31/08/2025, 22:30
Autor: Laura Mendes
Nas últimas décadas, a maneira como consumimos televisão passou por transformações imensas, a maioria das quais promovida pela ascensão do streaming. Para muitos, os anos 80 e 90 foram a época de ouro da "televisão de compromisso", onde a vida social girava em torno das programações de TV. A necessidade de estar na frente da tela em um horário específico para acompanhar os episódios de suas séries favoritas criava uma atmosfera de ansiedade e expectativa. Com a escassez de opções de entretenimento, os telespectadores se reuniam em casa, em família ou entre amigos, não apenas para assistir, mas para viver experiências coletivas que se tornariam lembranças marcantes.
Um comentário evocativo destaca como as pessoas organizavam suas vidas em torno de suas séries: "Era uma época diferente, onde cada sexta-feira à noite, assistíamos a 'Dallas' e 'Falcon Crest'. Se você perdesse um episódio, a frustração era real”. Esse tipo de compromisso social gerava uma sensação de pertence entre aqueles que compartilhavam os mesmos interesses. As escolhas de programação eram limitadas – uma a uma, as famílias projetavam suas rotinas em torno de séries icônicas como "MASH" ou "Show do Cosby". “A gente fazia planos em torno dos nossos programas favoritos”, afirma um usuário, ressaltando que essa era uma parte fundamental da vida familiar.
Antes do advento dos videocassetes, que começaram a se popularizar nos anos 70, perder um episódio significava, efetivamente, perder-se de uma história que poderia não se repetir. “Havia uma enorme pressão para estar presente, e as reprises eram uma loteria. Muitas vezes, você não sabia se um episódio seria retransmitido”, conta um entusiasta da época. Isso pode ser contrastado com a atualidade, onde sentar diante da tela em um horário fixo para assistir a um programa é quase um conceito obsoleto. A disponibilidade ilimitada proporcionada pelo streaming eliminou a tensão do "e se eu perder", mas ao custo da intimidade e da conexão social que a televisão proporcionava.
Os videocassetes foram uma solução temporária, permitindo que as pessoas gravassem seus programas. No entanto, essa tecnologia ainda exigia certo grau de habilidade e planejamento. “Você tinha que configurar o seu VCR, programar a gravação e torcer para que nenhuma emergência interrompesse sua programação”, comenta um dos fãs. Se antes as pessoas se agrupavam em torno da televisão para assistir a um episódio, agora essa estrutura social tem mudado radicalmente. Hoje, o termo "FOMO" (medo de perder algo) é mais prevalente na era do streaming, mas com um controle diferente – episódios são vistos a qualquer momento, e muitas vezes, a experiência é solitária e individualista.
Com a popularidade crescente de formatos de narrativa mais longos e envolvendo tramas complexas, perder um único episódio pode significar não entender o enredo de uma série inteira. Enquanto muitos programas da época eram episodicamente mais simples, as produções contemporâneas, como "Game of Thrones" ou "Breaking Bad", exigem que o espectador esteja totalmente envolvido na sequência de eventos. "Se você perdesse um episódio de 'Angel', por exemplo, poderia ficar completamente perdido em relação às mudanças drásticas de plot”, explica um comentarista que viu o quão diferente se tornou o consumo de séries hoje em dia. O que costumava ser uma preocupação hallmarks da era pré-streaming agora estabelece uma nova narrativa das pressões sociais contemporâneas.
Outro usuário menciona ironicamente que a necessidade de encontros sociais para discutir os últimos episódios morreu com a ascensão do streaming: “A maioria das pessoas não fala mais sobre seus programas porque todos assistem a tudo em horários diferentes. A conversa social sobre TV murchou”, diz, sugerindo que a convivência em torno das telas diminuiu com o surgimento do acesso sob demanda.
Ainda assim, muitos que cresceram na era da televisão linear sentem uma certa nostalgia. “Nunca vou esquecer a noite do final de 'Seinfeld', quando a TV a cabo caiu no nosso bairro. Foi um caos total, mas uma lembrança que guardo com carinho”, compartilha um usuário, refletindo sobre como esses momentos compartilhados eram valiosos. Em um mundo onde a televisão se tornou um evento de topo, as histórias contadas na tela tornaram-se parte da vivência coletiva.
Essa conexão que se perdeu, talvez, enfatize como o pano de fundo da sociedade contemporânea está mudando. Hoje, somos mais livres e temos acesso a mais opções do que nunca, mas mesmo assim, a nostalgia por aquela televisão "obrigatória" ainda nos faz lembrar de como era importante encontrar-se, assentar-se juntos e assistir a uma história desenrolar-se em tempo real, na magia da televisão. A arte da televisão como evento social pode ter mudado, mas as memórias delas ainda permanecem por aí, eternamente gravadas em nossas mentes, assim como aqueles episódios incomparáveis que foram uma parte importante da nossa vida.
Fontes: Folha de São Paulo, Estadão, UOL, G1
Resumo
Nas últimas décadas, o consumo de televisão passou por grandes transformações, principalmente devido ao streaming. Nos anos 80 e 90, a "televisão de compromisso" era predominante, com famílias e amigos se reunindo para assistir a programas em horários específicos, criando experiências coletivas marcantes. Comentários evocativos destacam como as pessoas organizavam suas vidas em torno de séries icônicas, como "Dallas" e "MASH". Antes dos videocassetes, perder um episódio significava perder uma história inteira, gerando pressão para estar presente. Hoje, o streaming eliminou essa tensão, mas também diminuiu a conexão social em torno da televisão. Embora a tecnologia tenha permitido gravar programas, a experiência de assistir em grupo se tornou rara. Com tramas mais complexas nas produções atuais, perder um episódio pode resultar em confusão sobre o enredo. Apesar das vantagens do acesso sob demanda, muitos ainda sentem nostalgia pela televisão linear e pelos momentos compartilhados que ela proporcionava, refletindo sobre como essas memórias permanecem vivas em suas mentes.
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