09/09/2025, 11:14
Autor: Laura Mendes
Apesar da crescente demanda por serviços de entrega de medicamentos, a popularidade desses aplicativos ainda está longe de se estabelecer, em comparação com os serviços de entrega de alimentos que proliferaram nos últimos anos. A questão intrigante se coloca em várias frentes: por que um setor essencial, como a saúde, não conseguiu replicar o sucesso das plataformas que trazem refeições até a porta dos consumidores? As opiniões e experiências compartilhadas por usuários e profissionais do setor apontam para uma série de fatores complexos e interligados.
Um dos fatores relevantes é o papel dos planos de saúde e suas próprias farmácias. Muitas operadoras já têm suas próprias redes de entrega que são preferidas pelos pacientes, tornando desnecessário o uso de aplicativos terceirizados. Estudos mostram que cerca de 70% dos adultos americanos tomam medicamentos prescritos diariamente, mas nem todos os indivíduos se sentem compelidos a buscar uma solução de entrega por conta da disponibilidade já existente. Isso sugere que, embora exista um público-consumidor significativo, a segmentação desse mercado é complexa e não tão ampla quanto poderia ser.
Além disso, existem preocupações sérias em relação à segurança e à privacidade associadas à entrega de medicamentos. Várias pessoas comentaram o receio de que entregadores possam não ser confiáveis ao transportar medicamentos, especialmente os controlados. O ato de deixar um estranho simples encarregado de remédios que podem afetar a saúde de um paciente é um ato arriscado, e a confiança no serviço é um fator vital que ainda não foi solidificado. Por exemplo, episódios de problemas com a entrega de alimentos, como entregadores comendo os pedidos, levantam questionamentos sobre a viabilidade da entrega segura de itens farmacêuticos.
Outro aspecto a considerar é a natureza do próprio medicamento em si. Ao contrário de uma refeição que é frequentemente uma compra por impulso, os medicamentos exigem planejamento e prescrição. O ciclo de compra não é o mesmo, pois muitos medicamentos não são adquiridos com a mesma frequência que alimentos. A renovação de receitas geralmente ocorre em um intervalo que não justifica a entrega instantânea, e muitos pacientes preferem pegar seus remédios diretamente na farmácia. Isso leva à decisão de muitos usuários de não buscarem esse serviço, visto que a conveniência não se equipara às entregas rápidas de comida.
Adicionalmente, as farmácias não têm os mesmos incentivos que restaurantes para expor seus serviços de entrega. Enquanto os estabelecimentos de alimentação competem por clientes em um mercado saturado, a entrega de medicamentos depende de prescrições médicas e do funcionamento das seguradoras, que podem ditar condições sobre quais medicamentos podem ser entregues. Desta forma, a dinâmica de lucro é diferente, e ainda que as farmácias estejam começando a oferecer mais serviços de entrega, a pressão para inovar não é tão forte quanto a que os serviços de comida enfrentam.
De acordo com dados do setor, a entrega em farmácias, embora tenha crescido, não é uma solução para todos os problemas de acesso à saúde. Muitos pacientes, especialmente aqueles com medicamentos de uso contínuo ou crônico, têm acesso a entregas pelo correio com base em suas receitas, o que já é um modelo de serviço estabelecido. Entretanto, para medicamentos que precisam ser retirados imediatamente ou que não estão cobertos pelas entregas online, o modelo de farmácia tradicional ainda predomina.
Enquanto algumas pessoas relatam experiências positivas com aplicativos de entrega de remédios, onde empresas estão, de fato, fazendo entregas, a maioria ainda não admite substituir a tradicional farmácia. Situações como a dificuldade de conseguir uma receita, a incerteza se o remédio será entregue adequadamente, e a falta de interações diretas com farmacêuticos são considerações que limitam a saída de muitos consumidores.
No cenário atual, com a pandemia obrigando uma reestruturação da forma como os serviços de saúde estão sendo oferecidos, o setor de entrega de medicamentos precisa explorar alternativas que o tornem mais atraente e seguro para os consumidores. Assim como a rápida evolução dos serviços de telemedicina, a entrega de medicamentos pode encontrar seu espaço no futuro, mas dependerá de sistemas regulatórios mais robustos, inovação em segurança e confiança, além de uma abordagem centrada no consumidor para realmente decolar.
A transformação digital na saúde é um caminho que já se iniciou, mas é necessário cuidar de detalhes que farão a diferença no dia a dia do paciente. Sem as soluções adequadas, o setor continuará a ter desafios em trazer a farmácia moderna ao mesmo patamar da comida rápida que já conquistou o mundo.
Fontes: Folha de São Paulo, Statista, Express Scripts, pesquisa da indústria farmacêutica
Resumo
A demanda por serviços de entrega de medicamentos está crescendo, mas sua popularidade ainda é baixa em comparação com os aplicativos de entrega de alimentos. Um dos principais fatores é a presença de farmácias próprias de planos de saúde, que já oferecem serviços de entrega preferidos pelos pacientes. Embora 70% dos adultos americanos tomem medicamentos prescritos diariamente, muitos não buscam soluções de entrega devido à disponibilidade existente. Além disso, preocupações com a segurança e a privacidade na entrega de medicamentos, especialmente os controlados, geram desconfiança entre os consumidores. A natureza dos medicamentos, que exigem planejamento e prescrição, também difere das compras por impulso de alimentos, limitando a demanda. As farmácias, por sua vez, não enfrentam a mesma pressão por inovação que os restaurantes. Apesar do crescimento dos serviços de entrega, muitos pacientes ainda preferem a farmácia tradicional, especialmente para medicamentos que precisam ser retirados imediatamente. Para que a entrega de medicamentos se torne mais atraente, o setor precisará de inovações em segurança e uma abordagem centrada no consumidor.
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