13/09/2025, 15:27
Autor: Laura Mendes
Nos últimos dias, uma greve organizada por motoristas e motoboys que trabalham por aplicativos de entrega como iFood, Uber e Mercado Livre voltou a levantar questões sobre a eficácia de tais protestos e os reais impactos que podem ter nas operações dessas plataformas, bastante dominantes no mercado. A discussão ganhou força entre trabalhadores que, embora vivenciem a precariedade de suas funções, divergem sobre a necessidade e eficácia das paralisações.
Com a crescente insatisfação em relação aos baixos valores das corridas e entregas, muitos motoristas e entregadores tomaram a frente de ações reivindicatórias, porém, a adesão à greve tem se mostrado desigual. Comentários de trabalhadores refletem essa realidade. "Trabalho com comida e, em dia de protesto, continuamos com as entregas normalmente, já que a adesão não é total", afirmou um entregador. Isso sugere que a falta de unidade dentro da categoria pode desfavorecer o que seria uma mobilização efetiva.
Por outro lado, a opinião de outros motoristas destaca que, apesar da ineficácia em certos dias, algumas greves podem sim gerar impacto, especialmente em grandes centros e restaurantes que dependem dos entregadores para seu funcionamento. Um comentário relevante trouxe à tona que na última paralisação, o iFood alegou que 60% dos pedidos eram entregues por restaurantes que não utilizam motoboys, refletindo a complexidade da relação entre os serviços prestados e a influência que uma greve pode ter sobre as vendas.
As vozes dos entregadores também indicam uma preocupante desconexão entre as suas aspirações e a realidade do mercado de trabalho, que opera sob um viés que considera os motoristas como "empreendedores". "Muitos entregadores acreditam que estão mais perto do CEO do que dos passageiros que transportam. Essa ideia de individualismo e self-made man acaba enfraquecendo as possibilidades de organização coletiva", ressaltou outro motorista, apontando uma lacuna significativa que dificulta a formação de um movimento mais coeso e comprometido.
Entretanto, a noção de que as greves de motoristas e motoboys possuem um impacto limitadíssimo não é unânime. A participação nas paralisações, ao mesmo tempo em que é criticada, também é vista como uma necessidade urgente. Um entregador relatou que, quando houve uma greve em sua cidade, embora não tenha havido impactos diretos nas entregas, muitos motoboys de áreas vizinhas não hesitaram em sair para trabalhar. Essa dinâmica sinaliza como a falta de uma regulamentação e reconhecimento formal para a profissão pode tornar a mobilização ineficaz, já que a estrutura de trabalho é por si só volátil e sujeita a substituições rápidas.
O debate sobre a necessidade de regulamentação da categoria e então fortalecimento da legislação trabalhista sobre os motoristas por aplicativos também foi destacado. Um comentário expressou frustração com a situação atual do mercado, que, segundo ele, continua a ignorar as necessidades essenciais dos trabalhadores. "A greve é importante, mesmo que não derrube um sistema estruturado, ela gera pressão sobre as plataformas, que têm que prestar contas", disse o trabalhador.
Dessa forma, muitos entregadores reconhecem o valor das greves como uma ferramenta para reivindicar direitos, mas também admitem que a eficácia das mesmas depende da adesão coletiva e da possibilidade de criação de um movimento organizado. A construção de sindicatos que representem efetivamente os interesses dos motoristas ainda é vista como um passo necessário para promover mudanças reais no setor.
Contudo, os comentários também revelam um panorama pessimista em relação à permanência de uma luta que, no cenário atual, torna-se desigual. “As greves precisam ser prolongadas para gerarem um efeito de verdade, mas estamos num cenário onde entregadores sentem o peso imediado na sua renda”, observou um comentarista, refletindo sobre a dificuldade de manter uma mobilização prolongada. Sem dúvida, esse atenuante se apresenta como um desafio constante: criar um modelo de solidariedade, união e resistência duradoura no meio de um ambiente de trabalho em constante mutação e com interesses divergentes.
A expectativa é que, com o tempo, os motoristas de aplicativos consigam se organizar de maneira mais coesa e eficaz, reivindicando melhores condições de trabalho e um reconhecimento formal de seus direitos, ajudando a remodelar o setor para um futuro que ofereça mais segurança e justiça laboral. Esse panorama evidencia que as greves, embora possam ser vistas como uma mera expressão de descontentamento, têm o potencial de desencadear mudanças significativas, caso esforços coordenados e um senso de coletividade sejam erguidos em sua base, superando as barreiras do individualismo que dominam o setor atualmente.
Fontes: Folha de São Paulo, Valor Econômico, O Globo
Resumo
Nos últimos dias, motoristas e motoboys que trabalham para aplicativos de entrega como iFood, Uber e Mercado Livre organizaram uma greve que levantou questões sobre a eficácia desses protestos. Apesar da insatisfação com os baixos valores das corridas, a adesão à paralisação foi desigual, refletindo a falta de unidade entre os trabalhadores. Enquanto alguns acreditam que as greves podem impactar operações em grandes centros, outros apontam que a estrutura de trabalho precária e a visão individualista dificultam a mobilização coletiva. A falta de regulamentação e reconhecimento formal da profissão também é um fator que torna as greves ineficazes. Muitos entregadores reconhecem a importância das greves para reivindicar direitos, mas a eficácia depende da adesão coletiva. A expectativa é que, com o tempo, os motoristas consigam se organizar melhor, promovendo mudanças significativas no setor e buscando melhores condições de trabalho e justiça laboral.
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