21/09/2025, 17:30
Autor: Ricardo Vasconcelos
A demissão do general Alexander Lapin, um dos principais responsáveis pelas operações russas na Ucrânia, está provocando um intenso debate sobre a atual estrutura militar e política da Rússia, especialmente em um momento crítico da guerra. O que começou como uma simples troca de comando agora se revela como um reflexo de uma crise de liderança que parece corroer as fundações do exército russo e a própria governança do presidente Vladimir Putin.
Lapin foi afastado oficialmente após uma série de derrotas significativas nas linhas de frente, levantando a questão de como a lealdade cega à liderança de Putin pode estar comprometendo a eficácia militar. Segundo análises de especialistas, a demissão de Lapin pode ter sido uma jogada política, com o Kremlin buscando um bode expiatório para os fracassos acumulados. A estratégia do governo, que historicamente valoriza a obediência incondicional e a lealdade acima da competência, tem suas raízes na política de medo que define a administração de Putin.
Diversos comentaristas destacaram que o problema central não é apenas a má performance de Lapin, mas sim um sistema que recompensa a lealdade desnaturada à custa da efetividade militar. O exército russo, que sempre foi um dos pilares do poder soviético, agora enfrenta o dilema de ter que lidar com generais que são mais leais ao regime do que competentes no campo de batalha. Um comentarista observou que "o problema de ser ditador é que eles têm que se cercar de leais, o que geralmente significa pessoas incompetentes". Tal afirmação indica uma percepção mais ampla que pode ser observada em sistemas autoritários, onde a necessidade de manter o controle leva ao recrutamento de indivíduos que não desafiem a liderança.
Adicionalmente, a segurança do regime de Putin pode estar em jogo, já que a presença de líderes militares competentes poderia representar um risco iminente de golpes internos. Essa dinâmica cria um ciclo vicioso onde a ineficácia é a norma e as purgas tornam-se inevitáveis. Um comentarista, de forma irônica e sombria, sugeriu que Lapin pode acabar como outros oficiais demitidos, sugerindo que "em breve o encontraremos se suicidando com três tiros na nuca", uma referência à cultura de repressão que permeia a política russa.
Além da demissão de Lapin, esses eventos oferecem um vislumbre do descontentamento crescente entre as fileiras do exército russo. As garantias de lealdade às vezes não são mais suficientes para acalmar as inquietações internas, o que deixa muitos generais em dúvida sobre suas próprias posições. Em algumas análises, isso é interpretado como um sinal de que até mesmo aqueles que não se opõem abertamente ao regime podem se sentir inseguros em um ambiente onde a sobrevivência política depende mais de alianças do que de habilidade militar.
A guerra na Ucrânia já foi um campo de batalha que destacava a força militar russa, mas agora está se tornando um espelho das falhas da liderança e do colapso da estrutura que sustentava o poder de Putin. Ao expor as fraquezas do comando militar, os possíveis efeitos adversos da lealdade cega no exército russo estão lançando uma sombra sobre o futuro da Rússia no conflito. Enquanto o regime tenta estabelecer uma narrativa de controle e segurança, as mudanças internas provocadas pela lei do axe podem revelar um efeito dominó de instabilidade.
O contexto geopolítico da guerra da Ucrânia também implica que os próximos passos do Kremlin serão monitorados de perto. À medida que mais generais podem ser alvo de demissões e as pressões externas aumentam, é essencial observar se essa mudança de comando será suficiente para revitalizar as capacidades militares da Rússia ou se levará a uma maior desconfiança e falta de motivação entre os soldados.
A Ucrânia, ao mesmo tempo, continua fortalecendo suas alianças e contando com o apoio ocidental para resistir às agressões russas. Em um cenário onde a Rússia pode se tornar mais vulnerável devido a seus próprios problemas internos, a dinâmica da guerra pode mudar rapidamente. O afastamento de Lapin simboliza não apenas a demissão de uma figura militar, mas é uma evidência de um sistema autoritário que pode estar se deteriorando por conta da própria ineficácia e corrupção.
Fontes: The Guardian, BBC News, Folha de São Paulo
Resumo
A demissão do general Alexander Lapin, responsável pelas operações russas na Ucrânia, acende um debate sobre a estrutura militar e política da Rússia em um momento crítico da guerra. A troca de comando, que se segue a derrotas significativas, levanta questões sobre a lealdade à liderança de Vladimir Putin, a qual pode estar comprometendo a eficácia militar. Especialistas sugerem que a demissão de Lapin pode ser uma tentativa do Kremlin de encontrar um bode expiatório para os fracassos acumulados, refletindo um sistema que prioriza a obediência em detrimento da competência. O exército russo enfrenta o dilema de ter generais mais leais ao regime do que efetivos no campo de batalha. Além disso, a segurança do regime pode estar ameaçada, pois líderes competentes poderiam representar riscos de golpes internos. O descontentamento crescente entre os militares sugere que a lealdade não é mais suficiente para garantir estabilidade. A guerra na Ucrânia, que antes evidenciava a força militar russa, agora revela falhas de liderança e a deterioração do poder de Putin, enquanto a Ucrânia continua a fortalecer suas alianças ocidentais.
Notícias relacionadas