09/12/2025, 16:55
Autor: Ricardo Vasconcelos

Nos últimos dias, uma série de comentários e análises emergiu em torno da possibilidade de uma separação da União Europeia e os potenciais benefícios que isso traria para os Estados Unidos. Se antes a união de países europeus era vista como um pilar fundamental para a estabilidade global, agora algumas vozes levantam a hipótese de que a divisão da UE poderia facilitar um rompimento das dinâmicas atuais de poder e favorecimentos comerciais. Essa discussão se desenrola num cenário de crescente rivalidade entre potências e apontamentos sobre a necessidade de adaptação das estratégias políticas e econômicas.
Uma opinião recorrente sugere que a estratégia de "dividir para conquistar" pode ser o caminho preferido pelos Estados Unidos. A ideia central é que uma UE fragmentada representaria um contexto mais favorável para Washington, na medida em que os países em separado teriam menos força para negociar acordos comerciais significativos. O raciocínio é que, ao enfrentar apenas nações menores e menos unificadas, os EUA poderiam obter termos mais vantajosos em negociações, diminuindo a resistência que a união proporciona atualmente.
No entanto, as análises não se restringem somente a especulações sobre a fragmentação da UE. Outros apontam que a posição dos EUA na sociedade internacional se fundamenta na força econômica e militar do país, que é indiscutivelmente superior à soma das economias dos BRICs, e, por isso, a ameaça da União Europeia à hegemonia americana se mostra limitada, apesar da capacidade do bloco de regular tecnologias e manter uma agenda política forte.
Um aspecto curioso levantado por comentaristas é a relação da administração Trump com a União Europeia. Em sua campanha, Trump focou em questões que envolvem tanto a situação da economia americana quanto a busca pela resolução de conflitos internacionais, como a guerra entre Rússia e Ucrânia. Contudo, o insucesso notável em ambas essas frentes parece ter ampliado a frustração do ex-presidente com a Europa. De acordo com alguns comentadores, o descontentamento de Trump com o bloco não está apenas relacionado a questões comerciais, mas também à percepção de que os valores defendidos pela UE divergem da ideologia promossa em seu governo.
Outro ponto a ser destacado é a crescente divisão entre os membros da própria União Europeia, onde as tensões internas – especialmente entre Estados alinhados à OTAN e aqueles que defendem maior autonomia da UE – moldam o cenário político. A falta de uma frente unificada não apenas enfraquece a posição europeia frente aos EUA, mas também apresenta riscos para a segurança do continente, uma vez que a colaboração com a OTAN continua sendo vital para a defesa europeia.
Adicionalmente, à medida que questões de regulação de tecnologia se tornam mais prementes, muitos acreditam que uma reação adversa por parte da UE pode piorar ainda mais as tensões entre os dois lados do Atlântico. A imposição de regras rigorosas às gigantes da tecnologia americanas poderia agravar a animosidade, levando a um ciclo vicioso de retaliação.
Entre as implicações debatidas, está a visão de que um bloco europeu fraco poderia agravar a situação geopolítica, permitindo que potências como a China avancem em sua agenda, explorando conflitos internos e promovendo a fragmentação do poder ocidental. Essa nova dinâmica não só prejudicaria a posição dos EUA, mas também os interesses derivados da proteção de seus aliados e das economias integradas.
Em suma, a ideia de que os Estados Unidos possam se beneficiar de uma separação da União Europeia coloca no centro da discussão temas fundamentais da política global contemporânea. À medida que as relações internacionais se torna cada vez mais complexas, o enfoque no poder econômico, na diplomacia militar e nas tensões internas dos blocos regionais revela a necessidade premente de reavaliar allegiances e parcerias. Assim, a alegação de que os EUA podem lucrar com a fragmentação da UE não é apenas uma ideia provocativa, mas um alerta sobre as potenciais consequências que essa reconfiguração da ordem global poderia trazer para todos os envolvidos.
Fontes: Folha de São Paulo, BBC News, The Economist, Foreign Affairs
Detalhes
A União Europeia é uma união política e econômica de 27 países europeus, que visa promover a integração e a cooperação entre os seus membros. Criada após a Segunda Guerra Mundial, a UE tem como objetivos principais a promoção da paz, estabilidade e prosperidade na região, além de facilitar a livre circulação de pessoas, bens, serviços e capitais. A UE possui uma moeda comum, o euro, utilizada por 19 de seus membros, e desempenha um papel significativo na regulação de políticas comerciais e tecnológicas.
Resumo
Nos últimos dias, surgiram discussões sobre a possibilidade de uma separação da União Europeia (UE) e os potenciais benefícios dessa fragmentação para os Estados Unidos. Algumas análises sugerem que uma UE dividida poderia facilitar negociações comerciais mais vantajosas para Washington, já que países menores teriam menos força para negociar acordos significativos. Apesar disso, outros especialistas argumentam que a hegemonia americana não está ameaçada pela UE, dada a superioridade econômica e militar dos EUA em relação aos BRICs. A administração Trump também teve uma relação conturbada com a UE, com o ex-presidente expressando descontentamento não apenas por questões comerciais, mas também por divergências ideológicas. Além disso, as tensões internas na UE, especialmente entre membros da OTAN e aqueles que buscam maior autonomia, podem enfraquecer a posição europeia frente aos EUA e aumentar os riscos de segurança no continente. A fragmentação da UE poderia ainda permitir que potências como a China explorassem essa divisão, complicando ainda mais a dinâmica geopolítica global.
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