que o peronismo é responsável pela deterioração da situação econômica do país desde a era de Perón.
No cerne desta reavaliação está a complexidade do próprio ideário peronista. Embora se tenha originado como uma plataforma para equilibrar os conflitos de classes na Argentina, muitos críticos afirmam que suas políticas de caráter nacionalista e populista tornaram-se inconsistentes ao longo do tempo. Exemplificando, as práticas de Carlos Menem na década de 1990, que se alinhavam mais com o neoliberalismo e o livre mercado, contrastam fortemente com o kirchnerismo, que enfatizava uma maior intervenção estatal e políticas voltadas para a justiça social e direitos trabalhistas. De fato, é a inclusão de elementos históricos e suas interpretações que tornam o debate ainda mais tumultuado, levando a questionamentos sobre o que constitui um verdadeiro “peronista” hoje.
As críticas à corrupção e à ineficiência governamental atribuídas aos líderes peronistas recentes, junto com a percepção de que estes governantes se afastaram dos ideais originais de Perón, criaram um ambiente onde a retórica de que o peronismo é “tudo e nada” ganha força. Para novos eleitores, o conceito de peronismo se reveste de ambiguidade e confusão, muitas vezes reduzido a um conceito manipulado por diversos grupos ideológicos que visam seus próprios interesses. Os debates contemporâneos em torno da identidade peronista revelam um movimento em crise em sua essência, que luta para se redistribuir entre diversas ideologias que tentam se apropriar de sua marca.
Além disso, a relação de subgrupos ao peronismo, como aqueles que se identificam mais com ideais de direita — que historicamente têm criticado suas políticas — contribui para um ambiente político polarizado na Argentina, onde a luta pelo significado do peronismo se intensifica. Faces do peronismo que outrora se viam como opostas agora se fundem em interpretá-lo como um estado de bem-estar social que abriga interesses capitalistas. Contudo, este mesmo peronismo é agora tomado de assalto por novas visões que desafiam sua antiga hegemonia.
Por fim, à medida que o cenário político se torna mais fluido, o futuro do peronismo torna-se uma questão central para a política argentina. O movimento deve encontrar um meio de rearticular sua mensagem e conectar-se de forma eficiente com uma nova geração que manifesta uma crescente insatisfação. Perante a potencial ascensão de novos líderes e ideias, resta saber se o peronismo, que já foi um poder dominante, ainda terá um papel central e significativo no futuro da Argentina ou se será relegado a uma mera referência histórica.
Fontes: Folha de São Paulo, BBC Brasil, El País, La Nación
Resumo
O peronismo, um dos movimentos políticos mais emblemáticos da Argentina, enfrenta um intenso debate sobre sua relevância atual. Fundado por Juan Domingo Perón na década de 1940, o movimento, que mistura ideais de esquerda e direita, é liderado atualmente por figuras como Alberto Fernández e Cristina Kirchner. No entanto, a associação do peronismo a ideais progressistas está sendo contestada, especialmente com o crescimento de figuras de direita como Javier Milei, que atraem os jovens em busca de liberalismo econômico. A falta de renovação no movimento e a imagem negativa do kirchnerismo, ligada a crises econômicas, complicam ainda mais a situação. Além disso, as críticas à corrupção e à ineficiência dos líderes peronistas recentes alimentam a confusão sobre o que significa ser peronista hoje. Com subgrupos de direita se distanciando do peronismo, o movimento enfrenta um ambiente político polarizado. O futuro do peronismo e sua capacidade de se conectar com uma nova geração insatisfeita permanecem incertos, levantando questões sobre sua relevância na política argentina contemporânea.
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