12/12/2025, 15:34
Autor: Ricardo Vasconcelos

A geopolítica mundial atravessa um momento de transformações profundas, marcado por um novo modelo multipolar que destaca o papel predominante dos Estados Unidos e da China como as únicas grandes potências do cenário atual. Conforme as dinâmicas de poder mudam, especialistas, acadêmicos e analistas estão começando a se perguntar que tipo de ordens novas emerge a partir dessa mudança e como isso afeta a segurança internacional.
O recente ensaio de Jennifer Lind, professora associada de Governo na Dartmouth College e membro associada na Chatham House, nos oferece uma visão valiosa sobre a influência das grandes potências na política global. Lind ressalta que o equilíbrio de poder, ou a polaridade do sistema internacional — seja unipolar, bipolar ou multipolar — sempre teve um impacto direto sobre a paz e a prosperidade das nações. Desde a Guerra Fria, quando o mundo era dominado pela rivalidade entre os Estados Unidos e a União Soviética, até a atual disputa entre EUA e China, a forma como as grandes potências interagem tem consequências tangíveis para a vida de indivíduos em todo o mundo.
Durante o período de unipolaridade na última parte do século XX e início do século XXI, os Estados Unidos, livres da concorrência de uma grande potência rival, conseguiram expandir sua influência militar e política de maneira abrangente. As operações militares em países como Afeganistão e Iraque refletiram uma estratégia que não levava em consideração uma resposta significativa de algum rival, já que a Rússia estava em uma fase de retração após o colapso da URSS.
Contudo, essa dinâmica está mudando. A ascensão da China como uma potência militar e econômica se apresenta como um fator disruptivo e não pode ser subestimada. Como apontado em vários comentários sobre o tema, a China hoje despende apenas 2% de seu PIB em defesa, uma cifra que pode aumentar abruptamente se a necessidade de segurança nacional se intensificar. Essa possibilidade de um aumento nas despesas militares gera preocupações em relação a uma corrida armamentista, especialmente na Ásia, onde a tensão em torno de Taiwan é uma questão frequentemente debatida. A China é percebida como uma potência que, em última análise, espera que o estado geral das relações internacionais trabalhe a seu favor, até mesmo na possibilidade de uma reunificação forçada com Taiwan, o que, no entanto, demandaria um cálculo complexo envolvendo não apenas sua força militar, mas a resposta de outras nações, especialmente dos Estados Unidos.
Por outro lado, a Rússia, que ainda mantém um significativo arsenal nuclear e recursos naturais, se vê em posição vulnerável em comparação com as economias mais desenvolvidas, como a da União Europeia. A fragmentação interna da EU e a falta de uma força unificada e coesa podem comprometer sua posição no cenário global. Além disso, a questão demográfica e uma burocracia que dificulta o crescimento são desafios adicionais que o continente enfrenta. Observadores apontam que, apesar dessas dificuldades, a Rússia pode ainda se tornar uma peça chave nas relações de poder se souber usar suas armas nucleares e recursos estratégicos adequadamente.
Ademais, a Índia surge como um elemento imprevisível no novo entorno geopolítico. Considerada como uma potência regional, sua modernização e capacidade de influenciar questões globais dependem da sua capacidade de se transformar em um player relevante. A Índia pode ser vista como um curinga, cuja evolução poderia impactar não só as dinâmicas regionais, mas também o equilíbrio de poder global.
A multiplicidade de atores no novo cenário, onde EUA e China são os principais protagonistas, não elimina a relevância de outras nações. Países como a Turquia e os Emirados Árabes estão começando a se destacar como potências regionais, embora frequentemente sejam negligenciados nas análises convencionais sobre grandes potências.
O que preocupa muitos analistas é a possibilidade de que a competição entre as potências aumente a tensão e os riscos de conflitos militares, como demonstrado nos comentários que discutem a distribuição de armamentos nucleares. Recordando a Guerra Fria, alguns defensores acreditam que os EUA podem seguir um caminho semelhante ao de sua antiga rival, reforçando suas alianças com armamentos nucleares em resposta a um aumento das capacidades defensivas da China. Este tipo de estratégia, no entanto, poderia exacerbar as tensões em um mundo já repleto de incertezas.
Assim, enquanto se discute se estamos caminhando para uma nova Guerra Fria, a pergunta mais pertinente pode ser o que acontecerá antes que um conflito aberto se inicie. O mundo está em um ponto de inflexão e as decisões tomadas nas próximas décadas poderão moldar o futuro da segurança internacional e da ordem mundial por um bom tempo. Em um cenário onde EUA e China estão no centro do debate, a maneira como o restante do mundo, incluindo as potências menores, se posiciona nesse novo equilíbrio será crucial.
Fontes: The Economist, Foreign Affairs, Brookings Institution
Detalhes
Jennifer Lind é professora associada de Governo na Dartmouth College e membro associada na Chatham House. Ela é reconhecida por suas análises sobre segurança internacional e a dinâmica de poder entre grandes potências, especialmente no contexto da rivalidade EUA-China. Seus trabalhos exploram como a polaridade do sistema internacional influencia a paz e a prosperidade das nações.
Resumo
A geopolítica mundial está passando por transformações significativas, com um novo modelo multipolar que destaca os Estados Unidos e a China como as principais potências. Especialistas, como Jennifer Lind, da Dartmouth College, analisam como essas dinâmicas de poder afetam a segurança internacional. Desde a Guerra Fria, a interação entre grandes potências tem consequências diretas para a paz global. A ascensão da China como potência militar e econômica é um fator disruptivo, com preocupações sobre uma possível corrida armamentista, especialmente em relação a Taiwan. A Rússia, apesar de seu arsenal nuclear, enfrenta desafios em comparação com economias desenvolvidas, como a União Europeia, que também lida com fragmentação interna. A Índia surge como um ator imprevisível, enquanto potências regionais como Turquia e Emirados Árabes começam a ganhar destaque. A competição entre potências pode aumentar as tensões e os riscos de conflitos, levando a uma reflexão sobre o futuro da segurança internacional e a ordem mundial.
Notícias relacionadas





