Incêndio em casa de Candomblé em Goiás marca crescente violência religiosa

Um incêndio criminoso em uma casa de Candomblé em Goiás expõe a crescente violência religiosa e a intolerância contra religiões de matriz africana no Brasil.

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06/12/2025, 15:22

Autor: Laura Mendes

Uma casa de Candomblé em chamas, com chamas altas e fumaça densa saindo do telhado sob o céu noturno. Vários motivos religiosos, como guias e imagens, estão espalhados ao redor, simbolizando a destruição de um espaço sagrado. Há uma sombra indistinta de uma pessoa fugindo ao fundo, cercada por uma atmosfera de desespero e indignação coletiva.

Na madrugada do dia 2 de outubro de 2023, uma casa de Candomblé foi alvo de um incêndio criminoso em Goianira, localizada na Região Metropolitana de Goiânia. O incidente, registrado por câmeras de segurança, mostra uma pessoa encapuzada ateando fogo à fachada do local, antes de fugir da cena. Este ato violento fornece um vislumbre alarmante da crescente intolerância e violência direcionadas às religiões de matriz africana no Brasil, destacando a necessidade urgente de uma defesa robusta do Estado Laico e da diversidade religiosa.

O incêndio em Goianira se insere em um padrão preocupante de ataques a locais sagrados e práticas religiosas em várias regiões do Brasil. Relatos indicam que a intolerância religiosa e a discriminação contra religiões afro-brasileiras têm aumentado, especialmente em áreas controladas por grupos fundamentalistas que, sob a bandeira da fé, impõem suas visões sobre a sociedade. Esses "bandidos de Cristo", como foram referidos em comentários sobre o caso, têm promovido uma espécie de "purificação" religiosa que, na realidade, busca erradicar crenças e práticas que não se alinham com suas ideologias.

Um comentário destacado aponta que este não é um fenômeno isolado. A ascensão do que alguns denominam uma "autocracia de inspiração teocrática" está em curso, onde as ofensivas contra religiões afro-brasileiras são sistemáticas e deliberadas. A retórica promovida por líderes neopentecostais, em particular, alimenta um clima de hostilidade e desumanização das crenças de matriz africana, colocando-as como o "inimigo" a ser combatido. Esse processo tem raízes em uma educação que frequentemente demoniza o que é diferente, alimentando um ciclo perigoso de ódio e violência.

O impacto desse incendiário contínuo sobre a liberdade religiosa e a paz social é inegável. Há uma crescente percepção de que a prática da tolerância e o respeito pela diversidade religiosa estão se deteriorando, enquanto a radicalização e a intolerância ganham espaço. A ideia do Estado Laico, que deveria garantir a liberdade de culto e a convivência pacífica entre diferentes crenças, está sendo testada de maneiras alarmantes.

Imagens de templos e casas religiosas em chamas não são surpresa para muitos que vivenciam a realidade nas comunidades onde ocorre essa perseguição religiosa. Infelizmente, muitos se sentem inseguros para expor suas crenças ou práticas, levando a um clima de silêncio e medo. Um indivíduo mencionou que, embora trabalhe em um ambiente onde o respeito à laicidade é a norma, a preocupação de retaliação impede discussões livres sobre a fé.

Esse temor é compartilhado por muitos que conhecem pessoas que, em discussões banais, acabaram se envolvendo em situações trágicas e até mesmo fatais. Assim, o aspecto humano da intolerância religiosa torna-se mais aparente, evidenciando que as divergências de crença podem rapidamente escalar para conflitos violentos. A repressão a essas vozes diferentes representa não apenas um ataque à diversidade cultural, mas também um retrocesso nos direitos humanos fundamentais.

Além disso, a narrativa de que as diferenças religiosas devem ser vistas como oportunidades para promover o diálogo e a aceitação está perdendo terreno. Em vez disso, o foco parece estar na unificação forçada sob uma única visão religiosa, a qual ignora a rica tapeçaria que as diferentes tradições espirituais oferecem à sociedade. A crítica à degeneração moral e a apropriação da religião como instrumento de opressão se torna cada vez mais vocal, mas também mais alarmante para aqueles que defendem a paz social e a diversidade de crenças.

Frente a essa situação crítica, torna-se imperativo que a sociedade civil, as autoridades e as organizações de direitos humanos se mobilizem para promover uma cultura de respeito e tolerância em relação às diversas crenças religiosas. Os atos de violência precisam ser responsabilizados, e um debate aberto sobre a importância da laicidade e da coexistência pacífica deve ser priorizado em todas as esferas sociais. O que ocorreu em Goianira é um chamado à ação, não apenas para proteger os locais de culto, mas para uma reflexão mais ampla sobre o estado atual da liberdade religiosa no Brasil e como ela pode ser salvaguardada em nome da democracia e da justiça social.

Fontes: G1, Folha de São Paulo, O Globo

Resumo

Na madrugada de 2 de outubro de 2023, uma casa de Candomblé em Goianira, Goiás, foi incendiada de forma criminosa, com uma pessoa encapuzada sendo flagrada por câmeras de segurança. Este ato violento reflete a crescente intolerância e violência contra religiões de matriz africana no Brasil, evidenciando a necessidade de defesa do Estado Laico e da diversidade religiosa. O incêndio se insere em um padrão preocupante de ataques a locais sagrados, impulsionados por grupos fundamentalistas que promovem uma "purificação" religiosa. A retórica de líderes neopentecostais tem alimentado um clima de hostilidade, desumanizando crenças afro-brasileiras. A liberdade religiosa e a paz social estão sendo ameaçadas, com um aumento da radicalização e da intolerância. Muitas pessoas se sentem inseguras para expressar suas crenças, resultando em um clima de medo. A narrativa de que as diferenças religiosas devem ser oportunidades para diálogo está se perdendo, enquanto a unificação forçada se torna uma realidade. É urgente que a sociedade civil e as autoridades promovam uma cultura de respeito e tolerância, responsabilizando os atos de violência e priorizando o debate sobre a laicidade e a coexistência pacífica.

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