01/09/2025, 11:44
Autor: Laura Mendes
A caça às bruxas na Nova Inglaterra, especialmente em lugares como Salem, é um capítulo sombrio da história americana que continua a fascinar e horripilar. As acusações de bruxaria muitas vezes refletiam mais sobre a dinâmica social e política da época do que sobre qualquer crença real na mágica ou no sobrenatural. Muitas das mulheres acusadas nessa época eram viúvas, o que as tornava alvos vulneráveis para aqueles que buscavam ganhos financeiros ou de poder. A falta de um homem para protegê-las tornou-as alvos fáceis em uma sociedade que frequentemente não permitia que as mulheres tivessem autonomia ou voz.
Os julgamentos de Salem, que ocorreram entre 1692 e 1693, são talvez os mais notórios, e refletem um padrão que foi observado em outras partes do mundo, onde a miséria e a ambição humana colidiram em um contexto de superstição e crença religiosa feroz. No caso de Salem, muitas viúvas, que por alguma razão eram percebidas como ameaças devido à sua independência ou ao controle sobre propriedades, foram acusadas de bruxaria, e suas terras frequentemente passaram para as mãos de outras pessoas durante o tumulto. A alçada da Inquisição, que já havia exercido tensões na Europa, influenciou esses crimes, estabelecendo uma base de medo que facilitava acusações infundadas.
Através de comentários de descendentes de acusados, ficou evidente que muitas das mulheres visadas eram aquelas que possuíam propriedades, que eram independentes, ou que não se encaixavam nos padrões tradicionais de comportamento feminino da época. A intensificação das acusações ocorria no momento em que o Protestantismo estava se consolidando na sociedade americana, criando uma cultura de controle e punição que muitas vezes envolvia a marginalização das mulheres.
Historiadores notam que a virulência com que essas acusações eram feitas e aceitas pelas autoridades estavam frequentemente ligadas à cobiça e ao controle social. Os homens, incluindo maridos das acusadas ou os que ocupavam altos postos de poder, não apenas se beneficiavam das propriedades confiscadas como também aproveitavam a situação para eliminar concorrentes ou inimigos históricos. Como uma comentarista apontou, não era incomum que viúvas fossem alvos porque seus maridos não estavam mais por perto para defendê-las, tornando-as vulneráveis a falsas acusações que poderiam facilmente ser motivadas por rancores pessoal ou ganância.
Controvérsias sobre a forma como as mulheres eram retratadas e tratadas nas sociedades do século XVII também levantam questões sobre os padrões patriarcais que permeavam a cultura colonial. Mesmo que houvesse homens acusados durante os julgamentos em Salem, o destaque frequentemente recaiu sobre as mulheres. Isso, muitas vezes, se tornou um reflexo dos temores da sociedade em relação ao papel que as mulheres podiam desempenhar fora dos limites tradicionais impostos pela religião e pela cultura.
Um exemplo notório é o caso de Elizabeth Moore, uma das primeiras a ser condenada por bruxaria, cuja história revela a falta de salvaguardas para mulheres sem proteção. Sua condenação e subsequente execução são um testemunho dos riscos enfrentados por aquelas que não tinham homens ao seu lado. As consequências das acusações não apenas mataram e destruíram vidas, mas também tiveram repercussões para gerações subsequentes, como já relatado por muitos descendentes das acusadas.
Os julgamentos em Salem também foram um exemplo sinistro de como a fé e a superstição podem se entrelaçar com a lei e a moralidade, criando um caldo de cultivo para injustiças extremamente graves. Os homens, embora também fossem acusados e executados, geralmente não enfrentavam a mesma vulnerabilidade que as mulheres, pois a sociedade sustentava normas que priorizavam os direitos masculinos e frequentemente desconsideravam as vozes femininas.
Com a análise dos séculos que se seguiram, a história das caças às bruxas se torna um alerta sobre a necessidade de se questionar e desafiar as estruturas de poder que ainda existem na sociedade contemporânea. A luta por direitos e pela equidade de gênero é um legado das injustiças do passado e deve ser lembrado para que a repetição dessa história não aconteça novamente. A exploração e a opressão frequentemente se disfarçam sob a forma de 'moralidade' e 'religiosidade', e a história das "bruxas" nos conta que mesmo as mais sutis formas de opressão merecem nosso exame e resistência.
Fontes: História do Brasil, Folha de S.Paulo, The New York Times
Resumo
A caça às bruxas na Nova Inglaterra, especialmente em Salem, é um capítulo sombrio da história americana que revela dinâmicas sociais e políticas da época. Entre 1692 e 1693, muitas mulheres, principalmente viúvas, foram acusadas de bruxaria, refletindo a vulnerabilidade delas em uma sociedade patriarcal. As acusações frequentemente tinham motivações financeiras e de poder, com homens se beneficiando das propriedades confiscadas das acusadas. A Inquisição e o crescimento do Protestantismo contribuíram para um ambiente de medo e controle, onde mulheres independentes eram vistas como ameaças. Os julgamentos de Salem destacaram a marginalização feminina e as injustiças perpetradas sob a aparência de moralidade religiosa. A história das caças às bruxas serve como um alerta sobre a necessidade de questionar estruturas de poder e lutar pela equidade de gênero, lembrando que as opressões podem se disfarçar sob a moralidade.
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