Argentina italianiza o espanhol mas não torna italiano língua oficial

Em meio à forte presença italiana na Argentina, o italiano não é reconhecido como língua oficial, mesmo com sua influência no espanhol falado.

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04/10/2025, 20:41

Autor: Laura Mendes

Uma colagem vibrante representando a influência da cultura italiana na Argentina, com imagens de pratos típicos como pizza e pasta, dançarinos de tango celebrando, e uma mistura de pitorescas paisagens urbanas argentinas e a bandeira da Itália. A peça deve evocar um sentimento de celebração e integração cultural entre as duas nações.

Em um debate que traz à tona a rica tapeçaria cultural da Argentina, a questão da oficialização do italiano como língua juntamente ao espanhol levanta reflexões sobre a história da imigração e identidade linguística do país. A Argentina não apenas recebe uma considerável influência cultural italiana, mas também anseia pela integração de uma das comunidades imigrantes mais significativas que se estabeleceram em seu solo. O diálogo acerca da língua oficial é, portanto, um tema que explora não apenas a linguagem, mas a própria estrutura social e histórica do país.

Historicamente, a imigração italiana teve seus grandes fluxos a partir de 1880, em um período em que a Argentina buscava pacificação após décadas de instabilidade interna. Como consequência dessa pacificação, surgiu um ambiente favorável à recepção de imigrantes. A política de educação pública secular que se estabeleceu era um fator determinante, pois, independentemente de suas origens da Itália, Espanha ou França, todos eram incentivados a aprender e a falar espanhol. Essa política visava consolidar uma língua comum entre a população, e resultou na formação do que hoje é conhecido como espanhol rioplatense, um dialeto que mescla elementos do espanhol com influências de várias línguas, incluindo o italiano.

É importante destacar que a Argentina dos séculos XIX e XX viu a chegada de cerca de 3,5 milhões de italianos em um período de cem anos. Esses imigantes, ao chegarem, falavam dialetos locais, como lombardo, genovês e siciliano, uma vez que a unidade linguística italiana só começou a se solidificar após a unificação do país em 1871. Tal fato implica que muitos destes primeiros imigrantes não falavam o italiano padronizado, mas suas próprias variantes linguísticas, o que certamente contribuiu para a difusão do espanhol influenciado pelo italiano e pela notável interpenetração de culturas.

Além disso, a condição social dos imigrantes e as suas percepções dentro da nova sociedade exerceram impactos significativos sobre a aceitação e o uso da língua. Comumente vistos como representantes de classes sociais menos favorecidas, a língua que falavam não possuía o mesmo prestígio que o espanhol, consolidando ainda mais a sua adaptação ao novo contexto. Essa dinâmica fez com que, em muitas situações, o seu aprendizado do espanhol fosse mais rápido, queimando os estágios de inserção linguística e social. É interessante considerar que hoje, mesmo com 60% da população argentina afirmando ter ascendência italiana, a influência do italiano é reconhecida, mas muitas vezes obscura em meio ao uso predominante do espanhol.

A proposta de adotar o italiano como língua oficial encerra questionamentos sobre o que significa especificamente ter uma língua oficial. O argentino não nega a presença e a importância do italiano; no entanto, é preciso entender que a língua oficial refere-se àquela utilizada para as leis, documentos e comunicações formais. Como tal, a Constituição e as legislações do país estão deveras estabelecidas em espanhol, e, portanto, não há necessidade de reconhecimento formal de outra língua. Assim, um italiano falante conviverá em grande parte em um mundo hispano, o que potencializa a fusão linguística e cultural que caracteriza a Argentina.

Este contexto cultural traz à tona comparações com outras diásporas e contextos. Como discutido por alguns comentários, situações em outros países, como os Estados Unidos, também demonstram a complexidade da oficialização de línguas em sociedades pluriétnicas. Apesar da significativa população hispânica nos EUA, o espanhol não é considerado uma língua oficial, assim como o italiano na Argentina.

Por fim, a questão da língua e identidade na Argentina não se limita ao reconhecimento formal, mas à dinâmica social do convívio, à adaptação e à interconexão entre diferentes culturas que moldam o espírito argentino. A mescla de sotaques, a comida, a arte e a música são expressões vivas de que, independentemente do status oficial do italiano, ele permanece como uma parte vibrante e indissociável da vida cotidiana e da identidade multicultural do país. A discussão sobre a língua manifesta, assim, um espectro mais profundo de como as sociedades compreendem e integram suas diversas heranças culturais, criando um mosaico que continua a evoluir com o passar do tempo.

Fontes: Folha de São Paulo, El Clarín, BBC Brasil

Resumo

A proposta de oficializar o italiano como língua na Argentina destaca a rica herança cultural do país e a influência significativa da imigração italiana. Desde 1880, a Argentina recebeu cerca de 3,5 milhões de italianos, que trouxeram consigo diversos dialetos. A política de educação pública incentivou a aprendizagem do espanhol, resultando na formação do espanhol rioplatense, um dialeto que mescla o espanhol com influências italianas. Apesar de 60% da população afirmar ter ascendência italiana, o uso do italiano permanece obscuro em meio ao predominante espanhol. A discussão sobre a língua oficial levanta questões sobre identidade e convivência multicultural, refletindo dinâmicas sociais e a interconexão entre diferentes culturas. Assim, a questão da língua na Argentina transcende o reconhecimento formal, revelando a complexidade da identidade cultural e a evolução contínua do mosaico social argentino.

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