Culpa da vítima e segurança tornam-se temas centrais no turismo

A interação entre turistas e locais revela uma discussão crescente sobre a responsabilização da vítima na América Latina, ressaltando a necessidade de cautela e consciência social.

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23/12/2025, 12:58

Autor: Laura Mendes

Uma cena vibrante em uma favela brasileira, onde turistas exploram as ruas coloridas e vivas, interagindo com os locais, enquanto um aviso invisível ajuda a proteger a segurança de todos. A iluminação vibrante destaca a autenticidade e o calor humano do lugar, mas um olhar atento revela pequenos sinais de cautela no rosto dos turistas.

O turismo na América Latina, uma indústria vital para várias economias regionais, tem se tornado um cenário complexo onde questões de segurança, comportamento e percepções culturais se entrelaçam. Uma discussão recente que emergiu reflete sobre a nociva dinâmica da "culpalização da vítima", onde turistas são frequentemente vistos como responsáveis por incidentes devido às suas ações em ambientes que, por vezes, apresentam riscos. Essa realidade tem suscitado reflexões sobre a proteção e a responsabilidade tanto dos visitantes quanto dos anfitriões.

Nos comentários coletados, muitos usuários expressaram suas visões a respeito da situação. Um ponto recorrente diz respeito à tendência de responsabilizar as vítimas de crimes, como por exemplo, um turista que possa ser assaltado simplesmente por se expor de maneira imprudente. Essa ideia se manifesta em termos como "dar papaya", uma expressão popular que sugere que, ao se expor a perigos desnecessários, a pessoa está, de certa forma, colaborando para a ocorrência de um incidente negativo.

Por exemplo, um comentarista contrasta essa visão com suas experiências no Paraguai, onde, segundo ele, a maioria dos turistas se comporta de maneira cautelosa, preferindo atividades em ambientes seguros, como shoppings ou áreas voltadas para compras. Nesse contexto, o autor sugere que, raramente, se observa uma ação agressiva destinada a um visitante, pois a cultura local pode oferecer uma proteção implícita, baseada no desejo de sustentar a reputação do turismo.

Por outro lado, a percepção de que os turistas causam sua própria desgraça ao se comportarem de maneira inadequada em contextos culturais diferentes não é uma visão isolada. Outro inserido nas discussões expressa que, na Colômbia, a culpabilização da vítima após um crime é uma realidade comum. De acordo com ele, essa perspectiva pode ser enraizada em uma compreensão mais ampla sobre a vida nesses países, onde a experiência de um visitante é frequentemente mediada por sua capacidade de se adaptar às normas locais de prudência e segurança.

Essas percepções ganham contornos ainda mais complexos em situações onde diferenças culturais em relação à segurança se destacam. Um comentarista destaca que o conceito de "dar mole", que também é utilizado no Brasil, pode referir-se tanto a situações de imprudência em relação a perigos potenciais quanto às manifestações de interesse sexual, evidenciando uma sobrecarga de significados e contextos que muitas vezes são desconhecidos por turistas.

A discussão gira em torno da necessidade de conscientizar os visitantes sobre os riscos que podem se deparar em locais que carecem de infraestrutura de segurança. Muitas vezes, a naivete dos turistas em ambientes hostis pode não apenas resultar em experiências desagradáveis, mas também em uma frustração coletiva dos locais, que se veem obrigados a lidar com as consequências de escolhas imprudentes de pessoas que não conhecem as dinâmicas sociais e culturais do lugar.

Entretanto, é importante que a narrativa não fique restrita à culpabilização e sim seja uma chamada à criação de consciência em ambos os lados. O reconhecimento de que "ser vítima" não é sinônimo de culpa pode promover um ambiente de maior compreensão e segurança. O turismo deve ser uma experiência enriquecedora, valorizando a convivência entre culturas e a troca de saberes, mas isso requer um esforço tanto dos visitantes quanto dos anfitriões.

Além disso, a responsabilidade não deve ser unilateral; os locais também precisam viabilizar condições que ajudem a garantir a segurança tanto de residentes quanto de turistas. Iniciativas que promovam a conscientização e o respeito mútuo nas interações culturais são essenciais para transformar o turismo em uma prática segura e respeitosa.

A bolha que envolve os turistas pode criar uma desconexão da realidade local, levando a comportamentos que, se avalizados pela cultura local, são considerados imprudentes ou até mesmo perigosos. Assim, educar os turistas sobre as normas culturais e práticas de segurança deve ser uma prioridade, promovendo um turismo consciente e respeitoso que valorize as experiências de todos os envolvidos.

Em síntese, a intersecção entre turismo, segurança e culpabilização da vítima oferece um campo fértil para diálogos que podem ajudar a moldar um futuro mais seguro e harmonioso para o turismo na América Latina. A responsabilidade compartilhada e a educação mútua são essenciais para garantir uma experiência enriquecedora, segura e benéfica para todos os envolvidos. O foco deve ser na promoção de uma cultura de respeito e segurança, onde turistas e locais possam coabitar de maneira harmoniosa e consciente.

Fontes: Folha de São Paulo, Agência Brasil, The Guardian, El País

Resumo

O turismo na América Latina enfrenta desafios relacionados à segurança e à percepção cultural, destacando a problemática da "culpalização da vítima". Muitos turistas são vistos como responsáveis por incidentes, especialmente quando se expõem a riscos desnecessários. Comentários de usuários revelam que essa visão é comum em países como Paraguai e Colômbia, onde a adaptação às normas locais de segurança é crucial. A discussão enfatiza a necessidade de conscientização mútua entre turistas e anfitriões, reconhecendo que ser vítima de um crime não implica culpa. A responsabilidade deve ser compartilhada, com esforços para garantir a segurança de todos. A educação sobre normas culturais e práticas de segurança é vital para promover um turismo respeitoso e seguro, visando uma convivência harmoniosa entre culturas.

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