18/10/2025, 23:25
Autor: Laura Mendes
Nos últimos tempos, um novo fenômeno tem sido observado entre influenciadores digitais no Brasil: muitos estão abandonando suas contas em redes sociais e optando por empregos no regime da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT). Essa mudança é uma resposta a um ambiente cada vez mais competitivo e a gerência insustentável de uma carreira que, embora glamourosa em teoria, frequentemente se revela decepcionante na prática.
As vozes de influenciadores que estão fazendo essa transição chamam a atenção para a dura realidade de um mercado de criação de conteúdo saturado. Segundo relatos, a ideia de se tornar um influenciador digital muitas vezes tem atraído jovens com a promessa de riqueza e fama, mas essa visão romântica esconde uma batalha diária por relevância e, muitas vezes, pela própria subsistência. Uma inflação de meia-idade, que traz à tona a insustentabilidade das carreiras digitais, fez muitos perceberem que, para obter uma renda estável e confiável, o trabalho tradicional ainda é a melhor opção.
Um dos comentários que ecoam essa realidade observa que, em um mês "bom", alguns criadores podem ganhar somente R$ 3.000, o que não garante uma estabilidade financeira equivalente a um emprego formal. Este número é emblemático, visto que representa não apenas a dificuldade de alcançar grandes audiências, mas também a competitividade exacerbada do mercado digital, onde a grande maioria dos influenciadores não consegue sair do zero. “Facilmente 99% de quem vive de criar conteúdo está ganhando o que conseguiria em um trabalho CLT, mas o esforço é muito maior”, destaca um internauta.
Uma pesquisa informal realizada em escolas também aponta que, para muitas crianças, o sonho de ser YouTuber ou influenciador acabou substituindo outras aspirações de carreira mais tradicionais. Com base em comentários coletados, é surpreendente notar que, enquanto anos atrás, as crianças sonhavam em se tornar astronautas ou cientistas, hoje é comum ver listas cheias de "Youtuber" nos murais das escolas. Isso levantou questões sobre a artificialidade desse sonho e se ele realmente se sustenta na realidade. Um participante afirmou que “o problema do influenciador da nova geração é que ele entra no negócio com o objetivo de ganhar dinheiro, e não por pura criatividade”.
A cultura digital também trouxe uma série de consequências inesperadas, das quais a saturação é apenas a ponta do iceberg. Muitas pessoas ingressaram nas redes sociais sem uma base sólida de fãs, apenas tentando duplicar o sucesso de outros. Como um dos comentários ressalta, “para cada um que faz sucesso como o Luva de Pedreiro, há 10.000 anônimos tentando ficar famosos.” Isso resulta em um mercado que está cada vez mais escasso e que não valoriza o novo. Além disso, a entrada de novas plataformas, como o TikTok, aumentou ainda mais a competitividade. As pessoas se sentiram pressionadas a imitar fórmulas que já funcionaram para outros, muitas vezes sem um diferencial que justifique sua presença.
A visão de um novo padrão de carreira também faz refletir sobre o papel que a educação deve desempenhar. A instabilidade econômica associada às carreiras digitais pode não ser apenas um fator desencorajador, mas também um chamado para a reavaliação das aspirações profissionais das novas gerações. O relato de um visitante em uma escola pública de Curitiba, que se deparou com um mural de "árvore dos sonhos", revela que a maioria das crianças ainda deseja ser Youtuber, o que demonstra que o fenômeno não se limita a um estrato social específico. Essa realidade, por si só, indica um desvio nas prioridades da juventude, que deve ser discutido amplamente em ambientes educacionais e sociais.
Conforme os influenciadores abandonam suas contas em busca de estabilidade, surge uma pergunta pertinente: as redes sociais funcionarão cada vez mais como uma plataforma de experimentação ou de carreira real? Ou será que a nuvem da fama temporária desestabilizará ainda mais a economia já frágil do trabalho digital? As tendências atuais parecem adotar um tom cético em relação à glamourização dessas profissões, sugerindo que a cultura das redes sociais precisa passar por uma reavaliação crítica, tanto pelas gerações mais jovens quanto pelos criadores de conteúdo.
A questão que persiste é se o fenômeno da popularidade nas redes sociais poderá ser redefinido. Em vez de se dependente de likes e seguidores, criar conteúdos autênticos poderia surgir como a verdadeira vitória, transformando a natureza do que significa ser um criador. Na atual situação, com tantos retornando a empregos tradicionais, o verdadeiro impacto da era digital continua a ser um tema de intensa discussão e reflexão sobre o futuro do trabalho.
Fontes: Folha de São Paulo, Estadão, matérias sobre influenciadores e mercado de trabalho
Resumo
Nos últimos tempos, muitos influenciadores digitais no Brasil estão abandonando suas contas nas redes sociais em busca de empregos formais sob o regime da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT). Essa mudança reflete a saturação do mercado de criação de conteúdo, onde a promessa de riqueza e fama frequentemente se transforma em uma luta diária pela relevância e subsistência. Em um cenário onde a maioria dos criadores não alcança grandes audiências, muitos relatam que a renda obtida com a criação de conteúdo é insuficiente para garantir estabilidade financeira. Além disso, uma pesquisa informal revela que o sonho de ser influenciador tem substituído aspirações mais tradicionais entre crianças, levantando questões sobre a viabilidade desse desejo. A saturação do mercado, impulsionada pela entrada de novas plataformas como o TikTok, e a falta de diferenciação entre os criadores têm gerado um ambiente cada vez mais competitivo. À medida que mais influenciadores buscam segurança em empregos tradicionais, o futuro das redes sociais como uma carreira real ou uma plataforma de experimentação se torna uma questão crítica a ser debatida.
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