06/12/2025, 14:42
Autor: Laura Mendes

Nos últimos dias, a Arábia Saudita tem atraído a atenção internacional com sua nova e polêmica abordagem sobre a venda de bebidas alcoólicas. A introdução da permissão para que estrangeiros não muçulmanos com visto de residência premium possam comprar álcool em território saudita representa um passo significativo na transformação cultural e social do país. Essa mudança pode não apenas indicar um novo capítulo na experiência de vida no Reino do Golfo, mas também levanta questões sobre as desigualdades entre as classes sociais na nação.
Historicamente, a Arábia Saudita é conhecida por suas rígidas normas religiosas e sociais, que proíbem a venda e o consumo de álcool. No entanto, como parte dos esforços de modernização e diversificação econômica promovidos pelo príncipe herdeiro Mohammed bin Salman, o país está tentando reformular sua imagem ao exterior e atrair turistas e investidores. Com a flexibilização de certas normas, o governo espera estimular o turismo e criar um ambiente mais convidativo para cidadãos estrangeiros de alto poder aquisitivo.
Os novos regulamentos sobre o consumo de bebidas alcoólicas foram recebidos com uma mistura de ceticismo e entusiasmo. Em vários comentários, as pessoas refletem sobre as nuances sociais e os privilégios no acesso ao álcool na Arábia Saudita. Indivíduos ricos e não-muçulmanos agora têm a possibilidade de adquirir bebidas em lojas específicas, onde antes essas opções ficavam restritas apenas a diplomatas e algumas autoridades. Esse acesso é garantido a aqueles que mantêm um status elevado dentro da sociedade, o que contribui para a percepção de uma luta de classes existente no país.
Muitas respostas ressaltam a contradição entre a proibição religiosa e as práticas dos ricos, sugerindo que a liberalização do consumo de álcool é uma questão menos sobre ideais religiosos e mais sobre status socioeconômico. Enquanto os estrangeiros têm a oportunidade de saborear bebidas finas e frequentar eventos sociais que incluam álcool, os cidadãos sauditas em geral ainda são restringidos a um estilo de vida sóbrio e conservador. Essa desigualdade de direitos perante a lei evoca questionamentos sobre a justiça social e a alienação cultural.
Comentários divertidos, ao mesmo tempo irônicos, reconhecem que enquanto um número crescente de estrangeiros se aprofunda no consumo de bebidas alcoólicas na Arábia Saudita, a elite local contorna as normas de maneiras igualmente divertidas. Informações sobre bares privados em residências de príncipes sauditas ou referências a viagens frequentes a outros países do Golfo onde o álcool é permitido mostram que o vinho e as bebidas destiladas sempre estiveram acessíveis para aqueles que podem pagar. Assim, a nova política pode ser vista como uma mera formalização de uma prática que já existia em uma escala menor.
A visão de progresso é apresentada de forma cômica em vários comentários, onde as pessoas sugerem que a possibilidade de consumo de álcool poderia até mesmo ajudar a suavizar as críticas sobre os direitos humanos no país. Mas a ironia ressalta também a falta de igualdade de acesso a esses novos direitos. A menção ao slogan de turismo que brinca com a ideia de um minoritariamente "libertado" consumo de álcool demonstra uma consciência crítica sobre as contínuas violações dos direitos humanos e a manipulação cultural que ainda caracterizam o reino.
Entretanto, essa mudança não passa sem críticas. Muitas conversas dentro da comunidade internacional ecoam preocupações sobre as implicações de um turismo que ignora as variadas e profundas questões de direitos humanos que ainda persistem. A abertura controlada da Arábia Saudita para o álcool pode ser vista como um movimento opressor disfarçado de liberalização, onde a verdadeira liberdade permanece restrita a um grupo privilegiado.
Assim, enquanto a Arábia Saudita se preocupa em apresentar uma nova imagem ao mundo, a sociedade lutará com os dilemas que surgem dessa nova realidade em um país onde religião e classe ainda moldam profundamente a experiência de vida. A venda de álcool para ricos estrangeiros pode simbolizar uma mudança, mas o desafio de garantir igualdade de direitos e liberdades continua a ser uma questão complexa e delicada. A mudança nos hábitos de consumo e a maneira como ela reflete a hierarquia social no reino ainda teem um longo caminho a percorrer antes que a verdadeira reforma se alcance.
Fontes: Folha de São Paulo, BBC News, Al Jazeera
Detalhes
A Arábia Saudita é um país localizado na Península Arábica, conhecido por sua rica história, cultura e significância religiosa, sendo o berço do Islã. Desde a ascensão do príncipe herdeiro Mohammed bin Salman, o país tem buscado diversificar sua economia e modernizar sua imagem internacional, promovendo reformas sociais e econômicas, incluindo a abertura ao turismo e a liberalização de certas normas sociais.
Resumo
Nos últimos dias, a Arábia Saudita tem chamado a atenção internacional ao permitir que estrangeiros não muçulmanos com visto de residência premium comprem bebidas alcoólicas no país. Essa mudança, parte dos esforços de modernização do príncipe herdeiro Mohammed bin Salman, representa um novo capítulo na experiência de vida saudita, mas também levanta questões sobre desigualdades sociais. Historicamente, a Arábia Saudita é conhecida por suas rígidas proibições relacionadas ao álcool, mas a nova política visa atrair turistas e investidores, criando um ambiente mais acolhedor para cidadãos estrangeiros de alto poder aquisitivo. No entanto, essa liberalização é vista com ceticismo, já que apenas os ricos e não-muçulmanos têm acesso a essas novas permissões, enquanto a maioria dos cidadãos sauditas continua restrita a um estilo de vida conservador. A mudança suscita críticas sobre a justiça social e os direitos humanos, destacando a contradição entre a proibição religiosa e o consumo de álcool por elites privilegiadas. Assim, a Arábia Saudita enfrenta o desafio de equilibrar sua nova imagem com as complexas questões sociais que persistem.
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