16/12/2025, 18:47
Autor: Laura Mendes

A figura de Catherine Deshayes, também chamada de "La Voisin", é um dos muitos exemplos que ilustram a hostilidade enfrentada por mulheres durante os séculos de inquisições e caça às bruxas na Europa. La Voisin, que viveu entre 1640 e 1680, se destacou em um cenário de injustiças sociais e religiosas, onde sua prática como parteira e abortista a colocou no centro de um dos mais notórios escândalos de feitiçaria da história da França, conhecido como o "Affair of the Poisons".
No final do século 17, o clima de desconfiança e paranoia em relação a práticas ocultas e a feitiçaria estava em alta. Com a igreja católica estabelecendo uma posição unilateral contra tudo que considerasse "herético", a sociedade se tornava um terreno fértil para acusações infundadas, e qualquer mulher que destoasse dos padrões sociais ou religiosos podia se encontrar nas garras da condenação. Isso foi particularmente evidente em casos em que mulheres da classe mais baixa, como La Voisin, transitaram entre cuidar da saúde reprodutiva das mulheres e serem acusadas de envenenamento e feitiçaria.
O "Affair of the Poisons" começou quando a polícia de Paris, sob o comando do tenente de polícia Nicolas-Gabriel de la Reynie, iniciou investigações sobre uma rede de alquimistas, falsificadores e envenenadores em 1677. O que parecia, à primeira vista, um simples caso de crime organizado, logo se entrelaçou com a nobreza e os escândalos da corte francesa. La Voisin emergiu como uma figura central, seus negócios secretos prosperando em um mundo onde o desejo e o medo coexistiam. Ela fornecia não apenas serviços de quiromancia, mas também abortos, algo ilegal à época, sendo que muitos dos seus clientes eram aristocratas em busca de soluções discretas para suas vidas secretas.
Essas práticas, embora vistas com desprezo por grande parte da sociedade, também revelavam a vulnerabilidade das mulheres em uma época em que a autonomia sobre o próprio corpo era frequentemente negada. La Voisin, assim como muitas mulheres na história, utilizava os poucos meios que tinha para sobreviver em uma sociedade que recompensava homens e punia mulheres com severidade, resultando em sua varredura para a história como uma vilã.
O fato de que algumas das primeiras referências ao aborto como prática de risco são vinculadas a figuras femininas como La Voisin não é casual. Isso levanta questões contemporâneas sobre o acesso à saúde reprodutiva, com ecos do passado ressoando nas lutas modernas por direitos das mulheres, especialmente em tempos onde questões semelhantes de controle sobre os corpos femininos continuam a ser debatidas. Ao refletirmos sobre a vida e a morte de La Voisin, é vital reconhecer a intersecção entre gênero, poder e a luta histórica contra a opressão.
O destino de Catherine Deshayes culminou tragicamente em 1680, quando, após as investigações que revelaram sua prática de feitiçaria e envenenamento, ela foi queimada na fogueira aos 40 anos. A sua história é não apenas um reflexo de uma época de extremismos, mas também uma poderosa recordação sobre as consequências da criminalização do corpo feminino e das tentativas de controlar a sexualidade e a reprodução.
No século atual, essa narrativa volta a se acentuar, pois, com o aumento das discussões sobre direitos reprodutivos e a criminalização de serviços de saúde que buscam atender a necessidades das mulheres, o ciclo da opressão e a busca por controle sobre corpos femininos parecem ressurgir. Assim, as lições do passado de La Voisin permanecem relevantes. Por meio de sua história, somos levados a uma reflexão profunda sobre o tratamento das mulheres na sociedade contemporânea, questionando se realmente aprendemos com nossos erros históricos ou se os ecos da injustiça ainda reverberam em nossas práticas atuais.
O caso de Catherine Deshayes se torna, portanto, um exemplo emblemático de que a luta pela igualdade de direitos e pela segurança reprodutiva deve ser uma prioridade contínua. Se La Voisin pôde ser tão impactante em sua época, indiscutivelmente, devemos assegurar que histórias como a dela não se repitam, explorando como a narrativa das mulheres na sociedade evolui e, ao mesmo tempo, ressignificando a luta pelos direitos das mulheres contemporaneamente.
Fontes: História, Folha de São Paulo, BBC, The Atlantic
Detalhes
Catherine Deshayes, conhecida como "La Voisin", foi uma parteira e abortista francesa do século 17, famosa por seu envolvimento no "Affair of the Poisons". Ela operou em um contexto de intensa perseguição a mulheres acusadas de feitiçaria, utilizando seus conhecimentos para atender a aristocratas em busca de serviços discretos. Sua execução em 1680, após ser condenada por feitiçaria, simboliza a opressão feminina da época e levanta questões sobre os direitos reprodutivos que ainda são relevantes hoje.
Resumo
Catherine Deshayes, conhecida como "La Voisin", é uma figura emblemática da opressão feminina durante os séculos de inquisições e caça às bruxas na Europa. Vivendo entre 1640 e 1680, ela se destacou no contexto de injustiças sociais e religiosas, sendo parteira e abortista, o que a levou a ser envolvida no notório "Affair of the Poisons". No final do século 17, a paranoia em relação à feitiçaria estava em alta, e mulheres que se desviavam dos padrões sociais eram frequentemente acusadas injustamente. La Voisin prosperou em um mundo de desejo e medo, oferecendo serviços clandestinos a aristocratas. Sua história ilustra a vulnerabilidade das mulheres em uma época de controle sobre seus corpos, culminando em sua execução em 1680, após ser acusada de feitiçaria. A narrativa de La Voisin ressoa com as lutas contemporâneas por direitos reprodutivos, levantando questões sobre o tratamento das mulheres na sociedade atual e a necessidade de garantir que histórias de opressão não se repitam.
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