06/12/2025, 18:10
Autor: Ricardo Vasconcelos

Recentemente, o CEO da Illycaffè chamou atenção ao mencionar um ciclo peculiar da economia do café no Brasil, onde a matéria-prima, ao invés de ser valorizada localmente, acaba sendo exportada e, posteriormente, importada de volta em forma de produto final. Essa prática tem gerado discussões acaloradas sobre a falta de investimento no setor industrial brasileiro e as consequências desse modelo econômico para o país.
O Brasil, um dos maiores produtores de café do mundo, tem sua tradicional produção frequentemente reduzida a um mero fornecedor de commodities, que são subsequentemente transformadas e vendidas a preços mais elevados em mercados internacionais. A situação não é nova; há décadas o país vem enfrentando desafios para agregar valor aos seus produtos e se desprender da dependência da exportação de matérias-primas. Essa realidade foi ilustrada pelos comentários de internautas que destacaram o impacto histórico da política econômica dos Estados Unidos, que, décadas atrás, destruiu a capacidade de o Brasil agregar valor aos seus produtos, afetando diretamente a indústria do café.
Nos últimos anos, o cenário econômico brasileiro tem sido caracterizado pelo chamado “rentismo”, onde investidores preferem deixar seu dinheiro rendendo a taxas altíssimas, como a Selic, a arriscar em novas indústrias ou na agregação de valor em produtos agrícolas. Com uma taxa Selic em patamares elevados, muitos argumentam que o governo tem incentivado uma situação desfavorável à indústria nacional, permitindo que grandes empresários e latifundiários dominate o cenário econômico sem a pressão para transformação ou inovação.
O discurso do presidente Lula, que ressalta a importância de processar commodities como terras raras dentro do país, levanta questões sobre a viabilidade de uma mudança real na política industrial do Brasil. A ideia de agregar valor aos produtos no próprio território está longe de ser apenas um ideal e, se não houver políticas concretas que incentivem a industrialização, o país pode continuar a perder oportunidades significativas de crescimento e desenvolvimento.
No caso específico do café, o relato de que o Brasil exporta grãos para, em seguida, recomprar o produto em uma versão processada, ilustra a falta de interesse histórico e político em desenvolver a infraestrutura industrial necessária. Comentários indicaram que produtos como suco de laranja e carne enfrentaram situações semelhantes, onde o Brasil exporta a matéria-prima e volta a comprá-la industrializada, muitas vezes a um custo muito mais alto, enfatizando a absurda logística em um sistema que parece favorecer a exportação sem valor agregado.
Muitos contribuintes ressaltaram que a limitação na capacidade de investimento em maquinário e infraestrutura industrial é um dos principais desafios enfrentados pelo Brasil, o que impossibilita a criação de uma base sólida para a indústria. Embora existam programas, como o regime de isenção de impostos de importação para bens que não são produzidos no país, muitos ainda consideram isso uma solução temporária e insuficiente.
A questão central nesses debates parece ser a ausência de um comprometimento real por parte dos setores privados e do governo em transformar a economia brasileira em uma que não apenas forneça matérias-primas, mas que também incentive a inovação e a formação de mão de obra qualificada. A visão compartilhada por muitos comenta sobre um ciclo vicioso onde as commodities são exploradas sem que um planejamento estratégico de longo prazo para a industrialização seja efetivamente implementado.
Portanto, a declaração do CEO da Illycaffè não é meramente um relato de práticas comerciais, mas um chamado à reflexão sobre a realidade econômica do Brasil. A estratégia atual impede que o país capitalize seus recursos naturais de maneira mais eficaz, comprometendo seu futuro em um cenário econômico global em constante mudança.
À medida que a discussão sobre industrialização e economia brasileira continua em pauta, o futuro do café, bem como outros setores de commodities, dependerá da capacidade do Brasil de transformar seu potencial agrícola em uma força industrial robusta. A expectativa é que, com mais planejamento e políticas concretas, o país possa começar a reverter esse quadro e, finalmente, tornar-se um produtor que não apenas exporta, mas também transforma suas ricas commodities em produtos de alto valor agregado, beneficiando toda a nação.
Fontes: Folha de São Paulo, Reuters, O Estado de S. Paulo
Detalhes
Fundada em 1933, a Illycaffè é uma renomada empresa italiana de café, conhecida por sua qualidade premium e compromisso com a sustentabilidade. A marca é famosa por seu café espresso e pela busca constante de inovações no setor, além de promover práticas de cultivo responsável e apoiar produtores de café ao redor do mundo. A Illycaffè é reconhecida por sua abordagem artística e científica na produção de café, oferecendo uma experiência única aos consumidores.
Resumo
O CEO da Illycaffè destacou um ciclo econômico peculiar do café no Brasil, onde a matéria-prima é exportada e depois importada como produto final, gerando debates sobre a falta de investimento na indústria nacional. Apesar de ser um dos maiores produtores de café do mundo, o Brasil frequentemente se limita a fornecer commodities, sem agregar valor. Essa realidade é resultado de políticas econômicas históricas e do atual “rentismo”, onde investidores preferem aplicar em rendimentos altos a investir na industrialização. O discurso do presidente Lula sobre a necessidade de processar commodities no país levanta questões sobre a viabilidade de mudanças na política industrial. A falta de investimento em infraestrutura e a ausência de comprometimento de setores privados e do governo em transformar a economia em uma que valorize a inovação são desafios persistentes. A declaração do CEO não apenas retrata práticas comerciais, mas também um apelo à reflexão sobre a realidade econômica do Brasil, que precisa transformar suas commodities em produtos de alto valor agregado para garantir um futuro mais promissor.
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