21/12/2025, 13:19
Autor: Ricardo Vasconcelos

A atual situação do Congresso dos Estados Unidos tem gerado sérias preocupações entre ex-legisladores e analistas políticos. Na última semana, Jim Cooper, um ex-representante democrata que atuou por 32 anos na Câmara, lançou um alerta sobre a saúde da instituição, afirmando que "o Congresso está em coma. Tem pulso, mas não muitas ondas cerebrais." Seu comentário reflete uma percepção crescente de que a Câmara está se afastando de sua função principal: legislar e representar os interesses da população. Com um recorde de legisladores se aposentando antes das eleições de meio de mandato, o tailspin do Congresso parece inegável. Barbara Comstock, ex-representante republicana e atual presidenta da Associação de Ex-Membros do Congresso, ecoou esse sentimento, indicando que a estagnação legislativa, alimentada por ameaças e um ambiente altamente polarizado, contribui para a saída de políticos que já não veem a instituição como funcional.
Os desafios enfrentados pelo Congresso são variados, mas muitos começam a perceber que a polarização política extrema e as tensões internas estão sendo facilitadas por um ambiente hostil que se tornou comum. Entre os ex-membros, há um consenso de que a luta política atual é adversa a qualquer forma de cooperação ou comprometimento. "Neste momento, está cada vez mais difícil fazer o trabalho," declarou Cheri Bustos, também ex-membro da Câmara. Essa situação levanta questões alarmantes sobre como o país pode avançar legislativamente em um clima onde muitos representantes, por motivos variados, se sentem incapazes de agir.
Os integrantes do Partido Republicano também enfrentam seus dilemas. Metade dos representantes republicanos no Congresso seriam "crentes do Trump/MAGA", enquanto a outra metade teria medo de se opor ao ex-presidente, retrata uma cultura política que escapa do ideal democrático em favor da sobrevivência política. O medo de represálias e a necessidade de agradar a suas bases extremas impedem uma legislação significativa que poderia beneficiar a população em geral. Comentários perdidos na história maior do Congresso têm mostrado que o partido em controle, dando as costas aos seus deveres constitucionais, tornam-se um veículo de uma política mais autoritária. A constituição dos EUA exige que o Congresso sirva de balança de poder contra um executivo potente, mas a fragilidade da sua posição atual levanta dúvidas sobre a capacidade desse sistema de freios e contrapesos funcionar efetivamente.
O dilema da representatividade é ainda mais exacerbado quando se considera que muitos eleitores parecem, paradoxalmente, preferir que seus representantes priorizem um discurso político que não melhora suas vidas. Extrapolando essa ideia, um comentador fez uma observação sobre a maneira como os eleitores de Kentucky continuaram a reeleger Mitch McConnell, mesmo diante da clara estagnação em seus mandatos. Esses eleitorados, ao invés de se pressentirem descontentes e exigirem melhorias significativas, parecem ter se fixado na ideia de que a vida em outros estados é melhor. Isso toca em um aspecto mais profundo da frustração política: em vez de demandar melhores ações de seus legisladores, muitos preferem ver o retrocesso de outros. Tal realidade aprofunda uma encruzilhada onde a câmara não apenas perde poder, mas abdica dele perante uma política de ressentimento.
As declarações de Jim Cooper e Barbara Comstock refletiram uma realidade mais ampla que não se limita apenas à estagnação legislativa, mas também ao descontentamento geral com a forma como o sistema político opera atualmente. A polarização é, sem dúvida, uma barreira difícil de superar. Os ex-legisladores observam que os dias em que era possível ter debates difíceis, mas ainda assim ser produtivo, estão em um estado de declínio. O que se espera de senadores e representantes, que outrora eram percebidos como figuras de respeito, agora parece estar escondido sob o peso da amargura política e dos desafios diários de se manter relevante em um ambiente tão hostil.
À medida que o debate sobre a funcionalidade do Congresso continua, e um número recorde de legisladores se afastam, a pergunta sobre o futuro da política americana se torna cada vez mais pertinente. Se o Congresso não conseguir reviver sua essência, a gestão entre os poderes poderá se deteriorar, resultando em um governo que não só está em coma, mas que pode se ver incapaz de despertar para uma nova era de governança. As alusões a um sistema que caminha para o autoritarismo são populares entre os críticos, e isso exige um exame sério e urgente sobre o futuro do governo e da democracia nos Estados Unidos. O que, então, será necessário para que o Congresso possa retornar à sua condição de um corpo legislativo vibrante e funcional? A resposta a essa pergunta pode determinar se a República americana conseguirá superar o que, atualmente, parece ser um estado de letargia legislativa e desespero político.
Fontes: NPR, Washington Post, The Hill
Detalhes
Jim Cooper é um ex-representante democrata dos Estados Unidos, que atuou na Câmara dos Representantes por 32 anos. Ele é conhecido por suas opiniões sobre a política americana e frequentemente comenta sobre a necessidade de reformas no Congresso, alertando sobre a polarização e a estagnação legislativa.
Barbara Comstock é uma ex-representante republicana dos Estados Unidos, que serviu na Câmara dos Representantes. Atualmente, ela é presidenta da Associação de Ex-Membros do Congresso e é vocal sobre os desafios que o Congresso enfrenta, especialmente em relação à polarização política e à falta de cooperação entre os legisladores.
Resumo
A situação atual do Congresso dos Estados Unidos tem gerado preocupações entre ex-legisladores e analistas políticos. Jim Cooper, ex-representante democrata, alertou que "o Congresso está em coma", refletindo a percepção de que a Câmara se afastou de sua função principal de legislar. Com um recorde de aposentadorias antes das eleições de meio de mandato, a estagnação legislativa é evidente. Barbara Comstock, ex-representante republicana, destacou que a polarização extrema e um ambiente hostil estão levando à saída de políticos que não veem mais a instituição como funcional. A divisão no Partido Republicano, com representantes temendo se opor a Trump, também complica a situação. A falta de ação legislativa é exacerbada por eleitores que parecem preferir discursos políticos em vez de melhorias concretas em suas vidas. À medida que o debate sobre a funcionalidade do Congresso avança, a preocupação com o futuro da política americana se intensifica, levantando questões sobre a capacidade do sistema de freios e contrapesos de operar efetivamente.
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