09/12/2025, 20:20
Autor: Ricardo Vasconcelos

A crescente adoção da inteligência artificial (IA) no setor econômico está levantando sérias preocupações entre especialistas sobre seu impacto no futuro do trabalho. Howard Marks, co-fundador da Oaktree Capital Management LP, expressou suas apreensões em um artigo recente, citando a possibilidade de que milhões de empregos sejam ameaçados à medida que empresas buscam eficiência por meio da automação impulsionada por tecnologias de IA. Em sua análise, Marks destaca que muitos dos avanços tecnológicos podem resultar em um aumento da produtividade, mas ao mesmo tempo podem criar uma divisão social e econômica ainda maior, exacerbando questões de desigualdade e descontentamento social.
Marks enfatiza que a perspectiva do emprego em meio a essas mudanças é "aterrorizante". Ele manifesta sua preocupação com o surgimento de uma classe privilegiada de indivíduos com alta educação que dominariam a tecnologia, enquanto uma enorme população de trabalhadores poderia ser deixada à margem do progresso econômico. "Isso promete ainda mais divisão social e política do que temos agora, tornando o mundo propício à demagogia populista", adverte Marks, chamando atenção para as potenciais consequências sociais e políticas que podem advir dessa transformação econômica.
O debate sobre o impacto da IA no mercado de trabalho não é novo, mas ganhou novos contornos com o aumento do investimento em tecnologias de automação e inteligência artificial, especialmente em momentos de instabilidade econômica. Um dos pontos cruciais mencionados na discussão atual é o papel do Federal Reserve (Fed) em um cenário onde cortes de juros não parecem ser uma solução viável para reverter os números crescentes de desemprego. Tarifas mais baixas poderiam, teoricamente, estimular a economia, mas o cenário atual é marcado por desempenho irregular e crescimento fraco. A desconfiança em relação à eficácia de medidas tradicionais de estímulo é palpável. "Se cortes de juros fossem a solução pra melhorar os números de emprego nesse cenário, a gente não estaria vendo os piores números desde 2008", comentou um observador, evidenciando a complexidade da situação.
Como a tecnologia continua a evoluir, a previsão de que a maioria dos empregos braçais e de escritório possa ser substituída por inteligência artificial parece cada vez mais real. A automatização de processos poderia muito bem tornar obsoletos setores inteiros, levando a uma recuperação econômica que poderia beneficiar apenas uma minoria. Com essa perspectiva, é fundamental que se considere a implementação de políticas como a renda básica universal, proposta como um meio de garantir que as pessoas afetadas pela automação tenham ao menos uma rede de segurança financeira.
Além das preocupações sociais, Marks também levanta questões sobre a sustentabilidade do investimento maciço em inteligência artificial, sugerindo que existe a possibilidade de que essa "bolha" de investimentos em tecnologia esteja mascarando os efeitos reais da desocupação. "Ou é uma bolha enorme e a gente realmente precisa cortar, mas ainda não vimos os efeitos porque estão sendo mascarados por acordos circulares fabricados", disse um comentarista, ecoando a incerteza quanto à projeção do mercado.
O atual ciclo de investimentos em IA é contraditório, pois, ao mesmo tempo em que promete transformações econômicas significativas, também é desafiado por sua viabilidade operacional e os efeitos decorrentes. Um comentarista, refletindo sobre a dinâmica do investimento em tecnologia, sugere que as empresas estão sem um plano claro sobre como adaptar suas forças de trabalho às novas realidades, prejudicando a estabilidade dos empregos.
Conforme a tecnologia avança, as empresas podem enfrentar uma tensão maior entre suas metas de automação e a responsabilidade social de manter empregos e sustentar as economias locais. A visão de um futuro em que as máquinas substituem cada vez mais a mão de obra humana pode se tornar uma realidade ainda mais inquietante, levando a um clima de incerteza e temor.
À medida que o cenário econômico mundial enfrenta novas adversidades, como a inflação a níveis recordes e desafios no setor bancário, a conversa em torno da IA e seu impacto no mercado de trabalho só promete intensificar-se. A análise de Marks serve como um raio-x de uma questão crítica e atemporal: como equilibrar os ganhos de produtividade e a inovação com a necessidade de manter estruturas sociais coesas e sustentáveis? O caminho à frente requer um pensamento crítico e um diálogo aberto para traçar um futuro onde tecnologia, economia e responsabilidade social possam coexistir de forma produtiva.
Fontes: Bloomberg, Financial Times, The Economist
Detalhes
Howard Marks é co-fundador e co-presidente da Oaktree Capital Management, uma das principais empresas de gestão de investimentos do mundo, especializada em ativos alternativos. Reconhecido por suas análises perspicazes sobre mercados e investimentos, Marks é autor de vários livros e cartas de investimento que abordam temas como risco, ciclos de mercado e a importância de uma abordagem disciplinada nos investimentos.
Resumo
A crescente adoção da inteligência artificial (IA) levanta preocupações sobre o futuro do trabalho, conforme destacado por Howard Marks, co-fundador da Oaktree Capital Management. Em um artigo, Marks alerta que a automação pode ameaçar milhões de empregos, aumentando a desigualdade social e econômica. Ele enfatiza que a ascensão de uma classe privilegiada de indivíduos altamente educados pode deixar muitos trabalhadores à margem do progresso, exacerbando divisões sociais e políticas. O debate sobre o impacto da IA no mercado de trabalho é intensificado pela instabilidade econômica e pela desconfiança nas medidas tradicionais de estímulo, como cortes de juros. A automatização pode tornar obsoletos setores inteiros, levando à necessidade de políticas como a renda básica universal para apoiar aqueles afetados. Marks questiona a sustentabilidade dos investimentos em IA, sugerindo que uma possível "bolha" pode estar mascarando o desemprego real. O cenário atual exige um equilíbrio entre inovação e responsabilidade social, à medida que a conversa sobre o impacto da IA no emprego se intensifica em meio a desafios econômicos globais.
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