09/12/2025, 18:58
Autor: Laura Mendes

A Geração Z, composta por jovens nascidos entre meados da década de 1990 e o início dos anos 2010, está desafiando as normas tradicionais do mercado de trabalho no Brasil. Essa geração, que entrou no mercado em um período de transição econômica e social, não apenas busca salários mais altos, mas também expressa uma crescente descrença na possibilidade de alcançar aposentadoria e estabilidade em suas carreiras.
As recentíssimas reflexões realizadas por membros dessa geração revelam um cenário marcado por profundas mudanças nas expectativas e garantias laborais. Os jovens têm testemunhado os pais e avós dedicarem-se intensamente ao trabalho, muitas vezes sem serem recompensados adequadamente, frequentemente levando a condições financeiras precárias. Essa realidade tem fomentado uma nova mentalidade em relação ao trabalho, onde a lealdade à empresa é vista como um conceito obsoleto e arriscado.
Um dos fatores que moldam a visão da Geração Z sobre o futuro do trabalho é o advento da tecnologia e a fragilidade dos empregos tradicionais. O crescimento exponencial do setor de serviços e a instabilidade econômica têm contribuído para um quadro em que o jovem trabalhador não encontra garantias acerca de sua permanência em posições antes consideradas seguras. A ideia de um “emprego para a vida” foi lentamente erodida pela realidade do trabalho temporário e pela contratação de freelancers, que muitas vezes não oferecem benefícios ou garantias de renda.
A precarização do trabalho, um tema amplamente discutido nos últimos anos, também impactou as expectativas da Geração Z. Os jovens percebem que, embora existam formalidades como a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), o sistema está sob constante ameaça, e isso resulta em uma falta de confiança na proteção que esses empregos deveriam proporcionar. Eles se sentem pressionados a se adaptar a um mercado que muda rapidamente, o que provoca dúvidas sobre a eficácia dos antigos modelos de emprego e aposentadoria.
Ainda que o Brasil tenha um sistema legal que busca assegurar direitos trabalhistas, muitos jovens relatam que a realidade é bem diferente. As inseguranças que enfrentam em relação à renda, à qualidade de vida e, especialmente, à aposentadoria, levam a uma crescente indiferença em relação a previsões de longa duração. Para muitos, focar em garantir salários superiores se tornou uma prioridade para lidar com o alto custo de vida e a escassez de oportunidades requeridas para comprar uma casa ou um apartamento.
O sistema previdenciário também é alvo de críticas. Muitos observadores apontam que 200 anos de políticas públicas ineficazes deixaram um rombo significativo nas finanças do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS). Os jovens percebem essa realidade desesperadora e veem o que deveriam ser garantias básicas como mera ilusão. Alguns são rápidos em reconhecer que os benefícios e aposentadorias que seus avós tiveram são menos acessíveis para eles.
Depoimentos sobre a ineficiência do sistema de proteção social no Brasil vão além das palavras, revelando um clima de desconfiança entre os jovens. A proposta de um emprego estável, com benefícios a longo prazo, parece cada vez mais distante. O modelo capitalista que eles herdaram é percebido como injusto, promovendo a ideia de que, mesmo se esforçando ao máximo no trabalho, a recompensas não são garantidas.
O foco na capacidade de se reinventar, em vez de buscar por estabilidade, representa uma mudança significativa nas expectativas da Geração Z. Embora muitos ainda aspirem a alcançar metas financeiras robustas, essa geração tem cada vez mais consciência de que o caminho para alcançá-las, muitas vezes, envolve competição acirrada e adaptação contínua à dinâmica do mercado de trabalho.
Entre os jovens discutidos, a aceitação de que a estabilidade pode não ser uma meta realista para todos tem se tornado um mantra. Portanto, se antes a linha de chegada parecia ser a segurança de um emprego fixo, hoje a Geração Z busca aperfeiçoar suas habilidades e maximizar suas rendas, aceitando que suas trajetórias profissionais poderão ser mais variadas e, em muitos casos, mais incertas.
Essa frente inovadora de pensamentos e ações, refletida nas vozes da Geração Z, está começando a reformular a narrativa do trabalho no Brasil. A dúvida sobre a viabilidade de um futuro estável e a luta diária por melhores salários e condições tornam-se não apenas um desafio pessoal, mas uma demanda coletiva por mudanças estruturais no modelo de trabalho atual. Essa realidade única traz à tona questões prementes sobre os direitos sociais e a urgência de uma reavaliação do que significa trabalhar para viver.
Fontes: Folha de São Paulo, Estadão, O Globo, BBC Brasil
Resumo
A Geração Z no Brasil, composta por jovens nascidos entre meados da década de 1990 e início dos anos 2010, está desafiando as normas tradicionais do mercado de trabalho. Essa geração, que entrou no mercado em um contexto de transição econômica, busca não apenas salários mais altos, mas também expressa ceticismo em relação à aposentadoria e estabilidade profissional. As experiências de seus pais e avós, que se dedicaram ao trabalho sem recompensas adequadas, moldaram uma nova mentalidade que vê a lealdade à empresa como arriscada. A precarização do trabalho e a instabilidade econômica contribuem para a desconfiança em relação às garantias trabalhistas. Apesar de um sistema legal que visa proteger direitos, muitos jovens sentem que as promessas de segurança são ilusórias. A Geração Z prioriza a adaptação e a reinvenção, aceitando que a estabilidade pode não ser uma meta realista. Essa mudança de perspectiva está reformulando a narrativa do trabalho no Brasil, levantando questões sobre direitos sociais e a necessidade de reavaliar o significado de trabalhar para viver.
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