11/12/2025, 14:24
Autor: Ricardo Vasconcelos

A recente declaração de Jerome Powell, presidente do Federal Reserve, de que a inteligência artificial (IA) não é uma "parte importante" da história do mercado de trabalho, gerou reações divergentes entre especialistas e profissionais do setor. Apesar de Powell afirmar que a IA ainda está em um papel secundário em relação à dinâmica de emprego atual, a verdade parece ser mais complexa, à medida que novos dados e experiências dos trabalhadores revelam uma realidade diferente.
Após a pandemia de COVID-19, muitas empresas, incluindo gigantes da tecnologia como Amazon, ampliaram drasticamente suas forças de trabalho, apenas para agora se depararem com a necessidade de uma reestruturação significativa, um fenômeno comumente denominado "rightsizing". Este ajustamento ocorre porque a demanda de mercado começou a diminuir e a realidade de contratações excessivas pós-pandemia se torna evidente. A receita das empresas cresceu de forma exponencial, mas o aumento de funcionários também gerou uma pressão esmagadora sobre os modelos de negócios, levando a cortes que podem ser mal interpretados como uma consequência direta da IA.
Nessa nova era, muitos líderes empresariais têm optado por demissões como uma forma de agradar os acionistas e lidar com o clima econômico desafiador. O que inicialmente poderia ser identificado como uma resposta às inovações tecnológicas representa, de fato, uma combinação de fatores. Assim, alguns profissionais sugerem que muitos cargos não estão sendo eliminados devido à eficiência da IA, mas sim a uma estratégia corporativa focada em reduzir custos. Esses cortes, acreditam alguns analistas, estão baseados em má liderança pós-pandemia e na necessidade de desalavancar gastos inflacionários.
Ao reavaliar as oportunidades de emprego, especialmente os níveis mais baixos nas áreas administrativas e de suporte, é perceptível que o impacto da IA não é uniforme. Enquanto alguns empregos, em particular aqueles ligados a funções básicas de escritório, estão sendo eliminados ou transformados, um número considerado crescente de empregos está sendo criado em novas frentes, como a construção de data centers e setor de saúde, que continuam em alta demanda. Essa dualidade indica que, embora algumas funções sejam substituídas, novos tipos de trabalho estão emergindo, apresentando um cenário de equilíbrio inusitado que desafia a simples narrativa da substituição completa de empregos pela tecnologia.
No entanto, a impressão de que a IA está ocupando um espaço maior do que parece no panorama atual é também compartilhada por muitos trabalhadores que vivem a experiência das demissões e insegurança no emprego. A percepção de que novas tecnologias, como os Modelos de Linguagem de Grande Escala, podem ameaçar a estabilidade laboral, parece se intensificar à medida que mais vozes fazem ecoar suas preocupações sobre o futuro do trabalho no contexto atual de incerteza e automação.
Em um setor totalmente ligado à tecnologia, o que está em discussão é se a IA pode realmente se equiparar a profissionais em início de carreira. Há um consenso de que, embora a IA possa aprimorar a produtividade, o que está em xeque é a capacidade desses sistemas substituírem o pensamento crítico e a experiência que os seres humanos trazem aos projetos complexos. Em muitos casos, os resultados obtidos através de automações, ainda que eficientes, não são suficientes para igualar a experiência de engenheiros de software e outros profissionais qualificados.
Diante disso, ouvindo a realidade de quem está diretamente envolvido, alguns afirmam que as demissões que estão sendo anunciadas nas grandes corporações podem ser mais um reflexo de movimentações estratégicas em resposta ao mercado do que a avanços na automação. Já se faz evidente que está em curso uma adaptação, onde empregos estão mudando de lugar e natureza, e a pressão constante para adotar tecnologias de IA está levando empresas a fazer escolhas que podem não ser sustentáveis a longo prazo.
Talvez o verdadeiro questionamento deva ser: estaremos apenas no início de uma mudança que pode se acelerar rapidamente à medida que a adoção da IA se intensifica? Setores que antes garantiam estabilidade agora enfrentam pressões que desafiam tanto a viabilidade de empregos atuais quanto a formação profissional que será necessária para um futuro em que a IA se torna cada vez mais sofisticada. Assim, destaca-se a importância de investimento em educação e capacitação para preparar os trabalhadores para um novo mundo, onde a colaboração entre humanos e sistemas de IA será crucial para a produtividade e inovação contínuas.
Convém lembrar que, se o discurso de Powell ignora essas nuances, é tarefa da sociedade e dos líderes empresariais garantir que não sejamos pegos de surpresa diante da transformação em curso no mercado de trabalho, para que possamos, na verdade, moldar um futuro em que a tecnologia e o talento humano coexistam de maneira equilibrada e produtiva.
Fontes: Yahoo Finance, Folha de São Paulo, The Economist
Detalhes
Jerome Powell é o presidente do Federal Reserve, o banco central dos Estados Unidos, cargo que ocupa desde fevereiro de 2018. Ele é responsável por formular a política monetária do país, influenciando taxas de juros e a oferta de dinheiro, com o objetivo de promover o emprego máximo e a estabilidade de preços. Powell tem um histórico em finanças e direito, e sua liderança tem sido marcada por desafios significativos, incluindo a resposta econômica à pandemia de COVID-19.
Resumo
A declaração de Jerome Powell, presidente do Federal Reserve, de que a inteligência artificial (IA) não é uma "parte importante" do mercado de trabalho gerou reações divergentes. Powell sugere que a IA ainda desempenha um papel secundário, mas dados recentes indicam uma realidade mais complexa. Após a pandemia, muitas empresas, como Amazon, ampliaram suas equipes, mas agora enfrentam reestruturações devido à diminuição da demanda. As demissões, frequentemente vistas como resultado da automação, são, na verdade, uma resposta a estratégias corporativas e a má liderança. Embora alguns empregos estejam sendo eliminados, novas oportunidades estão surgindo em setores como construção de data centers e saúde. A percepção de que a IA ameaça a estabilidade laboral é crescente entre os trabalhadores, mas a substituição completa de funções humanas pela tecnologia é questionável. As demissões nas corporações refletem mais movimentações estratégicas do que avanços em automação. A adaptação do mercado de trabalho exige investimentos em educação e capacitação, preparando os trabalhadores para um futuro onde humanos e IA coexistem de forma produtiva.
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