01/10/2025, 13:30
Autor: Laura Mendes
A venda de bebidas alcoólicas falsificadas em bares e restaurantes no Brasil voltou ao centro das discussões após a queda de fiscalização em muitos estabelecimentos, revelando uma realidade alarmante que pode ter sérias consequências para a saúde pública. Recentemente, relatos de profissionais do setor revelaram que a prática de adquirir destilados de origem duvidosa, frequentemente comprados de "distribuidores de rua", é mais comum do que se imagina. O que deveria ser um comportamento ético e responsável na manipulação de bebidas acabou por se tornar um ato prejudicial, tanto para a saúde dos clientes quanto para a reputação dos próprios comerciantes.
Experiências compartilhadas por donos e funcionários de bares indicam que esse problema não é novo. Um ex-proprietário de bar, que operou um estabelecimento nos anos 90, relembrou que, na época, a adulteração de bebidas era uma prática comum. Ele relatou que, após realizar uma verificação em seu estoque, descobriu que 90% das bebidas que comprara eram falsas, o que resultou na inutilização de todo o estoque e na necessidade de reabastecimento a partir de fornecedores confiáveis. "Imaginem, no meu bar, as bebidas eram normais até a troca de proprietário, e eu acabei sendo enganado sem saber", contou. Isso demonstra que muitos comerciantes, em virtude da pressão da concorrência e da necessidade de aumentar a lucratividade, acabam recuando em seus princípios éticos.
A questão se complica ainda mais em uma era onde o turismo e as experiências noturnas são fundamentais para muitas cidades brasileiras, especialmente em períodos de alta temporada. Muitos subestimam a intenção de obter o melhor preço em bebidas destiladas e acabam comprometendo a segurança de seus clientes por um lucro rápido. Um proprietário de vários restaurantes em São Paulo compartilhou que mesmo distribuidoras conhecidas como Ambev têm sido acusadas de participar dessa prática, usando o jargão local de "bebidas batizadas". Isso significa que algumas bebidas vendidas sob rótulos de marcas renomadas podem, na realidade, ser misturadas ou até inteiramente compostas por substâncias de menor qualidade.
Além disso, existem relatos preocupantes sobre a fiscalização e o controle de qualidade que caíram drasticamente ao longo dos anos. Um bartender que atuou em um bar de balada mencionou que, após uma diminuição nos controles de fiscalização, um aumento no fornecimento de bebidas falsas se tornou evidente. A falta de regulação permite que criminosos operem livremente, colocando em risco a segurança alimentar e a saúde pública, especialmente quando se considera a possibilidade de enxertos perigosos como metanol em bebidas falsificadas. Adicionalmente, a venda à margem da lei torna-se uma prática competitiva, pois comerciantes menos responsáveis se aproveitam da situação.
A percepção pública sobre o que se é consumido está mudando também; consumidores estão cada vez mais conscientes e exigentes quanto à origem e à segurança dos produtos que consomem. A tendência de coquetelaria e drinks elaborados tem crescido, e muitos consumidores esperam que estabelecimentos que se prezam pela qualidade ofereçam apenas bebidas de procedência garantida.
O Ministério da Saúde e outros órgãos governamentais têm tentado aumentar a supervisão e a fiscalização nesse setor, mas a realidade é que a adesão dos comerciantes em seguir normas éticas nem sempre é garantida. Assim, a preocupação depende da ação conjunta entre comerciantes responsáveis e consumidores críticos. Para incentivar essa mudança, é fundamental que consumidores estejam atentos e se sintam à vontade para questionar a procedência das bebidas que consomem.
Diante da gravidade dessa situação, é crucial abordar o problema de forma abrangente, assegurando que educadores, instituições e o próprio governo tomem as medidas necessárias para proteger tanto os consumidores quanto a integridade do setor. Isso envolve desde o fortalecimento de legislações até campanhas de conscientização que incentivem um consumo responsável e a denúncia de práticas ilegais. O caminho a seguir exige não apenas uma postura ética dos empresários, mas também um engajamento ativo da sociedade, que deve exigir padrões mais elevados de eficácia e segurança em todos os aspectos do comércio de bebidas alcoólicas. A luta contra a falsificação de bebidas deve ser uma prioridade não apenas para o bem da saúde pública, mas também para a construção de um mercado mais justo e responsável.
Fontes: Folha de São Paulo, O Estado de S. Paulo, Agência Brasil, G1, Ministério da Saúde
Resumo
A venda de bebidas alcoólicas falsificadas em bares e restaurantes no Brasil se tornou um tema preocupante, especialmente devido à queda na fiscalização. Profissionais do setor relataram que a prática de adquirir destilados de origem duvidosa, frequentemente de "distribuidores de rua", é mais comum do que se imagina. Um ex-proprietário de bar revelou que, em sua experiência nos anos 90, 90% das bebidas que comprou eram falsas, destacando a pressão que comerciantes enfrentam para aumentar a lucratividade. A situação é agravada pela crescente demanda turística e pela falta de fiscalização, permitindo que criminosos operem livremente. A venda de bebidas adulteradas pode comprometer a saúde pública, com riscos como a presença de metanol. Apesar dos esforços do Ministério da Saúde para melhorar a supervisão, a adesão dos comerciantes a normas éticas é incerta. A conscientização dos consumidores sobre a origem dos produtos é essencial, e a luta contra a falsificação deve ser uma prioridade para garantir a saúde pública e um mercado justo.
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