23/08/2025, 23:17
Autor: Laura Mendes
A moda da era vitoriana (1837-1901) sempre foi admirada por seu romantismo e sofisticação, mas poucos conhecem o lado mais confortável desse período. Embora a imagem icônica da época frequentemente remeta a mulheres vestidas de forma elaborada e homens em trajes formais, a realidade do vestuário doméstico revela uma dinâmica intrigante entre conforto e estilo. As roupas de estar, como os vestidos de chá e roupões, desempenhavam um papel fundamental na vida cotidiana das famílias vitorianas, especialmente em um contexto onde o aquecimento central ainda era uma inovação distante.
Os homens e mulheres da era vitoriana contavam com uma variedade de roupas para usar dentro de casa. Roupões, conhecidos como "dressing gowns" no Reino Unido, eram comuns e associados a momentos de relaxamento após o banho ou antes de dormir. Esses roupões, que poderiam parecer apenas um mero detalhe em meio ao caos da indumentária vitoriana, eram de fato a versão daquela época de nossas roupas de moletom modernas, permitindo alguma liberdade de movimento. Embora essas peças não fossem sempre feitas de tecidos leves, eram contrastadas em relação ao formalismo de roupas sociais que se esperava usar em público.
Os vestidos de chá, por exemplo, foram projetados especificamente para serem usados em ambientes caseiros e eram frequentemente adornados com bordados e padrões complexos, próprios da estética vitoriana. Eram mais soltos e menos estruturados do que seus contrapartes de gala, permitindo maior conforto, especialmente para as mulheres que passavam longas horas em casa. A praticidade vinha acompanhada de elegância, refletindo um ideal de beleza que ainda permitia um momento de descanso e familiaridade.
Embora a ideia de roupas de conforto tenha se desenvolvido de maneira diferente ao longo da história, o conceito de "roupas para ficar em casa" estava em plena formação durante o século XIX. Como observam as discussões contemporâneas sobre as vestimentas da época, havia uma clara distinção entre o que os ricos e pobres podiam usar. As classes alta e média alta dispunham de opções mais elaboradas e confortáveis, enquanto as classes mais baixas dependiam do que tinham à disposição. Os relatos falam de camisas longas, que atuavam como a “cueca” doméstica, proporcionando um alívio da formalidade.
Para muitas mulheres, havia uma pressão social para parecer apresentáveis, mesmo em casa, especialmente via a expectativa de que as fotos eram momentos significativos que registravam suas vidas. O ato de se preparar para uma sessão fotográfica exigia que as pessoas se vestissem com trajes mais luxuosos, que exigiam mais tempo e esforço. Isso tornava o dia a dia muitas vezes mais exaustivo, visto que o vestuário requeria várias camadas, desde espartilhos e blusas, até as próprias roupas externas. As mulheres, muitas vezes, precisavam trocar de roupa para se adequar às exigências de cada momento social, compromissos ou receber convidados.
A falta de aquecimento central nas casas vitorianas tornou ainda mais pertinente o uso de várias camadas de roupa. O ambiente fresco e, aparentemente, hostil exigia que tanto homens quanto mulheres vestissem roupas que garantissem a circulação do calor corporal. O loungewear vitoriano, portanto, consistia não apenas em tecidos mais leves, mas também em camadas que fossem adaptáveis, podendo ser rapidamente adicionadas ou removidas, dependendo do clima interno da casa e da atividade que se estava realizando.
Inovações na moda começaram a surgir, e com isso a aceitação das chamadas “roupas de ficar em casa”. Vestidos casuais se tornaram mais populares, e as mulheres, sem a necessidade de usar espartilhos enquanto estavam em casa, desfrutaram de um breve, porém apreciado, alívio. Entretanto, isso não significa que o conforto tenha sido igualado ao que conhecemos hoje. A vestimenta era um reflexo das normas sociais, onde as aparências ainda desempenhavam um papel vital na vida cotidiana.
A moda vitoriana, portanto, exemplifica um período em que as nuances entre conforto e opulência se entrelaçaram. As roupas de estar que surgiram nessas décadas não eram apenas funcionais, mas também uma extensão do cuidado com a imagem pessoal, mesmo dentro da intimidade do lar. A evolução dessas vestimentas nos leva a refletir sobre como os padrões de vida, conforto e estética continuam a evoluir, transformando-se ao longo do tempo, mas sempre permanecendo intimamente ligados às demandas sociais e culturais da época. Cada camada de tecido, cada roupa casual da era vitoriana carrega consigo a história de um período repleto de transformações e a luta pela liberdade de expressão individual.
Fontes: BBC, The Guardian, Ruth Goodman, "How to Be a Victorian"
Resumo
A moda da era vitoriana (1837-1901) é frequentemente admirada por seu romantismo e sofisticação, mas também possui um lado mais confortável. As roupas de estar, como vestidos de chá e roupões, eram essenciais na vida cotidiana, proporcionando um equilíbrio entre conforto e estilo. Os roupões, conhecidos como "dressing gowns", eram comuns para relaxamento e permitiam liberdade de movimento, contrastando com a formalidade das roupas sociais. Os vestidos de chá, projetados para o lar, eram mais soltos e elegantes, refletindo um ideal de beleza que favorecia o conforto. A distinção entre as vestimentas das classes alta e baixa era evidente, com as classes mais abastadas tendo acesso a opções mais elaboradas. A falta de aquecimento central nas casas vitorianas tornava necessário o uso de várias camadas de roupa para garantir calor. Embora a moda tenha evoluído, as roupas de estar da era vitoriana mostram como conforto e opulência se entrelaçaram, refletindo normas sociais e culturais da época.
Notícias relacionadas