13/09/2025, 14:00
Autor: Laura Mendes
A relação entre as três grandes religiões monoteístas do mundo, o Judaísmo, o Cristianismo e o Islã, é complexa e frequentemente mal compreendida. Um dos principais pontos de discussão é a utilização do termo “Alá” para designar Deus, que na verdade é a palavra árabe para Deus, empregada não apenas por muçulmanos, mas também por cristãos e judeus que falam árabe. Em um mundo onde preconceitos alimentam conflitos, a união de conceitos religiosos pode ser um caminho fundamental para o diálogo inter-religioso e a paz.
Historicamente, a palavra “Alá” deriva do árabe “al-ilah”, que significa “o Deus”. Este termo não é de uso exclusivo do Islã; cristãos e judeus árabes também o adotam em suas práticas religiosas e cenas cotidianas. A utilização de “Alá” por parte de cristãos árabes é uma prática comum em países como o Egito, Líbano e Síria, onde tradutores frequentemente usam a palavra “Allah” incansavelmente em suas liturgias e textos sagrados, sem qualquer constrangimento.
Por outro lado, muitos judeus, em especial os de tradição mais ortodoxa, tendem a evitar a utilização do nome “Alá" durante suas práticas religiosas e preferem nomes como “Adonai” ou “Hashem”, que são mais comuns na tradição hebraica. Contudo, judeus árabes podem, em contextos informais, referir-se a Deus como "Alá", especialmente em conversas entre amigos ou contextos não religiosos.
Além disso, as três religiões compartilham uma rica tapeçaria de histórias e personagens. Todas elas têm raízes que remontam a Abraão, considerado o patriarca central que une os adeptos dessas crenças. O Judaísmo vê Abraão como o fundador do monoteísmo, enquanto o Cristianismo o considera um ancestral espiritual, e o Islã reconhece não apenas Abraão, mas também a linha de profetas que inclui Moisés e Jesus, refletindo uma herança comum de valores e moralidade.
Essa similaridade tem estimulado muitos a afirmar que todas as religiões adoram o mesmo Deus, apesar das diferenças teológicas e literárias que as separam. Enquanto o Judaísmo se concentra nos ensinamentos da Torá, o Cristianismo estende essa narrativa com o Novo Testamento, e o Islã se abre para novos ensinamentos através do Alcorão, os princípios morais que governam as vidas de seus seguidores muitas vezes se sobrepõem.
Entretanto, as discussões sobre se “Deus” e “Alá” são a mesma entidade também têm seus críticos. Muitos especialistas destacam que, embora as religiões compartilhem figuras e histórias em comum, seus conceitos de divindade e a natureza de Deus podem diferir substancialmente. A teologia cristã apresenta um Deus trino, enquanto a visão islâmica é estritamente monoteísta. Isso leva a uma discussão necessária sobre como cada religião entende e se relaciona com sua divindade.
Conflitos modernos também exacerbam mal-entendidos em torno do uso de "Alá". Por exemplo, no contexto da Malásia, houve uma proibição do uso da palavra “Alá” por cristãos, uma decisão que gerou tensões políticas e sociais. Tal cenário revela não apenas as divisões modernas baseadas na religião, mas também como palavras carregam significados que transcendem seu uso cotidiano e podem se transformar em símbolos de luta.
Além disso, essa discussão leva a um questionamento instigante: por que, em meio a tantas crenças e práticas variadas, é tão comum as pessoas se agarrarem à própria fé como a única válida? Por que a necessidade de buscar um “Deus” exclusivo se todos, em certa medida, estão se referindo ao mesmo princípio divino fundamental? Essa dúvida serve como um apelo à reflexão e à necessidade de diálogos construtivos entre religiões, que poderiam olhar para a essência das crenças coletivas, oferecendo assim um caminho para a paz e uma melhor compreensão mútua.
Diversas comunidades têm demonstrado que a compreensão e o respeito pelo outro não só são possíveis, como também benéficos. O desafio que resta é a construção de um espaço seguro onde diferentemente de cada uma das apreciações sobre a divindade, se permita o diálogo. Há um potencial significativo na mediação das tradições, e na realização de um entendimento profundo sobre a origem e as bases das fés abraâmicas. Esse esboço de fraternidade entre essas religiões pode ser um passo vital para a convivência em sociedades cada vez mais diversificadas. O reconhecimento que, em sua essência, todos adoram o mesmo Deus pode ser o início de uma nova era de paz e unidade.
Fontes: O Globo, BBC News, Folha de São Paulo
Resumo
A relação entre o Judaísmo, Cristianismo e Islã é complexa e frequentemente mal compreendida, especialmente no que diz respeito ao uso do termo "Alá", que significa Deus em árabe. Esta palavra é utilizada não apenas por muçulmanos, mas também por cristãos e judeus que falam árabe, especialmente em países como Egito e Líbano. No entanto, muitos judeus ortodoxos evitam o termo, preferindo "Adonai" ou "Hashem". As três religiões compartilham raízes comuns em Abraão, que é considerado o patriarca central, e possuem valores morais sobrepostos, apesar das diferenças teológicas. A discussão sobre se "Deus" e "Alá" são a mesma entidade é controversa, com especialistas apontando que as concepções de divindade podem variar significativamente. Conflitos modernos, como a proibição do uso de "Alá" por cristãos na Malásia, ressaltam mal-entendidos religiosos. O diálogo inter-religioso é essencial para promover a paz e a compreensão, pois muitas comunidades já demonstram que o respeito mútuo é possível e benéfico.
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