06/12/2025, 16:15
Autor: Laura Mendes

A presença de sistemas de aquecimento e ar condicionado nas residências latino-americanas revela muito mais do que apenas uma preocupação com o conforto. Esses aparelhos são reflexos das disparidades econômicas, culturais e climáticas que permeiam a região. Embora a tecnologia tenha avançado e se tornado cada vez mais acessível, a realidade é que a quantidade de casas equipadas com esses sistemas varia consideravelmente, dependendo da localidade e das condições sociais dos habitantes.
Na Argentina, por exemplo, a necessidade de aquecimento ou refrigeração difere significativamente de uma região para outra. Enquanto cidadãos em Buenos Aires, uma cidade que experimenta verões quentes e invernos frios, frequentemente optam por ter tanto aquecedores quanto ar condicionados, em áreas mais ao sul, como na Patagônia, as temperaturas podem demandar sistemas de aquecimento robustos. Porém, muitos habitantes ainda utilizam lareiras tradicionais, que, embora eficientes, podem ser um indicativo de hábitos entranhados que vão além da simples necessidade de conforto térmico.
Na América do Sul, o consumo de energia é uma preocupação crescente. O custo elevado da eletricidade para operar sistemas de ar condicionado leva muitos a resistir ao uso desses aparelhos, especialmente em países como o Brasil, onde menos de 20% das residências possuem um aparelho de ar condicionado, sendo que muitos dos que o possuem não o utilizam regularmente por questões financeiras. A resistência ao uso de ar condicionado, mesmo em climas quentes, revela uma complexidade nas decisões das famílias, onde muitas optam por métodos mais tradicionais de resfriamento, como ventiladores, que são mais acessíveis.
No Paraguai, a realidade é igualmente complexa. A maioria da população não tem acesso a aquecedores adequados, uma vez que a infraestrutura de isolamento térmico ainda é deficiente. Durante os picos de calor, algumas cidades chegam a registrar temperaturas próximas de 50°C, forçando as famílias a buscarem alívio em sistemas de ar condicionado, que a classe média é capaz de financiar, mas que nas camadas mais baixas é um luxo inatingível. Isso evidencia a luta por um equilíbrio entre conforto e a realidade econômica em um dos países mais pobres da região.
Além disso, o custo de vida e a renda familiar têm um impacto direto na disponibilidade e no uso de sistemas de climatização. Nos centros urbanos, onde a densidade populacional é maior, soluções de ar condicionado se tornam mais comuns, sendo encontradas frequentemente em condomínios ou escritórios, enquanto em áreas rurais a acessibilidade continua a ser um obstáculo significativo. O contraste entre os habitantes das cidades e das zonas rurais não se limita à capacidade financeira, mas também inclui hábitos e costumes que moldam a vida diária.
As preferências por climatização estão mudando lentamente, especialmente com o aumento das temperaturas ao longo dos anos. Em Lima, por exemplo, o clima ameno que predominava nas últimas décadas tem sido afetado por um aumento na temperatura média, levando muitos residentes a considerar a instalação de sistemas de ar condicionado, mesmo que ainda seja uma porcentagem baixa.
Além das disparidades entre países, o próprio clima dentro dos países apresenta um mosaico de necessidades térmicas diversas. No México, habitantes de regiões desérticas ou tropicais dependem bastante do ar condicionado, enquanto outras áreas, com temperaturas mais moderadas, não possuem a mesma necessidade. Isso inclui um impacto significativo na forma como a população consome energia e como se adapta às mudanças climáticas.
Essas variações no uso de aquecimento e ar condicionado não só refletem condições climáticas, mas também as profundas desigualdades dentro de cada país. A presença apenas de dispositivos de aquecimento em áreas mais frias, enquanto nas mais quentes o uso de ar condicionado é priorizado, evidencia como a infraestrutura e o planejamento urbano não abraçam uma abordagem unificada, mas são moldados por fatores históricos e sociais.
O debate sobre a melhor forma de enfrentar as variações climáticas e proporcionar conforto em casa é um desafio ainda enfrentado por muitos. Fica claro que tanto o aquecimento quanto o ar condicionado são mais do que funcionalidades em uma casa; são elementos que revelam a condição de vida e a capacidade de adaptação de sociedades inteiras ao longo do tempo, onde as escolhas são muitas vezes limitadas pelas circunstâncias econômicas, culturais e sociais. O futuro do conforto térmico nas residências latino-americanas ainda é incerto, mas reflete a própria essência da luta por qualidade de vida em um continente diversificado e desigual.
Fontes: Jornal do Brasil, Folha de São Paulo, BBC News, Climatempo
Resumo
A presença de sistemas de aquecimento e ar condicionado nas residências da América Latina reflete disparidades econômicas, culturais e climáticas da região. Na Argentina, a necessidade desses aparelhos varia, com Buenos Aires exigindo tanto aquecedores quanto ar condicionados, enquanto na Patagônia, lareiras tradicionais ainda são comuns. No Brasil, menos de 20% das casas possuem ar condicionado, e muitos optam por ventiladores devido ao alto custo da eletricidade. No Paraguai, a falta de aquecedores adequados e o acesso limitado a ar condicionado evidenciam a luta entre conforto e realidade econômica. A situação é semelhante em outros países, como o México, onde as necessidades térmicas variam conforme a região. Essas variações não apenas refletem condições climáticas, mas também desigualdades sociais e econômicas. O debate sobre como enfrentar essas variações climáticas e garantir conforto em casa é um desafio contínuo, revelando a luta por qualidade de vida em um continente diversificado.
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