02/10/2025, 22:55
Autor: Ricardo Vasconcelos
No recente Dia das Forças Armadas da Coreia do Sul, o presidente Lee Jae Myung fez uma declaração significativa acerca da segurança nacional do país. Ele enfatizou a necessidade de aumentar a autossuficiência e a capacidade do exército sul-coreano, em um contexto de incertezas em relação ao compromisso militar dos Estados Unidos. O discurso, embora reafirmando que a aliança militar entre a Coreia do Sul e os EUA é “sólida”, deixou no ar uma questão fundamental: até que ponto essa aliança se manterá confiável diante de mudanças políticas nos Estados Unidos?
Desde a eleição de Donald Trump e suas políticas controversas, a dinâmica entre os aliados americanos começou a ser reavaliada. Muitos analistas e cidadãos começam a questionar se a segurança oferecida pelas tropas dos EUA é garantida ou se há um risco crescente de que o país possa se priorizar em seus próprios interesses, afastando-se de seus compromissos internacionais. A administração Trump, o foco nas questões internas e a falta de ações concretas em apoio às alianças tornam essa dúvida ainda mais pertinente.
Os comentários públicos a respeito dessa transformação no paradigma de segurança mostram um espectro de preocupações. Um cidadão, por exemplo, defendeu que é essencial para nações como a Coreia do Sul não dependerem completamente dos EUA em conflitos futuros, e que isso não deveria ser visto como uma crítica ao país, mas como uma necessidade estratégica. Outro comentário reafirmou essa ideia, invocando dados sobre a força do exército sul-coreano, que ocupa uma das maiores classificações de poder bélico global, apenas atrás de EUA, China e Rússia, e destacou que essa força não diminuiu desde a Guerra Fria.
Além disso, a questão nuclear torna-se central neste debate. A Coreia do Sul, tradicionalmente sob o “guarda-chuva” nuclear dos EUA, começou a reavaliar sua posição em relação a sua própria capacidade nuclear. As preocupações com a segurança levaram ao apelo por um aumento na autonomia para o comando das próprias tropas e, possivelmente, a construção de um arsenal nuclear próprio. Para muitos, a decisão de buscar essa capacidade própria é um indicativo de que a nação não pode contar totalmente com o apoio de seus aliados.
A percepção pública sobre esse assunto, alimentada por insinuações políticas e mudanças inesperadas nas políticas exteriores americanas, reforça a crença de que a Coreia do Sul está navegando em águas turvas. Ao enfatizar a fortaleza da aliança militar com os EUA, Lee Jae Myung parece mais preocupado em manter um equilíbrio entre a confiança e a cautela, uma habilidade considerada vital no cenário atual, onde a geopolítica da região asiática está em constante mudança.
A influência da administração Trump, com sua abordagem de política externa focada em interesses americanos e tendências protecionistas, intensificou as preocupações de que os aliados mais próximos dos EUA poderão ter que arcar com maiores custos pela presença militar americana, ou até mesmo diminuir esse tipo de apoio. Um comentarista alertou que, se as alianças não forem tratadas com o devido cuidado, os países poderão ter que avançar sozinhos em casos de conflitos, criando um cenário potencialmente desastroso.
Por outro lado, a tensão entre os EUA e a China, um dos principais concorrentes geopolíticos que ocupa o foco da política americana, também não se pode ignorar. Ao implementar estratégias que se concentram amplamente em questões regionais e internas, a administração americana pode inadvertidamente deixar aliados como a Coreia do Sul à mercê de suas próprias inseguranças e desafios. Os sul-coreanos estão cientes disso e entendem que suas políticas de defesa e militares precisarão se adaptar às novas realidades do mundo, mesmo que isso signifique divergir da dependência que historicamente mantiveram em relação a Washington.
Dito isso, é um momento crítico para a Coreia do Sul. Construir um exército mais independente não é simplesmente uma questão de força militar, mas um teste de soberania e afirmação de identidade nacional em face das incertezas globais. A mensagem de Lee Jae Myung pode ser vista como um primeiro passo destemido na direção de uma política de defesa mais autônoma, refletindo um desejo crescente de que o país se posicione fortemente na arena global, independentemente das flutuações políticas nos EUA.
Fontes: Folha de São Paulo, Politico.com, CNN
Detalhes
Lee Jae Myung é o atual presidente da Coreia do Sul, tendo assumido o cargo em maio de 2022. Ele é membro do Partido Democrático e é conhecido por suas políticas progressistas e foco em questões sociais e de justiça econômica. Lee tem enfrentado desafios significativos, incluindo a pandemia de COVID-19 e tensões geopolíticas na região, especialmente em relação à Coreia do Norte e à influência dos Estados Unidos.
Resumo
No Dia das Forças Armadas da Coreia do Sul, o presidente Lee Jae Myung destacou a importância da autossuficiência do exército sul-coreano, especialmente em meio a incertezas sobre o compromisso militar dos Estados Unidos. Embora tenha reafirmado a solidez da aliança com os EUA, ele levantou preocupações sobre sua confiabilidade futura, especialmente após a eleição de Donald Trump, cujas políticas têm levado a uma reavaliação das alianças americanas. A crescente dúvida sobre a segurança fornecida pelas tropas dos EUA fez com que muitos sul-coreanos defendessem uma maior autonomia militar, incluindo a possibilidade de desenvolver um arsenal nuclear próprio. A percepção pública reflete um desejo de que a Coreia do Sul não dependa completamente dos EUA em conflitos futuros. Lee Jae Myung parece estar buscando um equilíbrio entre confiança e cautela, reconhecendo que a geopolítica asiática está em constante mudança. A administração Trump, com seu foco em interesses americanos, intensificou preocupações sobre o futuro das alianças, enquanto a tensão entre os EUA e a China também influencia a segurança regional. A Coreia do Sul enfrenta um momento crítico para afirmar sua soberania e identidade nacional.
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