07/09/2025, 21:45
Autor: Laura Mendes
Na última sexta-feira, 13 de outubro de 2023, o Papa Leão XIV anunciou a canonização de Carlo Acutis, um jovem italiano que faleceu em 2006 e é conhecido por seu trabalho em tecnologia e pela devoção à Eucaristia. Essa declaração traz à tona discussões acaloradas sobre a natureza da santidade no contexto contemporâneo, especialmente em relação à relevância de um santo que personifica a interseção entre a tecnologia moderna e a espiritualidade católica.
Carlo Acutis foi apelidado de "Influenciador de Deus" devido ao seu projeto online que documentava milagres eucarísticos ao redor do mundo. Em uma época em que criar um site era uma tarefa acessível, Acutis desenvolveu uma plataforma multilíngue que buscava compartilhar sua fé com várias pessoas. Seu trabalho foi visto como um esforço inovador para conectar jovens com a Igreja em um período de crescente distanciamento entre a espiritualidade e a modernidade.
No entanto, a escolha de Carlo como o primeiro santo millennial provocou reações diversificadas. Muitos admiradores o descrevem como um jovem que, apesar da sua curta vida, fez um impacto significativo por meio de seu trabalho caridoso e de suas ações devotadas. No entanto, outros questionaram se a canonização foi realmente justificada. Um comentarista expressou que a santidade deveria ser atribuída a aqueles que causaram um impacto profundo na comunidade, ao invés de alguém que simplesmente fez uso da tecnologia disponível para expressar sua fé.
Além disso, muitos críticos argumentam que a canonização de Acutis, que teve a vida marcada por um trágico falecimento devido à leucemia, pode refletir uma tendência da Igreja em modernizar suas práticas para atrair novas gerações a um momento em que a fé católica enfrenta desafios relativos à adesão. Um dos pontos levantados foi o fato de que a canonização requer a validação de milagres, e Acutis teria, supostamente, realizado dois: a cura de um jovem de hemorragia cerebral e a recuperação de outro com um problema crônico no pâncreas. No entanto, as evidências e os relatos sobre esses "milagres" têm gerado desconfiança entre alguns membros da comunidade católica e além.
A prática de canonizar figuras contemporâneas, especialmente em um mundo cada vez mais secularizado, sugere que a Igreja pode estar tentando se adaptar às realidades dos fiéis millennials e da Geração Z, que crescem em um ambiente digital. Alguns comentaristas mencionaram que a Igreja Católica historicamente tem um longo caminho de santos e mártires que, se avaliados com os mesmos critérios contemporâneos, podem parecer irregulares. A fama vinculada a Acutis como "gênio da informática" e sua habilidade de navegar na internet suscitaram questionamentos sobre até onde esse reconhecimento deve ir na atual era tecnológica.
Embora muitos ainda vejam a santidade como um ideal de virtudes, altruísmo e doação pelo próximo, as novas gerações parecem ter um relacionamento diferente com essa tradição. Para eles, a possibilidade de um "santo millennial" pode parecer uma oxigenação à visão tradicional de santidade, porém, da mesma forma que outros expressaram, há uma sensação de que as exigências para alcançar esse status foram diluídas ao longo do tempo. O que antes poderia incluir provas de ações heroicas ou sacrifícios autênticos parece estar agora ligado a habilidades digitais e à crescente necessidade da Igreja de se relacionar com novas audiências.
Além disso, a preservação do corpo de Acutis, que é apresentado em um estado quase intacto, trouxe uma nova dimensão às discussões sobre os limites da devoção e a veneração de relíquias. As práticas da Igreja de exibir corpos e partes do corpo como objeto de veneração datam de séculos, mas a perspectiva moderna e a maneira como essa apresentação é percebida pelo público atual levanta questões sobre a adequação ou relevância dessa tradição à luz das expectativas contemporâneas.
Sejamos claros, o debate sobre a canonização de Acutis não é exclusivo à sua figura, mas reflete um panorama mais amplo na forma como a religião se adapta e como as gerações mais jovens se relacionam com a fé. À medida que a sociedade se movimenta em direção a novas definições de credibilidade e autenticidade, a questão da santidade também se transforma, sendo crucial que a Igreja se posicione com clareza sobre os critérios que regem tais decisões.
Essa canonização pode ser, portanto, uma tentativa da Igreja em revitalizar sua imagem e relevância em um mundo cada vez mais digital e diversificado, mas se não ocorrer uma reflexão profunda sobre os princípios que fundamentam tal privilegio, o caminho de Carlo Acutis como primeiro santo millennial pode se tornar um tema de discórdia e interpretação variável nas próximas gerações. A canonização de Acutis, além de pessoal, está carregada de implicações sociais e culturais que vão além das paredes da Igreja Católica, estabelecendo um diálogo importante sobre onde se encontrará a santidade nos dias atuais.
Fontes: Folha de São Paulo, O Globo, BBC Brasil, Estadão, Time
Detalhes
Carlo Acutis foi um jovem italiano nascido em 1991 e falecido em 2006, conhecido por sua devoção à Eucaristia e por seu trabalho em tecnologia. Ele criou um site que documentava milagres eucarísticos ao redor do mundo, buscando conectar jovens à Igreja. Acutis foi canonizado em 2023, tornando-se o primeiro santo millennial, o que gerou debates sobre a relevância de sua canonização e os critérios de santidade na era digital.
Resumo
Na última sexta-feira, 13 de outubro de 2023, o Papa Leão XIV anunciou a canonização de Carlo Acutis, um jovem italiano falecido em 2006, conhecido por seu trabalho em tecnologia e devoção à Eucaristia. A decisão gerou debates sobre a natureza da santidade contemporânea, especialmente em relação a um santo que representa a interseção entre tecnologia e espiritualidade. Acutis, apelidado de "Influenciador de Deus", criou um site multilíngue documentando milagres eucarísticos, buscando conectar jovens à Igreja. No entanto, sua canonização como o primeiro santo millennial provocou reações mistas, com admiradores elogiando seu impacto, enquanto críticos questionam a validade da canonização e a relevância de sua vida marcada por um trágico falecimento. As alegações de milagres atribuídos a Acutis também suscitaram desconfiança. A canonização reflete uma tentativa da Igreja de se modernizar e atrair novas gerações, levantando questões sobre os critérios de santidade e a adaptação da fé em um mundo digitalizado. O debate sobre Acutis transcende sua figura, refletindo um panorama mais amplo sobre como a religião se relaciona com as novas gerações.
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