06/09/2025, 15:26
Autor: Laura Mendes
Nos últimos anos, a discussão sobre doenças mentais e seus diagnósticos tem ganhado crescente relevância, especialmente entre os jovens. Um ponto de destaque refere-se ao Transtorno de Personalidade Antissocial (TPAS), que, segundo o DSM-5, só pode ser diagnosticado após a pessoa completar 18 anos. Essa restrição etária desperta curiosidade e debate sobre suas implicações, resultando numa demanda por compreensão mais profunda acerca dos fatores que influenciam essa decisão. Especialistas ressaltam que a principal razão para essa restrição decorre do desenvolvimento contínuo que ocorre durante a adolescência, etapa em que os comportamentos e traços de personalidade são voláteis.
O Transtorno de Personalidade Antissocial é associado a comportamentos persistentes de desrespeito pelos direitos dos outros, impulsividade e falta de empatia. No entanto, muitas das características que podem manifestar-se em adolescentes, como a irresponsabilidade ou a indiferença, podem ser resultado de fatores típicos da idade, e não necessariamente de um transtorno mental. A adolescência é uma fase marcada por transformações significativas, tanto físicas quanto psicológicas, onde os jovens experimentam mudanças hormonais e emocionais que afetam sua percepção e reação ao mundo ao seu redor. É comum que adolescentes exibam comportamentos que poderiam ser considerados antissociais, mas que, na verdade, podem ser simplesmente parte do processo de crescimento e desenvolvimento.
Profissionais da psicologia explicam que o diagnóstico de transtornos de personalidade requer uma evidência de comportamento consistente e persistente ao longo do tempo. Isso se torna um desafio ao tentar avaliar adolescentes, cuja personalidade e comportamentos estão em constante evolução. Por essa razão, muitos especialistas preferem aguardar até que os jovens atinjam a idade adulta, onde a possibilidade de mudanças significativas nos comportamentos e traços de personalidade diminui. A consistência nos padrões de comportamento é uma parte crucial para considerar um diagnóstico de TPAS. Embora existam condições que se manifestam na infância, como o Transtorno de Conduta, que pode ser um precursor do TPAS, a caracterização de problemas comportamentais severos é complexa e exige cuidadoso acompanhamento.
As opiniões acerca da idade estabelecida para o diagnóstico são variadas. Enquanto alguns especialistas defendem que os 18 anos são uma marca apropriada de maturidade para começar a realizar diagnósticos de transtornos de personalidade, outros argumentam que esse é um limite arbitrário, considerando que o desenvolvimento emocional e psicológico pode continuar muito além dessa idade. É importante destacar que, mesmo que um adolescente apresente comportamentos que possam ser interpretados como antissociais, isso não implica necessariamente um transtorno de personalidade. A intervenção precoce é fundamental, assim como a coleta de informações detalhadas sobre o histórico familiar e comportamental do adolescente.
Estudos indicam também que a percepção pública sobre o TPAS pode impedir que diagnósticos precoces sejam realizados. O estigma associado a essa condição muitas vezes leva a conclusões precipitadas sobre a natureza de um indivíduo, presumindo que aqueles diagnosticados com TPAS são irremediavelmente maus ou perigosos. Essa visão distorcida pode impactar desproporcionalmente os jovens, levando a etiquetas prejudiciais e preconceitos. A pressão social para rotular ou estigmatizar pessoas pode resultar em consequências graves para sua saúde mental, um fator que os psicólogos consideram ao abordar o tema do diagnóstico em indivíduos jovens.
Ademais, a necessidade de garantir a ética nas práticas psicológicas é fundamental. O que está em jogo é a saúde mental de adolescentes em um momento crítico de seus vidas. Especialistas frequentemente ressaltam que o diagnóstico antecipado pode não apenas ser prematuro, mas também prejudicial, criando um rótulo que pode acompanhar o jovem por toda a vida. Portanto, o uso de medidas arbitrárias, como a idade legal de maioridade, se torna uma forma prática de estabelecer critérios diagnósticos que são acreditados manter os jovens a salvo de diagnósticos inadequados.
Embora a discussão sobre diagnósticos e a idade mínima para transtornos de personalidade continue a evoluir, o entendimento sobre o desenvolvimento humano e suas complexidades se torna ainda mais vital. Para evitar o estigma e a categorização prematura de jovens, é necessário um olhar mais atento e compreensivo sobre o comportamento humano em sua totalidade. Com a crescente conscientização sobre a importância da saúde mental e a aceitação de que as primeiras fases da vida são fundamentais para a formação da personalidade, espera-se que no futuro os tratamentos e diagnósticos sejam mais adequados e informados, permitindo que jovens tenham acesso a ajuda e apoio em momentos críticos de suas vidas. O cuidado preventivo e uma compreensão mais profunda das nuances do desenvolvimento humano são passos essenciais para a formação de um futuro mais saudável e empático.
Fontes: Jornal da Psicologia, American Psychological Association, DSM-5
Resumo
Nos últimos anos, a discussão sobre doenças mentais, especialmente entre os jovens, tem se intensificado, com foco no Transtorno de Personalidade Antissocial (TPAS). De acordo com o DSM-5, esse transtorno só pode ser diagnosticado após os 18 anos, o que gera debates sobre as implicações dessa restrição. Especialistas afirmam que a principal razão para essa idade mínima é o desenvolvimento contínuo que ocorre na adolescência, onde comportamentos e traços de personalidade são voláteis. Embora adolescentes possam exibir comportamentos antissociais, muitas vezes isso é parte do processo de crescimento, e não um transtorno. O diagnóstico de transtornos de personalidade requer evidências de comportamento consistente ao longo do tempo, o que é desafiador na adolescência. Há opiniões divergentes sobre a adequação dos 18 anos como limite para diagnósticos, e a intervenção precoce é considerada essencial. O estigma associado ao TPAS pode levar a diagnósticos precipitados, impactando negativamente a saúde mental dos jovens. Assim, é crucial garantir ética nas práticas psicológicas e um entendimento mais profundo do desenvolvimento humano para evitar categorização prematura e promover um futuro mais saudável.
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